domingo, 18 de setembro de 2016

Ensaios da minha loucura

Eu não sei bem como essa força, essa energia, esse calor começou em mim, ou se já existia e eu não havia me dado conta. Mas desde cedo eu sentia que minha relação com as mulheres não era como dos outros homens. Eu as sentia, como se eu mesmo fosse parte delas. As entendia.

Na própria relação com minha mãe, que não era muito facilitada por meu Pai, sempre muito ciumento, e quando estava com ela, a olhava nos olhos de uma forma que ela se sentia em paz comigo. Fui amamentado por uma ama de leite. Meu pai não permitiu que minha mãe me amamentasse. Apenas tive esta possibilidade por uns 6 meses. Isso causou em mim uma carência enorme. E em minha mãe uma dor profunda. Mas meu pai era daquele Homens, senhores de tudo. De suas propriedades, suas terras, seus títulos e suas mulheres. Sim, ele tinha muitas. Sim, minha mãe sabia, mas como ela me confessou certa vez, não ia lutar contra isso, ela o amava e apenas a ele.

Lembro que minha ama de leite, que me amamentou até meus 4 anos, disse que eu a medida que ia crescendo demonstrava uma capacidade de fazer aquele ato, até divino, em algo sobrenatural, que para ela, era comparado ao êxtase. Por isso, e por determinação de minha mãe, eu deveria ser amamentado enquanto quisesse. Ahh, se fosse assim, possivelmente estaria até hoje.

Porém a relação com meu pai não era a das melhores e desde cedo ele exigia muito de mim. Eu era muito sensível, e isso o incomodava. Várias vezes, enquanto eu estava no meu deleite matinal, ele me arrancava da minha ama e me levava pelo braço, eu aos prantos, para estar com ele nas atividades da propriedade. Ele um fidalgo, espanhol de origem, com sua característica marcante, com sotaque forte. Minha mãe, francesa, delicada, educada, submissa. Eu, nascido na França com sangue espanhol. Assim foram meus 8 primeiros anos de vida.

Aos 10 anos algo inusitado mudou meu jeito de ver a vida. Eu estava a andar pelo pasto, como fazia algumas vezes, quando percebi um movimento ao fundo. Percebi, então, me aproximando, quando garanhão montado na égua, a cobria. Não era uma cena que eu, apesar de viver onde vivia, estava acostumado a ver. Talvez pela minha idade, aquela visão, forte a principio, não me abalou, como podem imaginar, mas eu, ao ver a cena, percebia a pureza do ato, o garanhão, forte, decidido, exigente, demonstrando sua determinação e vigor e a égua, apesar de submissa à vontade e força do garanhão, era ela quem determinava o momento e a oportunidade. Fiquei ali alguns minutos, e ficaria mais se um gemido surdo, vindo da mata, não me tirasse a atenção na cena.

Fui me espreitando pela mata, e vi a mesma cena anterior, um garanhão, determinado, forte, exigente, e uma égua, submissa, entregue, sem nada a fazer.O garanhão, meu pai, cobria a égua, naquele instante, minha ama de leite. Ela, mais jovem que minha mãe, e com 3 filhos. Aquela cena sim, mudou minha perspectiva do que me cercava, do que existia, da minha realidade. Me deu nojo, raiva, ódio daquele ser. Tinha que sair correndo, fugir daquele ambiente. Mas não conseguia. A cena me enfeitiçou. Fiquei sem forças. Era uma sinfonia. Os corpos. A sincronia. As respirações, os gemidos, a pele, o suor, o corpo nú em comunhão com o outro. Definitivamente não conseguiria sair dali.

Depois daquele episódio mudei.  Me descobri. Sai de mim ou voltei.  Passei alguns dias fechado, culpado, arredio. Aos poucos ia voltando a vida. Mas estava diferente, certamente. Isso foi percebido por mim quando estava a tomar banho. A ama, que ate então vinha me dar banho sempre, perceberia também. Eu, numa espécie de banheira, de madeira, onde nos banhávamos, com água, e especiarias para dar a água tonalidade, odor e características para a limpeza do corpo. Enquanto ela me esfregava, as costas, eu sentado, com a água na cintura, ia sentindo suas mãos tocando meu corpo, minhas costas, meu cabelo. Em minha mente as imagens vinham claramente, aquela cena, o odor, suor, gemido, era incompreensível para mim, mas para meu corpo não, e a excitação se fez presente pela primeira vez. A ama, inocente, naquele ato, ao escorregar as mãos para lavar minha virilha, percebeu o que acontecia, e pelos seus olhos arregalados, seu espanto e surpresa foram denunciados. Por alguns segundos, que pareciam uma eternidade, ela ficou paralisada onde estava e eu, ainda com a cabeça baixa, não erguia nada que já estava erguido, incontrolavelmente.

O silêncio se fez presente. Algo cortante. Neste momento percebi uma importante lição que nunca esquecerei. As mulheres, ao se depararem com um garanhão de verdade, elas calam, tremem, ficam em silêncio, aguardando serem dominadas. É questão de segundos, que nada interrompe. O lugar, idade, diferenças sociais, de credo, de cultura, nada interrompe a natureza da fêmea e do macho.
Assim, eu entendi. Não sei ao certo quanto tempo durou. Mas ela estava entregue, assustada, possivelmente, surpresa, com certeza. Eu, levantei a cabeça, e os olhos, bem devagar. Fui abrindo minha visão e olhando tudo ao lado, os móveis, a água, as cortinas, o braço dela dentro da água, subindo, subindo. Quando a olhei nos olhos, profundamente, ela que estava muda estremeceu, rubrou-se e num supetão, retirou a mão de onde estava e saiu correndo, apenas a ouvi dizendo que eu já podia tomar banho sozinho.


O tempo passou. Cresci. Estava com meus 17 anos. Já não era o mesmo. 9 anos haviam passados desde aquela experiência na banheira. Aos 12 anos tive minha primeira experiência sexual. Sim. Foi com ela. Minha ama de leite. Amante de meu pai. Aquilo representou uma vitória sobre ele e uma vingança. Foi diferente, do que imaginava. Ela já se sentia incomodada comigo. E naquela tarde, quando ela fora ate o riacho lavar sua roupa e banhar-se eu me aproximei, enquanto ela estava na água. Ela não me viu chegando. Eu me postei na margem mais próxima a ela, e nu me mostrei para ela.

Assustada, ela soltou um grito e ficou estática. Eu era um homem, e ela percebia isso. Eu entrei na água. Ela ficou de pé, estava agachada. Novamente ficou petrificada. A espera. Sendo dominada mesmo antes de ser tocada. Assim a fêmea se comporta. A espera. Sedenta. Querendo ser domada. Assim foi. Assim aconteceu. E não cessou. Ela me ensinou muito. Eu tomei gosto. Comecei a praticar esta arte. E percebi que há uma distancia causada pelo como elas almejam ser tratadas e como realmente são.

Foi em uma tarde, quando me encontrava sempre com a ama, que ele chegou. Eu estava nu, em cima dela. Não ouvi nada apenas senti o puxão e o arremesso ao chão.

- Seu...seu...seu... sem vergonha!!!

- Porque pai? Porque sem vergonha?

- Você assim com ela?

- O que que tem? Quem ela é? Sua A M A N T E?

Sorrir. Um sorriso sarcástico. Seguido de um tapa na cara! Seriam outros se não fosse minha mãe intervir!

- CHEGA! CHEGA! não vai mais agredi-lo!!!

- Mas teu filho estava, estava....estava....... com Maria.....

- Sim tua amante!

- Ahhm? Mas...mas

- Sem mais. Ele não fez nada de diferente do que o Pai faz. E ele nem tem uma mulher!!!

- Você está tirando minha autoridade!!!!

- Vá meu filho, vá arrumar suas coisas. Você irá para o colégio interno....


Aquela noticia caiu como uma condenação. Como poderia sobreviver longe dali? A verdade é que a ida ao colégio interno completaria minha transformação. Onde eu teria as minhas melhores lições.


Lembro que quando cheguei a tal escola estava muito acuado por tudo que havia acontecido. Era um colégio interno de meninos, mas não havia apenas meninos e homens. Haviam os padres e algumas freiras. Nos primeiros dias eu me restringia apenas às atividades "normais". Tínhamos professores, entre os padres e as freiras. A rigidez era a tônica e quando necessário o castigo. Numa destas, conheci Julie. Ela, apesar do hábito, era linda, eu sabia. Aqueles olhos escondiam uma fêmea, tinha certeza. O habito não deixava as curvas de seu corpo a mostra, mas algo em mim sabia o que ale embaixo existia.


--------------------------------------parte intermediária----------------------------------------------------




A primeira noite naquele colégio pareciam mais como um suplício de um condenado. De um animal enjaulado, sedento por liberdade. Resolvi sair do meu quarto. Não era muito do meu feitio ficar quieto, obedecer ordens. Sai para explorar aquele lugar. De noite era outro lugar. Com pessoas que durante o dia não estavam ali.
Logo que desci, para o andar abaixo de onde estavam os aposentos dos estudantes, percebi uma movimentação no fim do corredor. Uma porta estava entre aberta. O corredor escuro. Fui chegando e os sons ficando mais audíveis. Risadas abafadas, e gemidos vinham de dentro daquele lugar. Eram o aposento do diretor dali, do Padre da congregação que dirigia o lugar. Ele estava no aposento. Pela porta entreaberta percebi seus pés. Ele estava sentado atrás da porta, e seus pés e pernas a vista do lado de fora, onde eu me encontrara. Em cima da cama, que ficava na parede oposta a porta, e oposto ao lugar que eu estava estavam, se despindo, Julie e Ana Maria. Duas freiras daquela congregação. Quando vi aquela cena, meu coração acelerou. O hábito, estava sendo retirado de uma pela outra. Em ações comedidas e lentas. Julie percebeu que eu estava observando pelo canto da porta. Ficou mais fogosa e além de tirar o hábito da outra, começou a tocá-la, o que surpreendeu o Padre Antônio. Visivelmente a ação da Irmã Julie era  motivada pela minha presença ali. Ela não olhava mais para o padre. Era para minha silhueta, atrás da porta entre aberta. Ela tocava nos próprios seios, colocando a  língua para fora da boca, lambendo os próprios lábios. Tocava a Irmã Ana Maria, esta de olhos fechados, gemendo a cada ação da Irmã Julie. De repente o Padre Antônio levantou-se e empurrou a porta, que se bateu e não vi mais nada, apenas um aumento sensível nos gemidos. Com o susto, corri, me afastando dali, e fui para o meu quarto.

Depois deste episódio, nada foi igual, apesar de que durante o dia, Irmã Julie se mantinha "celibata", de noite outra assumia, assim como muitos ali.

Lembro das primeira palavras dela, no meu "ensinamento": Olhe sempre diretamente para quem está com você. Nos olhos é que se encontram os segredos maiores da alma da pessoa, entre, e desnude tudo, só assim você terá uma experiência e propiciará uma experiência fora dos padrões normais. Se por acaso, por um instante você não tiver certeza do que quer, se hesitar, não faça por algo menor do que a vontade de fazer, será algo deprimente e pobre.

E assim foi. A cada ato, cada vez que ela me dominava exercia em mim o ensinamento para que eu começasse a desabrochar.

Certa vez, ouvi seu chamado, à distancia. Minha voz ecoava pelos corredores, como um sussurro. Noite a dentro eu ia procurando pela origem daquele chamado. Ela me chamava em meio a sussurros e gemidos. Saindo do prédio, me vi no pátio central. Lua cheia, e ela nua a minha frente, de braços estendidos me chamava. Atrás dela havia uma pequena casa em que algumas ferramentas eram guardadas.  Do único cômodo havia uma luz saindo de dentro. Amarelada, projetando uma silhueta. Ela me "puxava", a cada passo que dava em direção a porta. Eram passos lentos em que eu me deliciava com ela a minha frente, com aquele olhar a me desafiar. Ela vai transpassando a porto. Estou numa posição perpendicular a entrada. Vejo o corpo entrando aos pouco e ela olhando de lado com um sorriso de canto de boca, ainda provocativa. Fiquei a 4 metros de entrar também no lugar. A cada passo escutava pequenos gemidos vindos de dentro. Fui andando vagarosamente, enquanto ouvia sua voz me chamando. Parei a 90º da porta. Inclinei-me para observar dentro. Cortadores de grama, mangueira, irrigadores, seus olhos me olhando, seu corpo nu, seus seios, demonstrando sua excitação, e seu sorriso, malicioso, intercalado com sua língua no canto da boca. Fui entrando. E a cena se descortinando. Ela atrás da jovem. Devia ter seus 16 anos.

- Seu presente! Falava Julie atrás da jovem, que de cabeças baixas estava paralisada.

- Venha... continuou Julie com um sussurro e sua mão me empuxando.

Caminhei lentamente, olhando nos olhos de Julie que não parava de me olhar. A jovem estava com a respiração alterada e a cada passo meu, ficava mais evidente. A cada passo meu Julie entrava em êxtase. Eu estava a um metro. Julie com um gesto da sua mão cessa meus passos.

- Olhe, admire, extasie-se antes de qualquer coisa. Disse Julie com as mãos na nuca da jovem levantando seu rosto que permanecia olhando para baixo. Linda por sinal. Olhos verdes. Boca carnuda. Pele Rosada. Loira. Ela me encara, numa posse desafiante.

Julie então vai despindo-a. Tirando vagarosamente o vestido desde as mangas, passando pelos seios, médios e com bicos sobressaltados. Seu colo, seus pelos pubianos, suas coxas. Ela estava nua e continuava a me encarar, suspeitando que eu poderia sacia-la. Então Julie, olhando por trás, aguardava minhas ações. Me aproximei.

- Qual seu nome? perguntei.
- Não precisa saber o nome dela! respondeu Julie.
- QUAL O SEU NOME? Falei olhando para a jovem
- Andréa. Respondeu a jovem, meio sem jeito mas olhando em meus olhos.

- Venha toque nela, sinta a pele! Disse Julie puxando minha mão direita, fazendo-a tocar no seio esquerdo de Andréa. Os bicos rosados estavam empinados, e a cada toque Andréa fechava levemente os olhos e emitia um som, longe de compreensível, era um convite. Tocava de leve, a pele, sentindo a textura e sempre atento as reações...

- Virgem, ela é virgem.....e é meu presente para você! Vai, ela é sua!!! A voz não era da irmã Julie. Era da minha Julie, a que existia de verdade e quem eu aprendi a admirar.

Toquei aquela pele como se desembrulhasse um presente. Andréa fechava os olhos, e soltava, a cada toque meu em seu corpo desnudo, leves suspiros. Quando a toquei com mais insistência um leve gemido acompanhou os suspiros, indicando que ali era a região onde eu alcançaria o topor de Andréa. E assim foi. De um sobressalto a respiração aumentou de intensidade e um grito vindo em seguida demonstrava que tinha alcançado meu objetivo. No mesmo instante puxei o corpo dela ao encontro do meu e beijei-a de uma só vez. Pronto, era só consumar o ato, pois a presa estava entregue. Depois gemidos, olhares, suor e um ménage à trois  para terminarmos a noite.

Quando nos encontrávamos deitados, percebemos luzes à distancia, vindo na direção do local que nos encontrávamos. De uma vez levantamos e nos vestimos. Conseguimos ainda sair pela parte contrária de onde as luzes vinham.

No dia seguinte, algo estava mais forte em mim. Estava mais seguro. Estava sereno e firme. Olhava as pessoas nos olhos. Despertei. A cada noite que me aventurava com Julie, menos precisava dela para ditar o que deveria fazer com nossas convidadas. Até o dia em que ao entrar no meu quarto, julie veio me chamar para irmos a outro local. Dessa vez não seria assim. Ela não me levaria a outro aposento para seduzir e me deliciar com outra. Seria Julie e eu apenas. Naquela noite ela se mostrou como verdadeiramente era. Me apaixonei ali. Pedia para que ela não fosse embora, que não acabasse. No dia seguinte, acordei com um bilhete de Julie.

"Não lhe contei antes para não estragar nossa noite. Hoje não mais estarei aí. Pedi transferência para outro lugar, não adianta me procurar. Depois de ontem percebi que preciso me curar do que eu fora ate aqui. Você me fez outra. Me vi em seus olhos. Se eu ficasse você não seria livre, como eu hoje sou porque me encontrei no seu amor. Amo, amarei e nada vai mudar o que sinto! Seja feliz e livre meu único amor!""

Sai correndo, já era tarde. Não consegui descobri onde ela fora transferida. Meu peito apertava, e mais uma vez ela me ensinava algo. A dor de amar e não estar com esta parte sua. O vazio me consumiu por dias, semanas, até que fiquei inerte e seco. Pronto, estava moldado ao final.

Assim transcorreu meus anos naquele colégio que fiquei até meus 22 anos. Depois fui Levado a cursar artes na melhor faculdade da Europa. Aos 26 anos estava pronto para meu retorno!



Eu desci daquela carruagem, diferente. A estadia nas principais capitais da Europa me deram uma coisa, é verdade. Aquele garoto, acanhado não existia mais. Julie me ensinou muito. Nunca imaginaria que aquele rostinho angelical, com aquela indumentária, aquele hábito, esconderia uma tão envolvente e dedicada professora. Seu toque, sua forma de me deixar esperando, tirando de mim o que eu nem imaginava existir, me fizeram ver o mundo que eu tinha a explorar. Ela se tornou meu amor e minha dor que busquei enclausurar para seguir, assim iniciei minha busca. Retornava a minha cidade natal!

Agora aquela cidade, pequena, se comparada às que estive, me desafiava a provocar mudanças que eu queria provocar. Entendam como é um homem chegar a uma cidade que crescera em seu país, onde a sociedade local começa a buscar relevância em relação à capital, Paris. Eu me sentia seguro, forte, capaz de conseguir o que eu quisesse.

Assim foi quando desci. Muitos olhos a me invejar e outros tantos a me interpelar. Se um homem qualquer quer ser visto, conhecido, onde ele vai? Na taverna ou bar mais cheio da cidade. E eu? Queria ser visto e comentado, por todos! Onde fui? Sim, lá mesmo. Elas sempre poderiam me dar mais do que bêbados. Assim entrei pela porta da casa da Senhorita Carmem. Na entrada percebi que aquele bordel tinha potencial. O problema eram meus opositores. Velhos ou bêbados. Não haveria dificuldade. Mulheres, contei 20. Todas normais, sem brilho, sem interesse. Estava quase a desistir quando a vi descendo as escadas. Dona de si. Seus passos transmitiam a personalidade daquela mulher. Vestia um Baby dol azul, aberto na frente  escondendo os seios, mas preso na cintura com um cinto, porém sua meia taça era visível assim como o espartilho. Cabelos morenos, meio ondulados. Olhos verdes. Saltos. Ela olhava direto nos meus olhos. Não desviava o olhar.

Nunca vou esquecer este primeiro encontro, nunca. Ela cruzou o salão onde uma musica era tocada. Não tinha pressa. Minha impressão foi de que o tempo parou. As outras pessoas nem perceberam aquele encontro. Ela chegou a um palmo de mim. Deu um sorriso de canto de boca. Virou-se de costas, e levemente encostou seu quadril em mim, encaixando-se. Inclinou-se levemente para trás. Sua cabeça encostou no meu queixo. Pronto. Ela estava se colocando à mim. Se oferecendo. Ninguém ali entendia. Estava com os olhos fechados e sua respiração aumentava o ritmo, a cada segundo. Eu não me movia. Ela parecia uma gata, se esfregando, com movimentos curtos, subindo e descendo. Ela tinha um sorriso no canto da boca. Eu assistia aquilo como um espectador.

Mas eu estava no comando! Peguei-a pelos braços e apertei. Aquela atitude a fez delirar. Estava em êxtase. Ela não ouvia mais nada nem precisava. Sua respiração estava ofegante. Eu não compreendia, mas sentia o que acontecia. Inclinei-me ate encostar de leve meus lábios na sua orelha, e disse:

Eu cheguei!

 Ela atingiu o clímax. Coloquei minhas mãos na nuca e apertei seu cabelo, puxando de forma firme mais leve para trás. O corpo dela tremia. Tinha espasmos sem controle. No salão ninguém se apercebia do que acontecia, assim era melhor, ninguém ali tinha a sensibilidade para entender aquilo, ia longe do corpo era algo maior.

Ela parou. Aos poucos seu corpo foi retomando a normalidade e os espasmos foram ficando menores, até que pararam completamente. Ela estava diferente. Nunca aquilo tinha acontecido. Desde de sua chegada aquela cidade e a busca por sobrevivência, a ajuda que recebeu de um lorde mas que por trás apenas significou a sua decadência sendo, por conta dos acontecimento levada à procurar quem a pudesse ajudar e foi ali, naquele lugar que encontrou ajuda, amparo. Ela virou lentamente para olhar nos meus olhos. Eu a vi e ela à mim.

Quem é você?
- Me chamo Loubfort. Andrés Loubfort.
- Quem é você?

 A pergunta que ela fazia não era endereçada à mim. Mas à ela mesma. Não queria saber sobre minha identidade, nada sobre essas casualidades sociais. Dentro dela uma certeza. A vida estava ali, a partir de agora teria sentido.

Aguarde, mandarei alguém aqui para te levar para sua vida. Deixe tudo para trás.

 Virei-me. Comecei o que tinha que ser iniciado. Sentia que a partir daquele encontro nada seria como antes.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
15 ANOS SE PASSARAM
------------------------------------parte final--------------------------------------------------------------------------




Era uma sociedade onde haviam muitos luxos e pessoas importantes. Acontecia alguma festa, como era comum à época. 

Algumas pessoas se destacavam nela. Este homem, o dono do local. Alto, corpo atlético, cabelos pretos, cavanhaque, olhos negros, penetrantes, seguros, uma voz firme, grossa. 
Dois outros homens inseparáveis dele, também muito pomposos. Um magro, cabelos castanhos e muito risonho. O outro mais sério, querendo sempre passar um ar de intelectual. Estes sempre ao lado do homem, conversando coisas e planejando...alguma coisa. Sorriam fugazmente a cada palavra entoada. O homem, ao meio, apenas sorria, concordando com as futilidades que eram colocadas. Seu olhar ia distante. Ele percebia as mulheres que estavam no local. Separava mentalmente aquelas que ele já havia “conhecido” das que ainda não. Das que ela já conhecera, uma sempre estava ao seu redor. Grande, bonita e até extravagante, a mulher não poupava atitudes para ter a atenção daquele homem, como sempre tinha. Algo demonstrava que os dois já haviam sido grandes amantes. Ele muito a contragosto, enquanto não percebia outra mais interessante, se distraia com ela. Os tais amigos deste homem não se intimidavam com o oferecimento desta mulher ao homem. Eles participavam do cortejo. De repente os olhos do homem brilharam ao perceber uma desconhecida, naquele ambiente. Era ela, realmente quem ele mais aguardava a chegada. A muito tempo ele estava à cortejar, de forma mais respeitosa possível, aquela desconhecida. Fora um batalha conseguir sua confiança à ponto de levá-la ate aquele evento. Sua família, também, nova na cidade não dava espaço à qualquer homem que se aproximava da jovem moça. O Pai dela, de alguma forma percebia e tentava a todo custo afastá-lo dela. Para isso ele teve que fazer-se interessado em negócios com o patriarca daquela família e ate perder algum dinheiro para enfim conquistar a confiança de todos. Mas nada disso mais importava. Ela estava ali. E agora era colocar o plano em ação.  Ao recebê-la na entrada, fez questão de deixar que todos ali percebessem a sua preferência. Durante alguns minutos desfilou com seu bibelô pelo salão, embriagando-se com os olhares de inveja e desejo que tanto homens quanto mulheres direcionavam à eles.


A outra, a mulher mais despojada, sentiu-se dispensada, como um nada. Mais isso parecia não importar pois ela conhecia bem aquele homem, do que ele gostava e como ele agia. Muitas já haviam sido feitas de bibelô como aquela e no fim eram simplesmente largadas como um brinquedo velho deixado após o tédio. Outras não conseguiram aguentar tudo que acontecia no calar da noite e partiam chocadas. Ela era a única que depois de ter sido “provada” e cuspida, mostrou-se sem limites o que a deixou em posição de poder estar sempre por perto dele. Ela o amava, no fundo. Ela sabia que o que os unia era maior do que aquilo. Sentia que ele não conseguiria sem ela, que ele precisava dela, que sem ela ele ficara desnorteado, sim, ele também a amava. Além disso ela sabia de muitos segredos dele, como ele agia, seduzia, conseguindo o que quisesse, de quem quer que fosse. Ele era parte dela, e ela era parte dele.


No meio do salão, após uma dança típica, ele, o Homem, olha para seus amigos e com um balançar de cabeça dá a senha para o inicio da parte particular da festa. A jovem moça não desconfia, mas já bebeu algo que propositadamente foi colocado em sua bebida para que ela ficasse mais “aberta” à nova etapa que aconteceria.

Os amigos e alguns convidados, escolhidos à dedo sobem para a parte “reservada” da festa.  Depois de uns minutos, o Homem com sua convidada especial sobe atrás. A escadaria, larga, de um branco reluzente, com  corrimões dourados. Sua curvatura não era muito acentuada. Uma música especial é tocada pelos músicos quando o homem sobe. Todos no salão param para observar a cena. Ao final da escadaria uma ante sala, com sofás, obras de arte, e uma pintura de uma dama passeando por um jardim. Esta ante sala leva a um corredor.



Neste corredor que os leva á sala principal daquela festa reservada, a visão é indescritível. Um ambiente de luxuria que nunca havia visto antes. O cheiro que exala daquele corredor parece preparar quem passa por lá para o que está preste à vir. No caminho, mulheres nuas se entrelaçam, quase formando um ser apenas, gemidos, gritos e sussurros. Aqueles que ainda não estão nus são atacados pelos outros, numa fúria sedenta de prazer, roupas são arrancadas, rasgadas. Urros são escutados vindos de todos os cômodos existentes ao longo do corredor. Homens com mulheres, com homens, mulheres com mulheres, com dois homens. Sons de tapas, de gritos, de choro, alguns têm lágrimas nos olhos, mas tudo reflete apenas a loucura pelo prazer descompassado.

À medida que o homem passa, aqueles que estão pelo caminho param e admiram. As mulheres tentam, sem sucesso com suas performances chamar atenção dele e até alguns homens também. A certa altura um homem e uma mulher vão na direção da jovem moça, que apenas sorri muito a cada cena que percebe, lançam-se para tentar rasgar todo o vestido que ela ainda esta vestida. A atitude faz com que a moça fique apenas com os seios à mostra, pois o Homem num gesto rápido empurra a mulher e com um soco desacorda o homem.  Por incrível que pareça a cena de violência deixa os outros mais vorazes de sexo, provocando que os urros aumentem sensivelmente. O Homem repara aqueles seios tão bem formados, de tamanhos médios, brancos como a luz da lua com auréolas e bicos levemente rosados. Mas a moça não está mais a sorrir apenas se cobre envergonhada. Ele retira seu paletó, de um azul escuro forte, chamado à época de Encharpam  e cobre a moça semi nua. Ao fim do corredor, na sala principal, os dois amigos estão a se lançar sobre uma outra moça que atônita apenas cede aos avanços dos senhores. A mulher, despojada como sempre, está totalmente nua, apenas com umas sandálias, um lenço no pescoço e uma taça de vinho.  Ela é realmente bela. Seu corpo atrai olhares, mas ninguém se atreve a tocar-lhe. Suas coxas bem torneadas, pele suave, branca contrastando com o vermelho de sua boca e o rosa de seus seios. Seu cabelo castanho claro está com um coque e fios descem até tocar seus ombros, desnudos.

Ela está sentada em frente ao corredor apenas a espera do seu senhor, como ela o chama naquele ambiente. Ela como uma cadela no cio, vai em direção ao Homem e à jovem moça e começa a ronda-los como a sondar o brinquedo que será ofertado. Passa de leve a mão sobre os braços cruzados da jovem moça, que de cabeça baixa, não ousa levantar os olhos. A Mulher está  à espera de um gesto de seu senhor, para então agir. O Homem observa o ambiente a cena da mulher dando voltas em torno da moça. Ele se delicia com o momento precedente ao que iria acontecer, ao seu controle, é claro. 

Com um olhar ele autoriza a mulher a agir. Ela com delicadeza, fala umas palavras ao ouvido da moça que fica rubra e solta um sorriso descompassado. Seu coração a denuncia, assim como os bicos do seios, levemente endurecidos. A mulher então com o braço envolta da cintura da jovem a conduz para o quarto principal, no lado oposto desta sala. Com passos lentos, como uma marcha nupcial. Todos naquele ambiente acompanham a cena com os olhos. À medida que a mulher vai conduzindo à jovem ao quarto, vai despindo-a, peça por peça, como se fosse um ritual, extasiando o Homem que à distancia controla tudo com seu olhar. A alguns passos de entrar no quarto, a jovem toda nua, já exprime, pela sua respiração ofegante e descompassada seu medo e êxtase descontrolado pelo que a aguarda. As duas param antes de atravessar o portal. A mulher, como que por instinto, ficando ombro a ombro com a jovem, porém, se postando de frente à esta, inclina o pescoço para o lado, para observar o Homem, postado exatamente atrás, à distancia das duas. Os outros formam um semi circulo a partir de trás do Homem. Ele com olhar fixo com um leve balançar de cabeça autoriza as ações seguintes. Ele estica os braços, perpendicular ao seu tórax.  Todos no recinto avançam em sua direção, menos as duas, que permanecem onde estão. A ansiedade demostrada nas ações daqueles que estão na sala é digna de animais. Uma avalanche avança em direção ao Homem que à distancia, ainda guarda o olhar fixo no corpo da jovem, de costas, nua, e no olhar da mulher que parecem-se desafiar um ao outro. Ela treme ao ver a aproximação dos outros em direção à ele, e ele fecha os olhos  e inclina a cabeça para cima. Suas roupas são arrancadas, rasgadas, num frenesi, de mãos, bocas, dentes, línguas, e unhas. Após estar nu, ele emite um som, alto e reconhecível de repugnância, pois não aguentava mais ter seu corpo tocado daquela forma. Desta forma afasta todos com um movimento dos braços; forma-se, novamente, um semi circulo com ele, nu, ao centro, olhando fixamente para o corpo nu da jovem moça. Sua respiração está ofegante, sua saliva escore no canto de sua boca, como um predador saboreando sua presa antes da atacá-la. Seu corpo é definido e bem moldado. Ele começa a se mover, passo a passo. A mulher fala novamente no ouvido da jovem moça. - Seu dono vem para te possuir. De imediato ela reage descompassadamente suspirando e solando pequenos sons, como gemidos. A mulher, ainda olhando para o homem, de frente para a jovem moça começa a passar a língua pelos ombros da jovem.
Há um som no ambiente, vindo dos outros. “uh uh uh uh uh uh uh”, ditando os passos do homem. Os outros, que já ficaram para trás, como se iniciassem um ritual de vida, de acasalamento, de morte, mantém-se com o som, aumentando a cada passo dado pelo homem, e ao mesmo tempo vidrados com a cena. Ele está excitado. A mulher, lambe a pele da jovem como a preparar para o seu dono, dando-lhe um banho de língua. A jovem já não controla suas ações, seus pensamentos estão confusos, ela treme, mais quer continuar com o que acontece; sente um magnetismo àquele homem como a nenhum outro. Ele é seu dono e ela é sua em todos os aspectos. Ela percebe a aproximação do seu senhor. É como se pudesse já sentir os pelos do corpo dele a encostar no seu, mesmo ele distante, como se sentisse o calor que emana do corpo dele a envolver e dominá-la. Ela virgem, pura, agora pronta para ser “selada” pelo seu dono, seu homem, seu macho.

De repente os outros silenciam. A sala cala-se próximo do encontro dos corpos. Apenas houve-se um turu...turu...turu, são os batimentos cardíacos dos dois em harmonia. Pronto, a união já está próxima, os sons em ritmo do músculo cardíaco demonstra que a alma de um já entrou no compasso da outra; da fêmea à espera do macho, do polo positivo ao seu negativo, de receber seu outro, de aceitar e envolvê-lo com todos seus músculos, pele, suor, olhar, gemidos, salivas e lágrimas. Ele se delicia com este momento precedente. Não tem pressa, apesar de seu apetite voraz. A dois passos de estar nela, ele olha para a Mulher e com um simples olhar ordena que pare. Ela, sempre atenta, para e com dois passos para trás, submissa, se coloca em sua posição. O que se seguia a seguir surpreendeu todos no local, inclusive a mulher. O Homem, após tocar o corpo da jovem com o seu, encaixando-se, e beijando sua nuca, passando suas mão pelo contorno, seios, anca, colo, pernas, a pega no colo pelos braços e a leva para o interior do quarto fechando as portas, grandes e sólidas, para que ninguém participasse. Isto era incomum, todos argumentaram, pois era comum ele a desflorar ali, na frente de todos, entre beijos, tapas e sua força bruta.

A mulher preocupou-se. Todos se acotovelaram à porta para ouvir, Não havia sons de tapas, choros, dor, êxtase. Ao contrário, silêncio, beijos, gemidos e satisfação. O interesse dos outros perdeu-se com os minutos, mas não da mulher. Ela estava transtornada em ficar de fora e de não entender o que ocorrera. Lágrimas brotaram de seu olhos verdes. Sua maquiagem desmanchou-se. Transformou-se numa colombina triste. Deixou-se cair encostada à porta; adormeceu. Acordou com um supetão ao ouvir a porta se abrir. Era ele, imponente como sempre, a olhar na sua direção. Ela esperava um gesto, algum dele para ela. Talvez convidando-a  a fazer parte. Ele olha para dentro novamente. Ele já está vestido impecavelmente de novo. Ao retornar o olhar para ela, seus olhos estão amedrontados, frágeis, juvenis. Ele olha para dentro de seu carpejan. Retira algo. É um envelope selado com seu brasão. Ele continua com o ritual, mesmo estando diferente. Se ela não se engana há dentro do envelope uma frase. Única. Capaz de acabar com as esperanças de quem é endereçada. “ O ontem já se foi...o amanhã ainda será...o hoje....só posso agradecer pelo ofertado”. Se alguma tinha a pretensão de insistir, nunca mais o veriam ou o teriam.
Ele entrega e pede que a mulher coloque na jovem quando a deixa-la à porta de casa, ainda naquela madrugada. Com um gesto ordena que todos se retirem, inclusive a mulher. Ele precisa estar sozinho. Algo não está como de costume dentro dele, ele sabe.

As cenas que se seguem são dolorosas e incompreensíveis. A carruagem chegando à porta do casebre. Ela sob o efeito do tranquilizante que após ser ingerido e regado á vinho o efeito é fortíssimo, de propósito. Ela sendo deixada na porta de casa, vestida.  A jovem sendo descoberta pelo pai, o despertar dela, desespero dela, dele, da mãe, dos irmãos.  O envelope, ainda lacrado e notas de dinheiro junto ao envelope. Dor, frustração, angustia a dominam. Ela guarda dentro de si as palavras dadas por ele naquele leito, quando estavam à sós. Lembra dos olhos dele no momento em que ela era “descoberta” por ele, das lágrimas e do beijo. Não era possível que fora o mesmo homem que fizera aquilo. O pai a toma pelos braços a sacode, grita, se desespera, a estapeia. Por fim a leva, violentamente àquela propriedade para cobrar explicações.

O Homem está fazendo seu dejejum  no jardim, com a Mulher, agora com o porte de uma dama e seus dois amigos, dois verdadeiros cavalheiros. Ele está ausente, pensativo, enquanto os dois cavalheiros estão falantes, como sempre. A mulher, sempre observadora, sente a ausência do Homem.

O pai esbaforido chega com a filha nas mãos, sendo arrastada, ela chorando, o pai nervoso, cobra uma explicação para o fato, sacudindo o maço de notas que estava junto com o envelope, este de posse agora da Jovem sem que o pai saiba. O Homem escuta o que o senhor grita e ao ver as notas leva os olhos à Mulher que com um leve sorriso demonstra ser sua obra. O Homem, entende tudo. 

Ao final, percebendo que o senhor parara de gritar, talvez para pegar ar, o Homem se levanta e sem demonstrar alteração, vai na direção dos dois. São aproximadamente quatro passos. O senhor aguarda. O Homem dirige-se à jovem, Ela está sendo segura por uma dos braços pelo Pai. Este tenta afasta-la. Não consegue. Ela o quer, e desvencilhando-se do pai fica livre para a aproximação. O Homem fica à frente da jovem e balbucia uma pergunta: 

 - Diga-me milaide, foi forçada a alguma coisa que não quisesse enquanto esteve em minha propriedade?  Sua voz grossa e marcante quase a deixava sem ar. Ela deliciava-se ao ouvi-la novamente em sua direção. 

- Então minha cara, tudo que aconteceu aqui foi sem seu consentimento? A segurança nas palavras surpreende. O Homem volta a insistir, chegando mais perto do ouvido da jovem, deixando-a em frenesi. Ela, inteiramente dominada pelo seu senhor, que era facilmente reconhecido à sua frente, só conseguiu gemer uma palavra: 

- não.... A mulher e os dois amigos novamente estão em estado de êxtase, com suas respirações ofegantes.

O Pai, desesperado com a cena, puxa a jovem de volta para perto dele e vendo que era inútil a tentativa, arranca em direção à saída com a filha. A jovem, não consegue tirar os olhos do seu senhor, vai sendo levada olhando para trás, e num movimento súbito se solta de seu pai e volta caindo aos pés do Homem. Pronto, estava feito. Ele tem um sorriso no canto da boca. 
- Meu senhor sou tua, não me deixes sem teu cheiro, teu olhar, tua saliva, teu hálito, teu suor....me faz tua escrava.... A sentença estava dada. Os convidados do Homem, já se acariciando contemplavam a cena. O Pai, vendo a subjugação da filha, parte de volta e a arranca dos pés do homem, levando-a a tapas e pontapés de volta à sua casa. O Homem vira-se, volta a sentar-se com os convidados, mas algo está diferente nele, pois ele volta a cabeça para trás a olhar para a cena do pai carregando a jovem para fora de sua propriedade.


Os dias  se passam, semanas, e o homem não tem mais o mesmo ímpeto para as orgias sempre bem vindas naquele lugar. Ele não sai do parapeito de seu quarto a contemplar a lua, todos as noites. Seu  peito está apertado e ele não se reconhece. Ele se sente vazio, perdido, sem direção, sem identidade.

Num dia de manhã, recebe novamente seus comparsas para uma chá, no jardim, no fim da tarde. Futilidades são faladas. Ele esta tentando ser natural. De repente um grito. Ele se levanta e sai em direção ao som. Vem do seu aposento. Ele corre naquela direção. Uma de suas empregadas sai apavorada do quarto. Ele entra.

O que acontece agora muda-o. Apenas percebe um lençol amarrado as grades do parapeito. Aquele mesmo que antes envolvera o corpo daquela que o havia tocado de um jeito diferente, agora, estava em volta do pescoço da jovem moça, sustentando seu corpo, já sem vida, para fora da janela do quarto. Ele a puxa de volta, acreditando ainda poder salvá-la, salvar-se a si mesmo. Era tarde. Sua condenação veio da mesma forma que sua salvação. Ela de corpo semi nu, já pálida, demonstrava a sentença que era dada ao coração do Homem.

Amarrado ao seu pulso, o bilhete que ele endereçava naquele envelope, com aquelas palavras: “ O ontem já se foi, o amanhã ainda virá, mas o hoje estará para sempre guardado dentro de mim pois  encontrei você!”.  

Ele a abraça e chora compulsivamente, deixando-se ser quem ninguém nunca conhecera, grita, implora, mas nada pode mudar o que estava frio e sem vida em seus braços.
As cenas aceleram, solidão, abandono, loucura é o que resta naquela propriedade. O Homem se isola de tudo e todos, vendo, ouvindo, interagindo a cada minuto com ela, que insiste em estar ali, como ele mesmo diz. Está irreconhecível, barba e cabelos grandes, roupas mal trapilhas. O lugar também deixado por todos reflete a energia que vem do dono.

No fim, ainda há um momento de lamentação. Uma carta.

Não pude precisar o que eu era, até o dia que me vi pelos seus olhos. Você, ainda jovem, me retirou de onde eu me encontrava, e me deu a única coisa que eu não consigo afastar de mim, seu amor. Meu orgulho me fez indiferente por fora, para as aparências, para o vazio. Queria ter a certeza daquilo que já tinha. Não havia mais a ser constatado. Você já era minha e eu sedento de mais, inocente na arte de amar, não entendi que me deu o maior, o máximo, o completo. Te sentenciei. Sou seu algoz, quem te tirou das sombras por um momento e depois te levou de volta. Tu que me iluminara, foi-se deixada na escuridão pelo meu egoísmo. Que vida é essa que me tortura assim? Que Deus é esse que me pune de tal sorte? Quero a morte da mesma forma que desejo-te eternamente. Meu corpo serve-me como uma prisão torturante. Não suporto mais ver-te a balançar sem vida, onde antes tu se balançava sobre mim.
Nada há mais do que fazer, pois se serei condenado pelo ato que desejo, maior sofrimento certamente não haverá do que o que estou a sentir. Mas se este Deus ainda me desejar torturar mais, prometo não descansar até encontrar-te novamente...."

Não havia mais força para escrever naquele corpo moribundo...Foi encontrado caído com o bilhete, por aquela que tanto o amou, também, onde as lágrimas não puderam aliviar o fato desta também se recriminar pelo seu silêncio o tê-lo condenado.



--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

sábado, 17 de setembro de 2016

Não digo mais nada


Apesar das palavras não desistirem...

Lembro de quando era mais jovem uma dor era insuportável.  A de ser deixado, largado, esquecido, simplesmente como quando nossos pais nos esquecem em algum lugar. Passei e passo diversas vezes por esta experiência.

Muitas pessoas chegam, prometem milhões de coisas, te fazem acreditar, e sem mais nem menos, somem, simplesmente viram as costas e se vão.


Dessa forma me fiz forte, aparentemente forte. Para criar uma armadura externa que me faça inerte e indiferente. Tentei todas as vezes não me apegar, me importar, mas nunca consegui. O máximo que consegui foi continuar inerte, por fora e destruído por dentro.

Todos tem uma idéia errada sobre como reajo. Da forma que mostro, é claro, eu confundo, engano, mas sempre passo por dores intermináveis, insuportáveis, que a cada nova experimentação, o mesmo gosto amargo, angústia e sensação de desespero me toma conta.


Assim vou seguindo buscando entender onde posso curar isso. Até lá isso vai me consumindo um pouco mais, cada vez um pouco além do que fora antes.