sexta-feira, 8 de outubro de 2010

FRANCISCO DE ASSIS - O SEGUNDO CRISTO

Aqui a imagem a qual tive licença da autora para utilizar como inspiração para o grupo.
Futuramente o que irá representar A Casa
Sempre quis escrever sobre este que para mim só "perde" para o Mestre. Sempre tive uma "loucura" pela história da vida de Jesus - talvez por ter estado no caminho quando ele passou e pude ver (será? e não me lembro?) sua imagem. A questão é que Francisco sempre esteve presente em minha vida, no inicio não entendia as coincidências depois ao saber que este era um dos meus mentores, assim como Bezerra de Menezes, entedi. Assim, percebia, a cada passo, nos anos  passados, porque a figura tão singela e marcante de Francisco me acompanhava neste meu caminhar, nesta minha vida. Com a Apometria e a descoberta da mediunidade, pude ecompreender mais ainda.
Abaixo começo a descever os passos e um pouco da história deste ser fantástico ser que muito me inspira.
Boa leitura. O texto foi retirado do excelente site - http://www.ibbis.org.br/.



O HOMEM


A coletânea da editora Vozes indica que o nascimento de Francisco de Assis teria se dado entre 1181 e 1182 em Assis, na Itália, entre junho e dezembro. Miramez pela mediunidade de João Nunes Maia (Miramez, Francisco de Assis, Nasce Francisco, p.143), precisa que o nascimento ocorrera em 26 de setembro de 1182. Miramez descreve o acontecimento e relata fato importante que envolve a mãe de Francisco : “E Maria Picallini recebeu o seu filho das mãos de Jarla, como o maior prêmio que a vida lhe conferiu, nos horizontes da Terra, cobrindo o seu rostinho de beijos de todas as naturezas. Dir-se-ia que o coração classificara os afetos no calor das virtudes que ela possuía. E falou com a maior ternura que uma mãe feliz possa expressar:

 O nome dele é JOÃO...” (Miramez, Francisco de Assis, Nasce Francisco, p.145)

Neste instante de extrema emoção a mãe de Francisco sentira que aquela criança era reencarnação de João Evangelista. Em italiano Giovanni é o mesmo nome João, e a mãe daquele santo percebera intuitivamente que se tratava do mesmo espírito, e quis manter o nome. Contudo, o pai de Francisco, Pedro Bernardone, não aprovava a escolha e, utilizando-se de sua autoridade paterna, exigiu que a criança fosse chamada de Francisco. A vontade do pai prevaleceu.

Miramez traz extensa explicação sobre esta questão, indicando que o autor do livro “Apocalipse” da Bíblia, João Evangelista, apóstolo do Nazareno, é o mesmo Francisco de Assis. A nobreza de alma destes dois personagens é compatível, e tanto o Evangelista quanto Francisco desempenharam grande missão na Terra.

Originário de família abastada, filho de um comerciante rico, até os 25 anos de idade viveu para o mundo, desfrutando alegremente os bens materiais e a posição social que sua família possuía.

Na coletânea “São Francisco de Assis”, encontramos Tomás de Celano explicando estes acontecimentos: "Nesses tristes princípios foi educado desde a infância o homem que hoje veneramos como santo, porque de fato é santo. Neles perdeu e consumiu miseravelmente o seu tempo quase até os vinte e cinco anos. Pior ainda: superou os jovens de sua idade nas frivolidades e se apresentava generosamente como um incitador para o mal e um rival em loucuras. Todos o admiravam e ele procurava sobrepujar aos outros no fausto da vanglória, nos jogos, nos passatempos, nas risadas e conversas fúteis, nas canções e nas roupas delicadas e flutuantes. Na verdade, era muito rico, mas não avarento, antes pródigo; não ávido de dinheiro, mas gastador; negociante esperto, mas esbanjador insensato. Mas era também um homem que agia com humanidade, muito jeitoso e afável, embora para seu próprio mal”. (São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 1, p. 180)

Durante vários anos assim viveu, entregue à alegria das frivolidades do mundo, despreocupado de outras questões. Este estado não perdurou por muito tempo. Acometido de séria enfermidade, Francisco se vê prostrado na cama a refletir a respeito de sua vida e de seus hábitos. Quando se recupera da doença e sai novamente pela via pública tudo lhe parece diferente.

As paisagens que o atraiam, as vinhas que o encantavam, a alegria insensata que lhe acompanhava sempre, tudo isso havia desaparecido. O jovem havia mudado, e passou a considerar como loucos aqueles que apreciavam estas coisas. A partir deste momento o duelo se instala no coração de nosso personagem. Inquieto pelos desejos que ainda habitavam sua alma, e que agora não mais lhe pareciam corretos, Francisco se alista para participar de uma guerra onde um nobre de sua cidade se armava para atacar a Apúlia. Quando se preparava para o seu projeto teve um sonho. Viu-se em uma sala repleta de armas, e concluiu que todas elas seriam dele e de seus soldados.

Em meio a tão doloroso conflito, apesar de ainda desejar ir à guerra, sua alegria não era mais como antes. A vida havia perdido seu frescor juvenil, e as coisas do mundo não mais lhe agradavam. Logo após, desiste de ir à batalha. Aos poucos, foi se isolando dos negócios e interesses da sociedade, retraindo-se em pensamento e reflexão passava cada vez mais a sentir uma motivação diferente, algo que ainda não sabia o que era:  “Sustentava em sua alma uma luta violenta e não conseguia parar enquanto não realizasse o que tinha resolvido em seu coração. Pensamentos muito variados entrecruzavam-se nele, importunando- o e perturbando-o duramente. Ardia interiormente pela chama divina e não conseguia esconder por fora o ardor de sua alma. Doía-lhe ter pecado tão gravemente e ofendido os olhos da majestade de Deus. Os pecados do passado ou do presente já não o agradavam. Mas ainda não tinha recebido a plena confiança de poder evitá-los no futuro”. (São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 3, p.184)

Após passar por duros dilemas internos, Francisco enxerga qual é a sua missão. Ir para a guerra já não lhe atrai, o seu coração havia sido tocado por uma força estranha e irresistível. Passou a se comportar de forma diversa à de costume, e seus amigos e familiares não entendiam o que lhe havia acontecido. Quando lhe perguntavam o que se passara, respondia assim: “Vou me casar com uma noiva tão nobre e tão bonita como vocês nunca vão ver, que ganha das outras em beleza e supera a todas em sabedoria”.(São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 3, p. 184). E realmente com ela se casou. Renovou toda a sua vida, morreu para o mundo e abraçou os princípios Cristãos como método de vida.

Seu pai era um comerciante muito abastado e extremamente materialista. Nestes valores, educou Francisco, que seguiu os passos de seu genitor até encontrar sua transformação. Quando muda radicalmente seus hábitos, provoca nas pessoas à sua volta estranheza e desconfiança. Não entendiam como um jovem esbanjador poderia tão rapidamente se transformar em um homem redimido, voltado para o chamado de Deus.

Chamavam-no de louco e demente, e atiravam nele pedras e lama nas praças. Seu pai engrossava o coro de insultos. Revoltado pelo fato de o filho não lhe seguir os passos, arrasta Francisco violentamente para casa e prende-o em local escuro da residência. Desejava por todos os meios provocar no filho a desistência aos ideais que este havia escolhido. Como não conseguisse seu intento, passa a açoitar o garoto. Nada disso teve o poder de desanimar Francisco.

Sua mãe, no entanto, era portadora de uma docilidade acolhedora. Vendo o sofrimento do filho procurou persuadi-lo a mudar de hábito, mas estava claro que ele não o faria. Ao constatar este fato, a mãe decide desobedecer a seu marido e solta o filho do cativeiro, libertando-o. Seu pai não se conformou, e quis retirar de Francisco tudo o que ele possuía. Levou-o ao bispo, intentando formalizar a renúncia à fortuna. Francisco não se embaraçou com a situação. Já que o pai pretendia deixá-lo sem nada, apressou-se o filho para atender ao desejo do genitor. Francisco pôs-se nu diante de todos, inclusive do bispo, como sinal claro de que não desejava a fortuna do pai nem a aprovação de quem quer que fosse.

Seus votos já estavam feitos. Sabia qual era sua missão: casar-se com a pobreza e servir o Cristo. Contudo, os conflitos interiores não haviam desaparecido. Francisco pessoalmente relata o seu sofrimento: “Como estivesse ainda em pecado, parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos, mas o Senhor me conduziu para o meio deles e eu tive misericórdia com eles”. (São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 7, p.191)

Superando suas resistências íntimas cuidou amorosamente dos deformados da carne e do espírito, superando a si mesmo a cada dia que passava. Certa vez, agindo contrariamente ao que tinha se habituado a realizar, Francisco tratou mal um pobre que lhe pedia esmolas. Passado o evento, arrependeu-se de seu desprezo, prometendo nunca mais negar ajuda aos sofredores, o que cumpriu exemplarmente. Dia a dia tinha que vencer a si mesmo, procurando dedicar-se à obra Divina, mas constantemente tentado pelas imperfeições humanas.


O APÓSTOLO

A missão de Francisco foi bela e apresentava objetivos específicos. Mais do que se entregar à pobreza e viver para Cristo, foi lhe dada a tarefa de educar pelo exemplo. Quando desce à Terra, enviado por Jesus, o cenário religioso que encontra é lamentável. Emmanuel pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier explica que a espiritualidade maior, antevendo os projetos da Igreja Católica em estabelecer a Inquisição na Terra, envia Francisco de Assis como antídoto a este mal:

“Os apelos do Alto continuaram a solicitar a atenção da Igreja romana em todas as direções”. As chamadas “heresias” brotavam por toda parte onde houvesse consciências livres e corações sinceros, mas as autoridades do Catolicismo nunca se mostraram dispostas a receber semelhantes exortações.

Havia terminado, em 1229, a guerra contra os hereges, cujos embates atravessaram o espaço de vinte anos, quando alguns chefes da Igreja consideraram a oportunidade da fundação do tribunal da penitência, cujos projetos de há muito preocupavam o pensamento do Vaticano.

Mascarar-se-ía o cometimento com o pretexto da necessidade de unificação religiosa, mas a realidade é que a instituição desejava dilatar o seu vasto domínio sobre as consciências.

Todavia, se a Inquisição preocupou longamente as autoridades da Igreja, antes da sua fundação, o negro projeto preocupava igualmente o Espaço, onde se aprestavam providências e medidas de renovação educativa. Por isso, um dos maiores apóstolos de Jesus desceu à carne com o nome de Francisco de Assis. Seu grande e luminoso espírito resplandeceu próximo de Roma, nas regiões da Úmbria desolada. Sua atividade reformista verificou-se sem os atritos próprios da palavra, porque o seu sacerdócio foi o exemplo na pobreza e na mais absoluta humildade. A Igreja, todavia, não entendeu que a lição lhe dizia respeito e, ainda uma vez, não aceitou as dádivas de Jesus”. (Emmanuel, A Caminho da Luz, Cap. XVIII, p.159)


Para Emmanuel, Francisco de Assis teve uma missão de advertir a Igreja dos efeitos nefastos de seus propósitos, e cumpriu sua missão fielmente, atendendo ao chamado Crístico. E com esta vibração inicia sua vida apostólica.

Certa vez, fez uso de várias peças valiosas de sua família e as vendeu na cidade de Foligno. Ao retornar para Assis, sua cidade natal, no meio do caminho encontra uma Igreja muito antiga, ruindo aos pedaços. Tratava-se de um templo erguido em homenagem a São Damião. Lá dentro encontrava-se um sacerdote pobre que cuidava da Igreja. Francisco beijou suas mãos e pediu para ali morar. O sacerdote estranhou a disposição do jovem, pois já havia visto Francisco em seus devaneios mundanos pouco tempo atrás. O líder religioso decide não aceitar o dinheiro, mas consente que o jovem de Assis venha morar no templo religioso. Convicto de sua missão, Francisco joga pela janela a farta quantia em dinheiro que havia recebido, desprezando-a como se nada fosse. A partir deste episódio ocorre sua aproximação com a igreja, seu apostolado estava iniciado.

Convencido de seu compromisso, decidiu restaurar a igreja de São Damião. Com suas próprias mãos reergueu a casa de Deus, conferindo-lhe nova expressão. Neste local foi fundada mais tarde a Ordem das Senhoras Pobres e Santas Virgens, aproximadamente seis anos após a conversão de Francisco.

Não satisfeito, o apóstolo continuou seu trabalho. Mudou-se para outra cidade, reformando com o mesmo entusiasmo outra igreja. Em seguida foi a Porciúncula, onde havia um templo cristão dedicado a Nossa Senhora que estava completamente abandonado. Reformou-o da mesma forma, trabalhando arduamente. Passou a vestir-se com um hábito de ermitão amarrado com uma correia e andava com um bastão.

Concluída a sua tarefa de reforma das igrejas, decidiu iniciar longo trabalho de pregação, com o objetivo de auxiliar os irmãos que se encontravam em erro.

Tomás de Celano descreve:

“Depois disso, começou a pregar a todos a penitência, com grande fervor de espírito e alegria da alma, edificando os ouvintes com a linguagem simples e a nobreza de coração. Sua palavra era um fogo ardente que penetrava o íntimo do coração e enchia de admiração todas as inteligências. Parecia todo transfigurado, e olhando para o céu desdenhava ver a terra. (...) Em todas as pregações, antes de propor aos ouvintes a palavra de Deus, invocava a paz dizendo: “O Senhor vos dê a paz”. Anunciava-a sempre a homens e mulheres, aos que encontrava e aos que lhe iam ao encontro. Dessa forma, muitos que tinham desprezo à paz, como também à salvação, pela cooperação do Senhor abraçaram a paz de todo o coração, fazendo se também eles filhos da paz, desejosos da salvação eterna”. (São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 10, p. 195)

Seu poder de transformar as almas era imenso e falava na terra vendo as belezas do céu. Sedento por divulgar as maravilhas que tinha experimentado, Francisco resolve angariar irmãos para ajudá-lo na tarefa de divulgação do Cristianismo.

Assim foram chegando irmãos de paz para auxiliá-lo em sua missão. Dentre eles, encontrava-se Frei Bernardo, companheiro que se tornaria exemplo de devoção. Quando ele começou a conviver com Francisco percebeu a existência de uma força poderosa que acompanhava o novo apóstolo do Cristo. A partir de então, vendeu todos os seus bens e os deu aos pobres. O número de companheiros ia aumentando, Frei Egídio, Frei Filipe, até se tornarem doze seguidores fiéis.

Percebendo que havia reunido um grupo forte e disposto à luta pelo Evangelho, inspirado nas ações do Nazareno, Francisco os reúne e decreta:

“(...) Ide, caríssimos, dois a dois, por todas as partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a penitência para a remissão dos pecados; sede pacientes na tribulação, confiando que o Senhor vai cumprir o que propôs e prometeu. Aos que vos fizerem perguntas respondei com humildade, aos que vos perseguirem abençoai, aos que vos injuriarem e caluniarem agradecei, porque através disso tudo nos está sendo preparado um reino eterno”. (São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 12, p. 199)

Convencido de sua tarefa, Francisco pregava incansavelmente de cidade em cidade. Seu método era educar as pessoas de forma firme e às vezes até dura, conforme percebemos nesta passagem:

“(...) Apoiado na autorização apostólica que lhe tinha sido concedida, agia em tudo destemidamente, sem adular nem tentar seduzir ninguém com moleza. Não sabia lisonjear as culpas de ninguém, mas pungi-las. Nem sabia favorecer a vida dos pecadores, mas atacava-os com áspera reprimenda, porque já se havia convencido primeiro na prática das coisas que estava dizendo aos outros em palavras. Não precisando temer acusadores, anunciava a verdade sem medo, de maneira que até os homens mais letrados, que gozavam de renome e dignidade, admiravam seus sermões e em sua presença sentiam-se possuídos de temor salutar”. (São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 15, p. 204)

Esta descrição revela o poder da autoridade do apóstolo. Por esta e por outras passagens percebemos a firmeza de seus propósitos e o quanto era autêntico em suas exposições. Tratava o pecador com sinceridade sem o humilhar, trazendo-o à realidade através da percepção consciente de suas faltas, e da necessidade de repará-las.
O nome de Francisco há este tempo já se tornara referência. Por onde passava sua fama se espalhava, e vinham a ele pobres, nobres, sábios, leigos e doentes do corpo e da alma, todos eles famintos pelo alimento espiritual que fornecia o apóstolo. Um de seus maiores ensinamentos era se fazer menor, repudiando toda lisonja e vaidade, e por esta razão funda a Ordem dos Frades Menores. Com este nome pretendia demonstrar que não procurava posição de destaque, e fazia questão de que seus seguidores se orientassem pelos mesmos princípios.


A Ordem dos Frades Menores reunira colaboradores sinceros que faziam questão de se reunir sempre que podiam, trocando experiências e conflitos íntimos, buscando por meio do fortalecimento mútuo e do exemplo do fundador da obra, o sustentáculo para suas ações. Haviam renunciado a tudo de material que possuíam. Usavam apenas roupas pobres com uma corda amarrada à cintura.

Preferiam os lugares onde eram criticados, açoitados e presos, pois sabiam que era ali que estavam os doentes, e o desejo sincero do grupo era curar as almas perdidas na ignorância. Esta Ordem desempenhou trabalho verdadeiramente cristão, e contribuiu decisivamente para que os ideais franciscanos fossem divulgados.

O espírito de Emmanuel demonstra a importância dos seguidores de Francisco de Assis:
“A ordem dos franciscanos chegou a congregar mais de duzentos mil missionários e seguidores do grande inspirado. Eles repeliam qualquer auxílio pecuniário, para aceitar tão-somente os alimentos mais pobres e mais grosseiros, e o característico que mais os destacava das outras comunidades religiosas era o seu alheamento dos mosteiros. Em vez de repousarem à sombra dos claustros, na tranqüilidade e na meditação, esses espíritos abnegados reconheciam que a melhor oração, para Deus, é a do trabalho construtivo, no aperfeiçoamento do mundo e dos corações”. (Emmanuel, A Caminho da Luz, Cap. XVIII, p.160) (grifos nossos).

O exemplo de vida franciscana contagiou falanges de seguidores, e estes se compraziam em seguir os passos de seu mestre. A ordem conseguiu tarefa bem difícil, fundar na Terra uma irmandade verdadeiramente fraternal, baseada nos preceitos Cristãos, obra que só poderia ser liderada por Francisco de Assis.

O CRISTÃO


Convencido de que possuía a missão de arrebanhar almas para o Cristo, Francisco impõe para si e para aqueles que o seguiam uma “Regra de Vida”.

Escreveu o documento baseando-se principalmente em passagens do Evangelho, desejando seguir o Nazareno em todos os aspectos, estabeleceu uma conduta religiosa que perseguiu até as últimas conseqüências. Por causa de sua disposição de sustentar estes preceitos foi perseguido, açoitado, humilhado, preso, passou fome e todo o tipo de privações, mas nada disso teve o poder de retirá-lo do caminho que tinha eleito para seguir. Desejoso de firmar o compromisso através da “Regra de Vida”, Francisco leva seu código de conduta até o Papa da época, Inocêncio III. Este tentou convencer Francisco a adotar a vida monástica, vivendo recluso na adoração de Deus. Mas tal objetivo não era o do apóstolo do Cristo. Não lhe satisfazia estar trancafiado em um monastério rezando, desejava se doar em espírito para todas as almas do mundo. O Papa abençoa o código e se curva aos nobres princípios esposados por Francisco.

Em seus escritos encontramos as “Admoestações”, conjunto de observações franciscanas às passagens do Evangelho que demonstra qual foi o caminho eleito pelo inspirado de Assis. As exortações muitas vezes são duras, chamando a atenção do fiel aos seus pecados e à necessidade de corrigi-los.

Em um destes trechos, Francisco escreve: “De que, então, podes gloriar-te? Mesmo que fosses tão arguto e

sábio a ponto de possuíres toda a ciência, saberes interpretar toda espécie de línguas e perscrutares engenhosamente as coisas celestiais, nunca deverias gabar-te de tudo isso, porquanto um só demônio conhece mais das coisas celestiais e ainda agora conhece mais as da terra que todos os homens juntos, a não ser que alguém tenha recebido do Senhor um conhecimento especial da mais alta sabedoria. Do mesmo modo, se fosses mais belo e mais rico que todos, e até operasses maravilhas e afugentasses os demônios, tudo isso seria estranho a ti nem te pertenceria nem disto te poderias desvanecer. Mas numa só coisa podemos “gloriarnos: de nossas fraquezas” (2Cor 12,5), e carregando dia a dia a santa cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”. (São Francisco de Assis, Parte I, Admoestações, Item 5, p. 63) (grifos nossos).

As “Admoestações” foram escritas como regra de conduta e de vida. Seu conteúdo demonstra qual era a forma franciscana de vida Cristã. Em uma primeira leitura pode parecer estranho que Francisco de Assis tenha feito estas observações para si mesmo e para seus seguidores, mas as advertências não são despropositadas. Desde o início de sua conversão o conflito entre as paixões mundanas e o chamado para as coisas do céu instalara-se no coração do apóstolo. Viveu duros momentos de conflito interior, e confessava sua dificuldade inicial de cuidar dos leprosos e de atender aos pobres. Ora condoia-se do sofrimento do próximo, ora experimentava repulsa pela dor humana. Antevendo sua dificuldade natural de expressar o bem, impôs a si um método de vida severo e sincero, com o objetivo de alcançar o bem, mas sem desprezar as mazelas da alma.

Percebendo que o caminho da salvação passava necessariamente pelo cuidado com as nossas fraquezas, Francisco as eleva a um grau de importância fundamental, pois sabia que não iria conseguir realizar o bem se não cuidasse atenciosamente de suas paixões.

Quando o apóstolo se reunia com seus seguidores o objetivo também não era diferente:
“(...) Reunidos, manifestaram sua grande alegria por rever o piedoso pastor e se admiraram de terem tido todos o mesmo desejo ao mesmo tempo. Contaram depois as coisas boas que o misericordioso Senhor lhes tinha feito e pediram correção e castigo ao santo pai pelas negligências e ingratidões que pudessem ter cometido, cumprindo-os diligentemente.

Era isso que costumavam fazer todas as vezes que chegavam a ele, e não lhe ocultavam o menor pensamento e até os impulsos das paixões. Depois de terem cumprido tudo que lhes fora ordenado, ainda se achavam servos inúteis. Essa primeira escola de São Francisco tinha tal pureza de espírito que, embora soubessem fazer coisas úteis, santas e justas, não sabiam absolutamente vangloriar-se por causa disso”. (São Francisco de Assis, Parte II, Vida I, Cap. 12, p.199)

O método de vida era, portanto, a luta diária para alcançar a perfeição, mas sem esconder os defeitos que cada um deles possuía. A franqueza recíproca permitia que os obreiros dividissem suas dificuldades sem julgamentos, e Francisco os ouvia com amor, sabedor de que o mal ainda habitava no coração de seus servos, mas que o trato para com as fraquezas humanas deveria ser realizado às claras.

Conforme trecho já transcrito, referente à página 204 da obra, Tomás de Celano descreve que o Santo não sabia adular a ninguém, nem incentivava a culpa no coração de seus fiéis. Seu objetivo era o trabalho árduo, com o descobrimento das fraquezas que habitavam no Cristão. Buscava ele mesmo se penitenciar através da caridade, evitando a promoção pessoal, o orgulho e a vaidade, mas não incentivando entre os seus servos a vergonha de expressarem suas dificuldades íntimas.

Francisco sabia que deveria combater o orgulho no coração de seus seguidores, pois sentia que o “eu” era o maior empecilho para o aprimoramento do ser, e escreve ele mesmo:

“Eis o meio de reconhecer se o servo de Deus tem o Espírito do Senhor. Se Deus por meio dele operar alguma boa obra, e ele não o atribuir a si, pois o seu próprio eu é sempre inimigo de todo bem, mas antes considerar como ele próprio é insignificante e se julgar menor que todos os outros homens”. (São Francisco de Assis, Parte I, Admoestações, Item 12, p. 65)

E as exortações neste sentido não param por aí. Ao comentar trecho do Evangelho de Mateus, Francisco ainda chama a atenção de seus seguidores: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). “Muitos há que são zelosos na oração e no culto divino, e praticam muito a abstinência e a mortificação corporal. Mas por causa de uma única palavra que lhes pareça ferir o próprio eu ou de alguma coisa que se lhes tire, logo se mostram escandalizados e perturbados. Estes não são pobres de espírito, pois quem é deveras pobre de espírito odeia a si mesmo (cf. Lc 14,26; Jo 12,25) e ama aos que lhe batem na face (Mt 5,39)”. (São Francisco de Assis, Parte I, Admoestações, Item 15, p. 66)

Por várias vezes se serviu das passagens evangélicas para passar seus ensinamentos. Acreditava que o verdadeiro cristão deveria perseguir diariamente o cumprimento dos preceitos cristãos, e impunha primeiro a si esta obrigação.

Provavelmente por volta do ano 1220, a Ordem fundada por Francisco já havia ganhado destaque, e vinha crescendo constantemente. Ao passo que seus seguidores construíam trabalho sólido também apareciam as dificuldades do caminho, e vários servos desviavam-se da observância da Regra escrita pelo apóstolo.

Este cenário levou Francisco a escrever a “Carta a toda a Ordem dos Frades Menores”, onde se encontravam advertências diversas. Os chamamentos não eram direcionados apenas aos Frades. Francisco as impunha primeiramente a si mesmo, e sem temor de revelar suas fraquezas escreveu:

“(...) Tenho pecado em muitos pontos por grave culpa minha, especialmente porque não tenho observado a Regra que prometi ao Senhor observar, nem rezado o ofício conforme o prescreve a Regra, seja por negligência, seja por causa de minha enfermidade ou porque sou um homem ignorante e pouco ilustrado.

Rogo, pois, insistentemente ao ministro geral Frei Helias, meu senhor, que faça observar a Regra por todos inviolavelmente, e que os clérigos digam o ofício divino com devoção diante de Deus, atendendo não tanto à harmonia da voz, mas antes à sua concordância com o espírito, de modo que a voz se una ao espírito, e o espírito se harmonize com Deus. Assim eles podem agradar a Deus pela pureza do coração e não lisonjear os ouvidos do povo pela delícia da voz”. (São Francisco de Assis, Parte I, Carta a Toda a Ordem, p. 96)

Neste trecho fica claro que a intenção de São Francisco era primeiramente observar a Regra como forma de atender a Deus. Não pretendia lisonjear quem quer que fosse através da palestra encantadora, mas exortar os servos de Deus a viverem retamente a obra do Cristo. Não chamava a atenção de seus servidores sem antes observar em si mesmo as raízes da iniqüidade, e as combatia ferrenhamente, crente que não poderia nunca descuidar destes preceitos.

Mas deveria existir uma razão para que o Santo se confessasse pecador e imperfeito. Acreditava ele que neste mundo de iniqüidade predomina a paixão e o pecado, e a vida eterna está reservada para quem os combate com fervor. Não descuidava nenhum instante de seus defeitos. Em seus escritos observamos seguidas exortações em que São Francisco chama a atenção de si mesmo e de seus servos para esta realidade:

“E estejamos perfeitamente cônscios de que não nos cabem a nós senão vícios e pecados; porém devemos alegrar-nos “quando passamos por diversas tentações” (Tg 1,2) e somos obrigados a suportar todas as angústias e tribulações da alma e do corpo neste mundo por amor à vida eterna”. (São Francisco de Assis, Parte I, Fragmentos de Outra Regra Não-Bulada, p. 106)

Quando emprega o termo “vida eterna” deixa claro que o verdadeiro mundo Cristão não era aqui. Pelo contrário, para manter vivos os preceitos do Evangelho do Nazareno teve que lutar arduamente contra si próprio, contra as paixões humanas e contra a resistência de seus opositores.

Em vários momentos era tomado por êxtase e se transfigurava. Nestas horas encontrava-se com seu espírito eterno e parecia se deslocar para outros planos. Se existia essa contraposição entre a vida futura e a vida eterna no coração do apóstolo é fácil concluir que para ele a Terra não era a verdadeira obra de Deus, que o paraíso eterno pertencia àqueles que cumprissem os desígnios do Pai, e que vencessem este mundo de dor e provas.

Outro chamamento importante pronunciado por Francisco dizia respeito à cólera:

“E onde quer que estejam os frades, [onde quer que se encontrem, devem se rever e honrar “mutuamente sem murmuração” (1Pd 4,9). E procurem não se mostrar tristes, carrancudos e hipócritas; mas “alegres no Senhor” (Fl 4,4), joviais e amáveis], corteses como convém”. (São Francisco de Assis, Parte I, Fragmentos de Outra Regra Não-Bulada, p. 107)

Sabia ele que o método de vida franciscana não era fácil, e que exigia de seus seguidores renúncia e abnegação, o que despertaria normalmente a tristeza no coração dos fiéis. Porém os exortava a permanecerem alegres, tal qual pai Francisco sempre fazia. Era exigente consigo e com seus irmãos, mas não perdia a sua jovialidade natural, não deixava de se deleitar com as maravilhas da natureza nem de se alegrar com a árdua missão de servir ao próximo.

O apóstolo quis estabelecer no mundo os princípios Cristãos vivenciados de forma prática por meio de regras de conduta que possibilitassem ao indivíduo a superação de suas paixões, a prática da caridade, o amor ao próximo e o desapego das coisas materiais. Viveu intensamente para Cristo e levou até as últimas conseqüências seu ideal franciscano, convertendo pessoas por todos os lugares que passava e deixando um exemplo de vida reta, justa, abnegada e totalmente voltada para a expansão do bem no coração de todos.

O MÉDIUM


Em vários momentos da vida de Francisco encontramos passagens de visões. O inspirado de Assis estava constantemente em contato com as maravilhas do céu, e lhe apareciam anjos e símbolos dos mais diversos. A grande maioria deles trazia mensagens sobre a missão do apóstolo, e ele dedicava-se atentamente a todas elas. Era uma bússola maravilhosa a indicar o rumo e o sentido de seu trabalho. Teve ainda diversos sonhos reveladores que o ajudaram significativamente a concluir seus objetivos e concretizar a sua obra.

Um desses sonhos se deu da seguinte forma: “(...) Viu-se recolhendo do chão migalhinhas muito pequenas de pão e dando de comer a muitos frades esfomeados que estavam ao seu redor. Ficou com medo de distribuir migalhinhas tão pequenas, achando que se iam desfazer em pó nos seus dedos, mas ouviu uma voz do alto: “Francisco, faze com todas essas migalhas uma única hóstia e dá-a aos que querem comer”. Ele obedeceu. Todos os que não recebiam com devoção, ou que desprezavam o dom recebido, ficavam logo cobertos de lepra”. (São Francisco de Assis, Vida II, Cap. 159, p. 435)

A princípio não conseguiu entender o significado do sonho, mas rezando fervorosamente uma voz lhe falou (São Francisco de Assis, Vida II, Cap. 159, p.435): “Francisco, as migalhas da noite passada são as palavras do Evangelho, a hóstia é a Regra, a lepra é a iniqüidade”. Esta revelação lhe mostrou que sua missão consistia em divulgar o Evangelho, e este livro sagrado seria o caminho de redenção das almas. Mas como fazê-lo? Como divulgar e principalmente como viver o Evangelho? Para que as migalhas servissem de alimento ele elaborou a Regra, uma forma de vida franciscana e evangélica, uma série de métodos de conduta escrito por Francisco que ele aplicava à risca em sua vida e aos seus seguidores. Ao escrever a Regra o apóstolo fundou na Terra uma estrada que levava à redenção das almas pelo encontro do Cristo.

Outro acontecimento digno de nota refere-se a uma visão de Frei Pacífico, grande apóstolo franciscano. Antes de conhecer pai Francisco, este poeta boêmio também chamado de “rei das canções”, era totalmente voltado para os prazeres da matéria. Contudo, certa vez encontrou o inspirado de Assis pregando no mosteiro de São Severino, e foi arrebatado por surpreendente visão, conforme descreve São Boaventura na coletânea já citada:

“Muito santo se tornou Pacífico mais tarde; e antes de ir à França, em que foi o primeiro ministro provincial, foi agraciado por Deus com uma visão. Um grande tau apareceu várias vezes na testa de Francisco, luminando e adornando maravilhosamente a sua face com singular variedade de cores. E na verdade o santo nutria grande veneração e afeto pelo sinal tau. E mesmo o recomendava muitas vezes por palavras e o escrevia de próprio punho sobre as cartas que enviava, como se sua missão consistisse, conforme a palavra do profeta, em “marcar com um tau a fronte dos homens que gemem e choram” (Ez 9,4), convertidos sinceramente a Cristo”. (São Francisco de Assis, Parte II, Legenda Maior, Cap. 4, p. 487)(grifos nossos).


A visão do “Tau” mudou radicalmente a vida do poeta mundano que, tal qual Paulo de Tarso na estrada de Damasco, foi acometido por visão angélica inspiradora, e também mudando seu nome, agora chamado de Frei Pacífico, se dispôs a viver os princípios franciscanos. Esta imagem teve significado revelador para o Frei, e o fato de o sinal ser visto em Francisco indica que ele vivia evangelicamente e que arrebanhava seus seguidores para trilharem o mesmo caminho. Outros seguidores do inspirado de Assis também tiveram esta visão, é o caso de Frei Silvestre e Frei Monaldo, que descreveram a mesma cena.

O “Tau” é representado pela letra grega maiúscula “T” e significa a cruz, que por sua vez carrega a mensagem do Nazareno em sua expressão. Além de ela ter sido utilizada como instrumento de renúncia do Cristo pela humanidade, este símbolo apresenta um significado todo especial. Emmanuel na obra “Fonte Viva”, falando a todos que se dispõem a percorrer o caminho da redenção, assevera:

“Não tropeces no fácil triunfo ou na auréola barata dos crucificadores. Toda vez que as circunstâncias te compelirem a modificar o roteiro da própria vida, prefere o sacrifício de ti mesmo, transformando a tua dor em auxílio para muitos, porque todos aqueles que recebem a cruz, em favor dos semelhantes, descobrem o trilho da eterna ressurreição”. (Emmanuel, Fonte Viva, Tema 46, p.108) (grifos nossos).

E era exatamente este o gesto de Francisco para com os seus seguidores: marcava com o sinal da cruz aqueles que se dispunham a renunciar à própria vida em favor do Cristo. Prosseguimos com Emmanuel, agora na obra “Pão Nosso”:

“Muitos estudiosos do Cristianismo combatem as recordações da cruz, alegando que as reminiscências do Calvário constituem indébita cultura de sofrimento. Asseveram negativa a lembrança do Mestre, nas horas da crucificação, entre malfeitores vulgares.

Somos, porém, daqueles que preferem encarar todos os dias do Cristo por gloriosas jornadas e todos os seus minutos por divinas parcelas de seu ministério sagrado, ante as necessidades da alma humana. Cada hora da presença dele, entre as criaturas, reveste-se de beleza particular e o instante do madeiro afrontoso está repleto de majestade simbólica. Vários discípulos tecem comentários extensos, em derredor da cruz do Senhor, e costumam examinar com particularidades teóricas os madeiros imaginários que trazem consigo. Entretanto, somente haverá tomado a cruz de redenção que lhe compete aquele que já alcançou o poder de negar a si mesmo, de modo a seguir nos passos do Divino Mestre”. (Emmanuel, Pão Nosso, Cap. 103, p.217)

Portanto o “Tau” simboliza a redenção da alma humana pela vivência dos preceitos cristãos, e o sinal foi escolhido por Francisco de Assis para deixar marcados os seus seguidores com o exemplo do Evangelho. O “Tau” também faz parte do símbolo do IBBIS, assim como a figura de Francisco de Assis e os dois não poderiam estar separados. Por esta razão representamos Francisco iluminado pelo sol Crístico em seu peito e de braços abertos, na posição do “Tau”, como se ele mesmo indicasse toda a força e mensagem da cruz do Nazareno.

A vida deste Santo foi marcada por várias passagens extraordinárias, mas provavelmente o acontecimento mais fantástico de Francisco tenha sido sua experiência no Monte Alverne. Diversas fontes relatam este acontecimento, mas vamos nos socorrer do professor Pietro Ubaldi para analisar a passagem. Na obra “A Nova Civilização do Terceiro Milênio” , encontramos a seguinte descrição: “Estando assim inflamado nessa contemplação, naquela manhã mesmo viu descer do céu um serafim com seis resplendentes e flamejantes asas e, voando velozmente, aproximou-se de São Francisco ao ponto de este poder discernir e ver perfeitamente haver nele a imagem dum homem Crucificado; ... Estando imerso nessa admiração, foi-lhe revelado pela aparição que a Divina Providência lhe proporcionava aquela visão a fim de que compreendesse dever transformar-se, não por martírio corporal, mas incendiando-se mentalmente, em imagem perfeita de Cristo crucificado. Durante essa aparição admirável, todo o Monte Alverne parecia arder em chamas esplêndidas que, como o sol, iluminavam os montes e os vales dos arredores; os pastores, que velavam por ali, vendo o monte em chamas e tantas luzes em torno, ficaram com muito medo, isso de acordo com o que mais tarde eles mesmos contaram aos frades, dizendo-lhes até que as chamas permaneceram sobre o Monte Alverne pelo espaço de uma hora. (...) Na aparição serafínica, Cristo manifestou-se e disse a São Francisco algo secreto e sublime, que São Francisco jamais quis revelar a pessoa alguma... Depois de grande espaço de tempo e de colóquio particular, a admirável visão desfez-se, deixando o coração de São Frâncico abrasado em vivo fogo de amor divino; deixou-lhe na carne maravilhosa imagem e estigmas da Paixão de Cristo. Nos pés e nas mãos de São Francisco começaram a surgir os horrendos sinais dos pregos, exatamente como a visão lhe mostrara no corpo de Jesus crucificado que lhe aparecera sob a forma de serafim”. (Pietro Ubaldi, A Nova Civilização do Terceiro Milênio, Cap. XXIX, p.311)

Este fenômeno é muito conhecido e foi objeto de várias discussões e interpretações que tentaram explicá-lo. Ubaldi entendeu este processo de forma singular. Para ele o processo que atingiu São Francisco vai muito além do que uma aparição milagrosa, e envolve todo o mecanismo de evolução biológica e psíquica do indivíduo.


Ubaldi demonstra que o evoluído busca sempre o amadurecimento interior como forma de transformação. O processo passa por uma gradativa libertação das formas exteriores, e progressiva conquista do patrimônio íntimo. Quanto mais avança em direção ao espírito mais se distancia da matéria, e esta sofre por estar morrendo. Daí a explicação porque o Santo sempre busca se penitenciar através do sofrimento. O objetivo dele não é apenas a dor, e esta ocorre como forma de subjugação da carne ao princípio espiritual. Vejamos a explicação de Ubaldi:

“A maceração dos santos não é mais utopia ou crença, mas processo evolutivo, método de imaterialização e espiritualização, isto é, impulso à degradação biológica que é condição para a ressurreição espiritual no imponderável, elemento indispensável ao aceleramento da freqüência no ritmo de vibração e transformação do potencial impulsionador da evolução”. (Pietro Ubaldi, A Nova Civilização do Terceiro Milênio, Cap. XXIX , p.315)

O evoluído já entendeu que entregar-se aos prazeres da matéria provoca o adormecimento das manifestações espirituais. Por isso persegue ferrenhamente o intuito de dominar suas paixões, pois sabe que elas o afastam das belezas interiores. As “Regras de Vida” escritas por Francisco objetivavam manter o discípulo em posição reta e justa, atendo às manifestações íntimas, visto que sabia que os desejos da carne os afastavam do contato interior.

Neste trecho o professor esclarece: “A visão não é sensória, exterior, mas interior, é contemplação. A vida vegetativa é mortificada por jejuns, renúncia, sofrimentos. O ser vive de vida sutil de notas agudas, penetrante, intensa, poder-se-ia dizer de alta voltagem, quase imaterializando-se em forma de energia radiante, constituída de ritmo vibratório. A exaltação vital está toda na expansão espiritual. A projeção dinâmica do ser dirige-se para a substância o absoluto, Deus. A forma, o relativo, as coisas terrenas estão superadas. O tipo biológico já superou a fase da evolução humana, separando-se de nossa forma de existência e alcançando outra mais elevada. O ritmo de vida animal se transformou, através do longo caminho da evolução em ritmo de vida espiritual. O transformismo evolutivo superou a fase humana, alcançando outra superior, mais aproximada à divindade. Eis as características do fenômeno do Alverne e do seu protagonista”. (Pietro Ubaldi, A Nova Civilização do Terceiro Milênio, Cap. XXIX, p.314) (grifos nossos).

A aparição do Serafim no Alverne para Francisco consiste em fenômeno muito mais complexo do que uma visão simbólica. Ubaldi demonstra que Francisco já tinha atingido a superioridade psíquica do evoluído. Onde o involuído nada enxerga, o evoluído percebe vibrações sutis poderosíssimas, e pode com elas interagir, formando um elo mediúnico supranormal. Quem assistisse à cena veria nela fenômenos físicos exteriores, luzes no céu, chamas resplandecentes, mas o seu verdadeiro significado só pôde ser sentido por Francisco.


A este tempo seu amadurecimento espiritual já estava completo, e ele atravessara física e psiquicamente todas as barreiras da matéria, havia vencido a dualidade humana e se integrado com a unicidade Divina. Na visão de Ubaldi, o episódio do Alverne significa a conclusão do processo da evolução humana aplicado ao caso individual de um Santo. Ele atingira antecipadamente naquele momento o que é o destino de todos nós.

Neste processo misturam-se elementos opostos: construção e destruição caminham juntos e proporcionalmente. À medida que o evoluído conquista o reino interior cada vez mais lhe parecem desinteressantes os interesses humanos. No fim da juventude de Francisco ele inicia este processo através de uma séria enfermidade. Aquela doença o chamara para adentrar em uma outra realidade, e é fácil constatar que ele já estava pronto para vivenciar este novo mundo, tanto que, a partir de sua conversão, ele evolui como um raio, desprezando os bens terrenos em busca de atender ao próximo.

Também por esta razão ele fez questão de se mostrar como o menor de todos. Ao fundar a “Ordem dos Frades Menores” pretendia destruir toda e qualquer forma de orgulho e vaidade que ainda existissem em sua alma, e aplicava os mesmos princípios aos seus seguidores.

Quando ele recebe as chagas de Cristo no Alverne, o processo atinge a sua conclusão, não lhe resta mais qualquer imperfeição humana. A imagem do Nazareno na cruz representa o símbolo da redenção humana, e quando Francisco encontra interiormente a sua salvação, Jesus lhe aparece confirmando que aquele era o caminho. São Francisco havia encontrado, vivido e vencido o duro caminho que leva à perfeição.

Assim como o Cristo, São Francisco foi perseguido, humilhado e açoitado por trazer a verdadeira palavra de Deus ao mundo. Em diversos momentos, nem os representantes da Igreja entendem seu objetivo, tanto que Francisco quando encontrou o Bispo de Sabina, chamado João de São Paulo, foi tentado a abandonar a vida de pregações e de caridade para se enclausurar em um mosteiro. Obviamente que ele não aceitou o convite, apesar de ser muito mais cômodo e confortável poder dedicar-se às orações sem ter que suportar o ódio e o desprezo do mundo.

O fato é que o homem normal não entende o que se passa no interior do evoluído. Jesus fora tido como um louco revolucionário da mesma forma que os contemporâneos de Francisco julgaram que ele enlouquecera ao desprezar toda a sua fortuna. O inspirado de Assis havia sentido dentro de si que a pobreza, o desprezo do mundo e o alívio dos sofredores eram a seta apontando para a evolução. Limpava os leprosos, admirava os animais e se rebaixava diante de todos vendo nestes atos a pura manifestação da força Divina. Ele não se entregava a estas tarefas simplesmente com espírito de pura obrigação, mas sentia as doces vibrações destes atos porque já havia se revolucionado psiquicamente.


Um homem normal, ou involuído nos dizeres de Ubaldi, jamais teria condições de acessar estas vibrações, e isto é o que diferencia os dois tipos biológicos. A Mediunidade do evoluído é puro amor, e ele ama a tudo e a todos o tempo todo, como se estivesse fisicamente na Terra e espiritualmente no céu.

O SANTO


Mesmo após o desencarne de São Francisco, todos os seus milagres e feitos continuaram a ser objeto de comentários e admiração. Suas obras tinham se espalhado de tal forma que a figura do apóstolo era sinônimo de bondade, trabalho e cura das almas. Assim, sabedor da fama e da natureza dos feitos de Francisco, o Papa Gregório inicia o processo de canonização do Santo. Em cerimônia pública foram lidos e aprovados diversos milagres, e tornou-se incontestável para a Igreja que havia passado em Assis um enviado de Deus, e a partir de então aquele homem passou a ser venerado como Santo.

Mas o que demonstrava ser ele diferente dos demais não era apenas o título conferido pela Igreja Católica. Quando iniciou sua conversão não foi apoiado pelo povo, antes o humilharam, açoitaram e tiveram-no como louco. Viveu a sua vida santamente, buscando Cristo, e mesmo na sua juventude, quando se entregava aos prazeres do mundo, cumpria etapa indispensável de sua evolução, pela qual experimentava o que era o gozo, os bens terrenos e as paixões humanas.

Porque as conhecia e havia vivido tudo aquilo, pôde, mais tarde, renunciar a todas estas frivolidades. Como superar algo que não se conhece? Como poderia ele se dizer seguidor do Cristo se não conhecesse e tivesse vencido as seduções da matéria e suas armadilhas? Exatamente por esta razão sua nobreza de espírito se tornou mais evidente, porque teve dinheiro, posição social e apoio da família para ser materialista e egoísta, mas nada disso lhe interessava. Não viveu em vida contemplativa, apesar de possuir todas as chances para fazê-lo. Preferia correr o risco de errar, de se mostrar humano a se isolar em templos religiosos. Seduzia-lhe a batalha, entregar-se mansamente como cordeiro aos lobos só para ter a oportunidade de ensiná-los o doce prazer de sofrer em nome de Deus. Confessava-se o último dos homens, apesar de ter vivido para Deus.

Em passagem muito elucidativa sobre a trajetória de São Francisco encontramos uma descrição de uma visão que tivera Frei Pacífico: “(...) Enquanto orava foi arrebatado ao céu, com o corpo ou sem ele, só Deus o sabe. E viu ali numerosos tronos, e entre eles um mais elevado e mais glorioso que os outros, refulgente e cravejado de toda espécie de pedras preciosas. Admirando a sua beleza, indagou a si mesmo a quem seria destinado aquele trono. No mesmo instante ouviu uma voz que dizia: “Esse trono pertenceu ao anjo Lúcifer e em seu lugar sentar-se-á o humilde Francisco”. (São Francisco de Assis, Parte III, O Espelho da Perfeição, Cap. 60, p. 907)

Quando a visão termina Frei Pacífico encontra-se transfigurado. Ele se reconhecera em um daqueles tronos e vira São Francisco ocupando a posição maioral naquela hierarquia. O frei, sentindo-se perturbado com o acontecimento, pergunta ao pai Francisco o que ele achava, e este responde: “Parece-me que sou o maior pecador que existe no mundo”. Ato contínuo, Frei Pacífico ouve a seguinte voz : Nisto reconhecerás que tua visão foi verdadeira, pois assim como Lúcifer por seu orgulho foi alijado daquele trono, Francisco por sua humildade merecerá ser elevado e sentado nele”. (São Francisco de Assis, Parte III, O Espelho da Perfeição, Cap. 60, p. 908)

A voz misteriosa explica ao frei qual era a missão do inspirado de Assis, e através dessa passagem pode-se depreender a extensão do processo. Os tronos que aparecem na imagem são as posições que os anjos ocupavam no Sistema, termo que o professor Pietro Ubaldi usou para designar o estado em que os espíritos viviam antes de mergulharem na matéria e caírem no Anti-Sistema.

Frei Pacífico se vê em um destes tronos e reconhece que o mais glorioso deles pertenceu ao anjo Lúcifer. A imagem indica que Francisco ocupara aquele trono mais alto, e após a queda, por conseqüência, havia se tornado o maior dos pecadores. Mas o Santo já caminhava para coroar sua redenção, e a voz afirma que Francisco haveria de se sentar no trono novamente. Este é o fechamento do processo de evolução de pai Francisco. O episódio ocorrido no Monte Alverne foi a concretização do que a visão mostrara, o anjo decaído que completa sua caminhada evolutiva e agora pode novamente ascender ao Sistema, voltar ao seio da lei de Deus e entrar em comunhão definitiva com o Pai.

Mas a visão ainda aponta para uma outra conclusão importante. Conforme nos demonstra Ubaldi, o Sistema era formado por uma hierarquia perfeita. Na obra “O Sistema” encontramos as seguintes explicações: “O egocentrismo é, por natureza sua, uma afirmação, e como tal tende a afirmar-se cada vez mais, se o seu impulso não for equilibrado por um contra-impulso, exercitado pela disciplina que o ser se impõe, em respeito à ordem e em obediência à Lei. Mas, se esse egocentrismo egoísta pode ter aparecido como uma vantajosa expansão do eu, ele representava o princípio subversivo e antiorgânico, que reaparece no câncer, no organismo humano. Rompeu-se, dessa forma, a harmonia hierárquica do Sistema, na qual toda individuação existe, como acontece com as células no corpo humano, que vivem umas em função das outras, sem o que, desmorona a unidade orgânica. Num sistema orgânico e hierárquico, as dimensões de cada eu são, para cada ser, medidas pelo valor e pela função ali representada; e cada individuação deve, para não se alterar a harmonia da ordem, manter-se sempre nos limites das dimensões relativas a esse valor e a essa função”. (Pietro Ubaldi, O Sistema, Cap. III, p. 41)

Portanto, todos no Sistema possuíam uma função, e o processo era de mútua colaboração, onde cada um desempenhava seu papel, concretizando uma harmonia perfeita sustentada no centro por Deus. São Francisco também tinha a sua função, que na visão de Frei Pacífico foi demonstrada como um trono. Ocorre que o trono de Francisco era o mais glorioso, e esta posição indica por que o Santo viu-se como o maior dos pecadores: sua função no Sistema era de cuidar dos espíritos que compõem a coletividade das almas hoje ligadas a Terra. Quando ocorre a queda, este anjo torna-se o maior dos pecadores, pois maior era sua responsabilidade para com as almas decaídas.

Por outro lado, ultrapassado este processo e seguindo os caminhos da evolução, o espírito de Francisco percorre trajetória mais rápida do que os demais anjos decaídos, e sacrifica-se pela humanidade vivendo encarnação de sofrimento, dando o exemplo para os demais espíritos, e trazendo a luz da caridade a Terra. Completou sua missão, sofreu pelo próximo sem nada pedir em troca e volveu merecidamente ao seu trono celeste.

Assim viveu um verdadeiro iluminado. Foi homem, apóstolo, cristão, médium e santo. Ocupou várias posições e desempenhou diversos papéis na obra do Cristo sem nunca deixar de se submeter aos desígnios do Mestre. Foi e continua sendo exemplo de redenção do ser, um verdadeiro método prático de como se viver para Deus no mundo das imperfeições.

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