segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Chegamos no inicio, e retornando ao fim!




Assim isso tudo aqui começou. E passamos por turbilhões e milhões de situações. Aqui segue sendo meu lugar, meu cantinho, meu refúgio. Livre, sem bloqueios, sem amarras, sem restrições. Muitos acham que me entendem, poucos,realmente conseguiram. Faltando 17 dias para 44 anos. Ambos com a numerologia 8, que traz imensos significados. Ambos de inicio denotam a imensidão, o infinito. Escrevo quando sinto a necessidade transbordando no meu ser, e sigo assim. Aqui, sou eu, pouco revelado, mas muito mais que no mundo que habito. Sim, a muito tempo tive uma proposta de uma necessidade de experimentar este orbe. Sinto meu ser vibrando pelas estrelas. Não sou realmente algo desta normalidade, e acredito que todas as vezes que tentei ser me limitei e me machuquei. Das vezes que fiz foi por amar demais quem desejava que eu fosse, e hoje das poucas vezes que tento é por amar também.
Isso pode ser até ambíguo e contraditório, mas do meu ser transborda-se tudo que sinto e sou, porém  poucos ou ninguém entende. Faltando pouco mais de 2 décadas para a volta, ou pouco menos, eu nunca sei realmente sobre essa conta, o que posso dizer é que estou na direção, sei que as vezes tropeçando, caindo, mas ainda indo.
Me leia nas entrelinhas, e ainda sim, sem me conhecer, ficará confuso.


"Força, intensidade e objetividade de desejos e quereres são a marca registrada do seu mapa, Daniel, graças à combinação dupla de Marte, por conta da associação do Sol em Escorpião com o ascendente em Áries. A sexualidade é forte, e os apetites e quereres particularmente exagerados.
Áries no ascendente tende a ser uma poderosa arma para quem é de Escorpião, pois garante uma atmosfera algo ingênua e infantil que oculta o profundo poder e astúcia do seu lado escorpiano. Uma pessoa com esta combinação é dotada de grande poder realizador, sobretudo se aprender a cultivar um pouquinho de paciência."

"Você, Daniel, gosta de desafios e os procura. Entretanto, quando tudo está indo bem, sem problemas ou grandes crises, você pode se tornar uma pessoa incomodada, e tende a cavar encrenca até quando não precisa. Isso deriva de um lado seu que está tão acostumado a batalhas que, quando tudo está em paz, você estranha. Descarregar este excesso de energia agressiva em práticas esportivas ou artes marciais é mais do que recomendado, Daniel! E como você é uma pessoa muito orientada para desafios, procure dar uma especial atenção ao capítulo do seu mapa que fala sobre a posição de Marte, para você compreender melhor como funciona este seu impulso pelas aventuras."

"No momento de seu nascimento, Daniel, o Sol se encontrava na posição sete, na sétima casa astral, o que sugere que você desenvolve sua consciência através das suas relações interpessoais. É através de um "outro" que você descobre o sentido de "eu", construindo-se na base da comparação."
"Você é um agente de intercâmbios, uma pessoa que possibilita pontes, que estimula o outro a brilhar, fazendo-o ter mais consciência de si e do que é capaz. Para você, Dan, existir representa compartilhar."

"A pessoa nascida, como você, no dia da harmonia entre Sol e Marte, é movida à realização de desejos e intentos e tem uma qualidade conquistadora incrível."

"A força motriz da sua natureza, Dan, é a mudança, a evolução: a todo custo, fazendo de si mesmo um ser especial, tendo um profundo horror a tudo o que é comum. Você é uma pessoa criadora de novos modelos do futuro!"

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Paixões da alma

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.”



Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...”.


Clarice Lispector



Da segurança e do desespero.
E nunca uma dessas paixões acompanha o desejo sem que não deixe algum lugar à outra: pois, quando a esperança é tão forte que expulsa inteiramente o temor, ela muda de natureza e se chama segurança ou confiança; e, quando estamos certos de que aquilo que desejamos advirá embora continuemos a querer que advenha, deixamos, no entanto, de ser agitados pela paixão do desejo, que levava a buscar com inquietação sua ocorrência; do mesmo modo, quando o receio é tão extremo que tira todo lugar à esperança, converte-se em desespero; e esse desespero, representando a coisa como impossível, extingue inteiramente o desejo, o qual só se dirige às coisas possíveis.
Da esperança e do temor.
A esperança é uma disposição da alma para se persuadir de que advirá o que deseja, a qual é causada por um movimento particular dos espíritos, a saber, pelo da alegria e do desejo misturados em conjunto; e o temor é outra disposição da alma que a persuade de que a coisa desejada não advirá; e é de notar que, embora essas duas paixões sejam contrárias, é possível tê-las as duas juntas, a saber, quando se representam ao mesmo tempo diversas razões, das quais umas fazem julgar que a realização do desejo é fácil e outras a fazem parecer difícil.
Da ingratidão.
Quanto à ingratidão, não é uma paixão, pois a natureza não pôs em nós nenhum movimento dos espíritos que a excite; mas é apenas um vício diretamente oposto ao reconhecimento, na medida em que esse é sempre virtuoso e um dos principais laços da sociedade humana; eis por que tal vício só pertence aos homens brutais e tolamente arrogantes que pensam que todas as coisas lhes são devidas, ou aos estúpidos que não fazem nenhuma reflexão sobre os benefícios que recebem, ou aos fracos e abjetos que, sentindo a sua imperfeição e as suas necessidades, procuram baixamente o socorro dos outros, e, depois de havê-lo recebido, odeiam-nos, porque, não tendo vontade de lhes prestar outro semelhante, ou não tendo esperança de podê-lo, e imaginando que todo mundo é tão mercenário como eles e que não se pratica nenhum bem exceto com esperança de ser por ele recompensado, pensam que os enganaram.
Da indignação.
A indignação é uma espécie de ódio ou de aversão que se nutre naturalmente contra os que praticam algum mal, de qualquer natureza que seja; e muitas vezes está misturado com a inveja ou com a compaixão; mas seu objeto é totalmente diferente, pois só ficamos indignados contra os que fazem o bem ou o mal às pessoas que não o merecem, mas temos inveja dos que recebem esse bem, e sentimos compaixão pelos que recebem esse mal. É verdade que de alguma maneira representa praticar o mal possuir um bem de que não se é digno; o que foi talvez a causa pela qual Aristóteles e seus seguidores, supondo que a inveja é sempre um vício, deram o nome de indignação à que não é viciosa.
Da cólera.
A cólera também é uma espécie de ódio ou de aversão que alimentamos contra os que praticaram algum mal, ou procuraram prejudicar, não indiferentemente a quem quer que seja, mas particularmente a nós. Assim, contém tudo o que a indignação contém e ainda mais o fato de fundar-se numa ação que nos toca e de que desejamos nos vingar; pois esse desejo a acompanha quase sempre; e ela é diretamente oposta ao reconhecimento, como a indignação ao favor; mas é incomparavelmente mais violenta que essas três outras paixões, porque o desejo de repelir coisas nocivas e de se vingar é o mais imperativo de todos. O desejo unido ao amor que se tem por si próprio é que fornece à cólera toda a agitação do sangue que a coragem e a ousadia podem causar; e o ódio faz que seja principalmente o sangue bilioso, vindo do baço e das pequenas veias do fígado, que receba esta agitação e entre no coração, onde, devido à sua abundância e à natureza da bile a que está misturado, excita um calor mais áspero e mais ardente do que o que podem aí excitar o amor ou a alegria.
Do arrependimento.
O arrependimento é diretamente contrário à satisfação de si próprio, e é uma espécie de tristeza proveniente de se julgar que se praticou qualquer má ação; e é muito amarga, porque sua causa procede apenas de nós; o que não impede, no entanto, que seja muito útil quando é verdade que a ação de que nos arrependemos é má e quando temos disso um conhecimento certo, visto que ela nos incita a proceder melhor outra vez. Mas acontece muitas vezes que os espíritos fracos se arrependem de coisas que praticaram sem saber seguramente que eram más; persuadem-se disso unicamente porque o temem; e se houvessem feito o contrário, arrepender-se-iam da mesma maneira: o que constitui neles uma imperfeição digna de compaixão; e os remédios contra esse defeito são os mesmos que servem para sanar a irresolução.
Descartes

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Mais uma vez, era apenas eu


Imagem relacionada



Comecei a ver aquele sorriso.

Pele queimada, porém de tom amarronzada por genética. Olhos vivos e escuros. Cabelo liso, preto. Sorriso perfeito e dentes brancos. Sim, era eu. Tinha 14 anos. havia fugido, sumido, deixado minha família já fazia um tempo. Eu vivia só, mas isso era o que os outros achavam. E tinha o deserto, éramos eu, o deserto e o Najima, meu camelo. Eu trabalhava levando produtos de uma cidade a outra, pelo deserto. Conhecia tudo, as rotas, a vida, o sol, a lua, as estrelas. E a solidão. Eu era feliz, sim, eu era. Não pense que era triste. Eu, soube depois, optei por isso, pelas dores carregadas em outras oportunidades nas relações com as pessoas. Não aguentaria mais ser deixado, abandonado, ou viver em culpa. Então nessa, fiz esse movimento natural e feliz.

Vejo meus pés, na sandália de couro, surrada, e a areia quente. Olho pra baixo e depois para o horizonte. Quase posso sentir o sol tocando minha pele enquanto vejo isso.

O melhor é a noite no deserto. O silêncio, as estrelas, tudo me traz calma. Sim, as vezes me sinto só. As vezes sinto algo no meu coração, uma saudade que eu não consigo entender. Nessas horas perco minha visão no horizonte e não entendo bem o porque, sinto uma falta que foge na algo tangível.

Mas esses momentos me trazem uma ligação com algo que não poderia esquecer, mas apenas deixar para depois. Ali, a solidão me faz companhia e meu sorriso branco e perfeito são costumeiros. Seja por cumprimentar aqueles que passam por mim, raros, nos trajetos alongo do deserto, ou nas vilas que eu atravessava na minha rotina de vida.

Lembro de ser também bem calado,e  quase não falar, até porque não tinha ninguém. Pelo que me lembro, deixei minha família para tentar uma vida melhor e buscar algo....nunca soube o que era.

Numa das minha rotineiras viagens, eu segui as rotas normais, e me descuidei.  Parei num oásis, que eram geralmente algo de ladrões e saqueadores. Achei que não teria problema, se fosse rápido. Meu camelo precisava parar um pouco, eu havia errado a hora de saída e me atrasei. tive que mudar a parada, alonga outra, e ali estava eu. Eu tinha 16 anos. Sim, só 16. Minha pele morena, cabelo liso e caído no rosto, dividido ao meio, tinha as pontas queimadas do sol.

Quando percebi ele, vindo de trás dos arbustos, ele já estava a um braço de mim. Não tive reação e apenas senti aquela lâmina, curva, entrando no meu abdômen, do lado esquerdo. Quando olhei nos olhos deles, estavam sem vida, cínicos, vazios. Acho que isso me cortou muito mais. Uma inexpressão pela aquela ação que me senti morrendo. Eu perguntava, calado, o porque? Ele calado, respondia, por nada, apenas por ter que ser. Ao puxar o punhal meu corpo caiu junto para frente. Um frio tomou conta de cada parte de mim. Vi ele carregando meu camelo sem nem ao menos olhar para trás, assim, sem nenhuma cerimônia, foi indo. Eu, ali, imóvel sentindo o gosto de sangue na boca e da areia, só me sentia, cada vez mais cansado....fui fechando os olhos, aos poucos vendo areia, apenas a areia.

- Você não vai levantar daí?
Essa voz apareceu do nada e eu não conseguia identificar quem era o seu dono.
- Vamos, você já pode levantar....
Como assim? Ele não vê como estou?
- Sim, eu vejo, mas te digo, você já pode levantar!
Perai como ele me escutou? Fui levantando e olhando para atrás de onde estava vindo a voz. Ali vi um senhor, de branco, inclusive um turbante branco que acenava para mim ir ate ele.
- Venha, vamos ver o por do sol, aquela hora única do deserto onde o dia se encontra com a noite.
E realmente, era um momento único. Por aproximadamente 10 minutos o espetáculo se fez presente e inundou meus olhos de uma riqueza que me afeta e nutre até hoje.
- Vamos Radij, temos que ir.
- Como assim? Preciso ir atrás do meu camelo! Eu respondi
- Não mais, aqui não é mais um lugar para você, logo, se encontrarem seu corpo, nada será feito e se não acharem o mesmo acontecerá. Vamos seguir.
Olhei para onde estava caído e me vi lá,e  então entendi tudo. Eu tinha morrido.
- Vamos, não se preocupe, vamos em frente....

Assim a visão se foi e o deserto foi ficando para trás, e aquela vida onde a solidão foi minha companheira, também.


Resultado de imagem para deserto a noite

Yesterday



Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay
Oh, I believe in yesterday
Suddenly
I'm not half the man I used to be
There's a shadow hanging over me
Oh, yesterday came suddenly
Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday
Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday
Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday
Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday

É agora ou nunca...


sexta-feira, 10 de maio de 2019

Your shadow follows me all day making sure that I'm ok and we're a millon miles away.




The Moon Song
I'm lying on the moon My dear, I'll be there soon It's a quiet starry place Time's we're swallowed up In space, we're here a million miles away There's things I wish I knew There's no thing I'd keep from you It's a dark and shiny place But with you my dear I'm safe and we're a million miles away We're lying on the moon It's a perfect afternoon Your shadow follows me all day Making sure that I'm okay and We're a million miles away



sexta-feira, 5 de abril de 2019

é só hoje, e isso passa...

Sempre é mais fácil olhar para o outro e avaliar as posturas, atitudes, falas, etc.

É mais difícil se colocar no lugar do outro. Principalmente quando estamos magoados com o outro.

Isso acontece com todos. Porém o pior para alguém é quando está em dor ouvir do outro - "isso é vitimismo"

Sabe, e se for? A pessoa não merece ser acolhida? Não merece ter atenção? Não merece colo? Quando nos colocamos na posição de julgar a dor do outro como Vitimismo, como olhamos para nós mesmos?

Geralmente a incapacidade de se conectar a dor do outro acaba nos afastando da nossa melhor qualidade, de sermos compreensivos e termos compaixão uns pelos outros. Quando fazemos assim, quando somos seres cheios de compaixão, conseguimos falar línguas iguais, conseguimos nos comunicar, e evitamos desentendimentos. Quando não nos colocarmos em pé de igualdade com o outro, não nos permitimos conectar e assim o canal de diálogo fica compreendido.

E quando estamos no meio do turbilhão, entenda, você no inicio não verá saída, além de sentimentos de culpa, medo, revolta, tristeza e desânimo, que irão bater e estar em você por longas horas. Isso é real e não, não é frescura, nem vitimismo. Você precisa aceitar o que está sentindo mesmo que quem está a sua volta julgue e critique isso. Certamente essas pessoas tiveram o mesmo tratamento que hora dispensam. É a máxima da vida. Dão o que recebem ou receberam. É uma moeda normal de troca das emoções.

Preciso escrever pois assim me sinto melhor.




quinta-feira, 7 de março de 2019

I Want To Know What Love Is





I gotta take a little time

A little time to think things over

I better read between the lines

In case I need it when I'm older

Aaaah woah-ah-aah



Now this mountain I must climb

Feels like the world upon my shoulders

Through the clouds I see love shine

It keeps me warm as life grows colder



In my life

There's been heartache and pain

I don't know

If I can face it again

Can't stop now

I've travelled so far

To change this lonely life



I wanna know what love is

I want you to show me

I wanna feel what love is

I know you can show me

Aaaah woah-oh-ooh



I'm gonna take a little time

A little time to look around me

I've got nowhere left to hide

It looks like love

Has finally found me



In my life

There's been heartache and pain

I don't know

If I can face it again

Can't stop now

I've travelled so far

To change this lonely life



I wanna to know what love is

I want you to show me

I wanna feel what love is

I know you can show me

I wanna know what love is

I want you to show me

(And I wanna feel)

I wanna feel what love is

(And I know)

I know you can show me



Let's talk about love

(I wanna know what love is) the love that you feel inside

(I want you to show me) I'm feeling so much love

(I wanna feel what love is) no, you just cannot hide

(I know you can show me) yeah, woah-oh-ooh

I wanna know what love is, let's talk about love

(I want you to show me) I wanna feel it too

(I wanna feel what love is) I wanna feel it too

And I know, and I know, I know you can show me



Show me what is real, woah (woah), yeah I know

(I wanna know what love is) hey I wanna know what love

(I want you to show me), I wanna know, I wanna know, want know

(I wanna feel what love is), hey I wanna feel, love

I know you can show me, yeah



quarta-feira, 6 de março de 2019

E foi assim, solitário

Relaxa, vai, deixa acontecer. Solta o corpo. Apenas deixa ir....Não se preocupa. Confia....





Assim começou. Mil coisas na minha cabeça entre elas a velha pergunta:

- Será que vou conseguir ver?

A Karina continuava a entoar o mantra de relaxamento, quando comecei a ver e como se tivesse lido todo o enredo, já sabia o que ia acontecer, em resumo.


A imagem de uma menina. Devia ter seus 7/8 anos. Ela me olhava, sorrindo, banguela. O cabelo Dividido com duas tranças, uma para o lado direito outra para o esquerdo. Tinha muitas sardas no rosto. E sorria muito. Não via a mãe dela. Ela era minha filha. A mãe? Ela tinha ido embora, nos deixado, me deixado com a criança, com minha filha. Começo a descrever....As imagens voltam. Vejo  minha esposa. Com a criança. trocando as fraldas. Eu , ao contrário de antes estou visivelmente feliz. Vejo um sorriso de satisfação no meu rosto.

Eu, afinal sou um tipo comum. Rosto arredondado. Cabelo ralo, dividido ao meio, pouco cabelo. Preto. Um bigode. Não me acho bonito. Mas estou satisfeito, feliz. Minha família. Não percebo, mas a minha esposa está insatisfeita, infeliz.

Volta a cena da menina, da minha filha. Vestido azul, com detalhes coloridos. Ela é sorridente e falastrona. Me faz companhia. Eu não tenho nenhum semblante de felicidade. Na minha mente só fica pulsando:

- porque ela foi embora? O que eu fiz de errado?

Eu me torturava sobre isso, em questionando sempre, com esperança dela voltar.

A casa é simples. Parece ser nos anos 30, nos Estados Unidos. Casa de madeira. Pequena. A porta da sala, via-se integrada a cozinha, estilo americana. Dois sofás na entrada, marrons, e um aparelho de rádio. A frente da porta, uma bancada que dividia os espaços e delineava a cozinha. Uma geladeira azul, que combinava com um fogão azul. Uma mesa de jantar pequena, com 4 cadeiras, azuis. Havia uma porta na cozinha que dava acesso a parte de trás. Ao entrar pela porta da frente, a esquerda, um pequeno corredor. Seguindo neste corredor, logo a direita um pequeno quarto, de menina, dela, da minha filha. Logo depois um banheiro. E seguindo ainda, meu quarto. Com uma cama de casal de ferro. Um cabideiro de madeira, uma escrivaninha,e  um armário de madeira. Este quarto tem apenas uma janela para a parte de trás da casa. Assim como o outro quarto.

O tempo Passa. Na cozinha há uma cadeira de balanço de madeira. Eu sempre  me sento ali. Abro meu jornal e leio. Sempre. Essa imagem se repete muitas vezes. Não escuto o som da minha voz, só da minha filha, que com o passar dos anos vai diminuindo. Vejo ela crescendo e pouco estando comigo. Ela se torna fechada comigo. Só vejo ela sair e entrar na casa. 15 anos, 17 anos. Vou vendo as cenas. Eu pareço mais velho. Poucos fios de cabelo, brancos, bigode branco. Estou em casa mais tempo. Não trabalho mais.

Na frente da casa há uma calcada que vai da porta para a rua. Carros antigos ao longo da rua. É uma rua de várias casas. Muito arborizada. Na frente da minha casa há uma árvore. Parece ser um salgueiro chorão.


Vejo ela, minha filha na porta. Olhando para mim, com olhar triste. Uma mala nas mãos. Ela está indo embora. Há alguém lá fora esperando por ela. Eu ando com dificuldade. Tenho uma bengala. Ela sai, entra em um carro sem capota, e  vai embora. Eu fico, ali sozinho. Além do rádio tem um aparelho de TV.

Sou eu e a casa agora. A cadeira de balanço. O jornal de papel. Os dias passam. Iguais. Vejo o nascer e o por do sol. Parecem iguais. Eu sempre olho para porta. Será que elas irão voltar?


Estou deitado na cama. Cansado. Olho de rabo de olho para a porta da sala. Será que alguém vai entrar, elas irão voltar?


Estou cansado. vejo os detalhes da cama, de ferro, olho o quarto. Vou fechando os olhos. Cansado.


Depois vago pela casa. Vejo os detalhes de cada parte da casa. Não quero voltar para meu quarto. Olho do corredor. Vejo eu deitado lá. Os dias passam. Pessoas entram na casa. Tiram meu corpo de lá. Vejo agora um salão da pequena igreja. Será que elas irão vir? velório. Apenas um velho a antigo amigo aparece. Ninguém mais. Eu volto para minha casa. Está tudo cinza. Sem luz. parece um entardecer eterno. Fico na cadeira de balanço. Olhando para rua. Não vejo ninguém. Não sei quanto tempo passa.

Uma mulher chega na porta. Pergunta se pode entrar. E apenas olho para baixo, para o chão e balanço positivamente a cabeça.

Ela entra. pergunta se eu estou bem. Eu novamente repito os mesmos gestos.
Ela me pergunta se eu não gostaria de fazer uma caminhada. Saímos, pela porta de frente. 5 passos e eu paro. Sei que eu uma despedida da casa, daquela vida. Meu coração aperta. Ela sente. Ele vira pra mim e diz:

- Sim, pode se despedir da casa

Eu viro de volta para a casa. Olho cada detalhe daquele lugar. Meu coração agradeço por ela ter sido a única que não me abandonou. Que ficou comigo ate o fim. Não falo nada. Só penso. Meus olhos enchem de lágrimas. Como se eu estive me despedindo de um membro da família. Vejo cenas, passadas e uma lágrima escorre. Viro, e começo a caminhar com a mulher. O cenário muda. Jardins, calçada de paralelepípedos. Cegamos de frente a uma casa. Uma casal de senhores, da minha idade saem com sorrisos acolhedores. Vou ficar lai com eles. Em convidam para entrar. Assim que entro, em emociono. Na sala a minha cadeira de balanço está lá.

- Sim é a sua.

Eu sorrio. Um pequeno sorriso. Me instalo. Os dias passam. Como parte da adaptação preciso trabalhar em alguma frente. Me vejo um pouco mais jovem. Cabelos, poucos, porém, não mais brancos. Eu ajudo a receber as pessoas ali, que vem do outro lado da vida. Me sinto feliz. Útil. Sorrio mais. Ainda falo pouco.


- Vem, agora a vez de você receber ela, sua filha.

Meu coração dispara. A dor que nunca foi embora, dor da solidão, de ser abandonado volta. Eu a recebo. Ela me reconhece, em abraça e chora muito. muito muito. Eu choro também. Ela pede perdão, por ter me deixado pra trás. Eu digo que não teve problema, que estava tudo bem.

Eles me explicam então, que eu era muito fechado. Solitário mesmo com companhia. E isso gerou nelas uma solidão que não conseguiram suportar, por isso me deixaram. Que eu deveria perdoar, inclusive minha esposa. Eu entendo tudo. Meu coração sereniza. Estou em paz agora.


Acaba a regressão.....




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Você, a única razão!






Nada demais. De repente como se fosse um simples ato de lembrar, uma escolha, imagens voltam a se formar. Como se eu simplesmente escolhesse lembrar ou não lembrar. A questão é, e sempre será, eu imagino isso, desejo isso, crio isso, ou simplesmente acredito e assim abro espaço para que voltem a minha atual consciência. Se é assim, tudo bem, novamente me permito ver, rever, te ver. O Coração guia os passos.

Novamente vejo meus pés, sob uma estrada de cascalhos. Sapatos velhos e desgastados, meus olhos fixam nessa estrada. Eu pareço guardar imagens pois fico olhando para a estrada que segue ao horizonte. Me percebo calmo, mas pareço esperar algo, alguém. Ao horizonte percebo e vinda e a aproximação. Cada vez mais se aproxima. Eu praticamente já sei o que vai dizer.
- Não me olhe assim, não me atrasei tanto.
- Não se atrasou como da ultima vez, mas você não conseguiu chegar na hora. Sabe como o padre faz cara feia quando nos atrasamos para a missa.
- Ahh, André, só você mesmo para me tirar de casa nessa manhã tão linda de domingo para escutar o padre Alfredo repetindo as mesmas pregações. E ele nem lembra que as repete...
 Nesse momento seus cabelos levemente cacheados e loiros se mexem, harmonicamente com o vento enquanto seu sorriso ilumina e me faz esquecer qualquer atraso. Você sempre foi o motivo para que eu continuasse qualquer coisa, suportasse qualquer coisa, minha maior razão. Essas lembranças hoje não me bastam, mas ainda, elas, seu rosto, seu sorriso, sua alegria sua ingenuidade me fazem sangrar pois não há mais graça, nem motivos para eu permanecer aqui.
Essas são as lembranças que carrego, e nesta ultima tentativa, meu desabafo, meu reconhecimento, minha loucura. Esses são os momentos que guardo de você, de nós, do pouco tempo para mim que foi ter vocês....

Lembro daquela manhã. Lembro de cada detalhe daquela manhã e de tantas outras.

- Vamos, apresse o passo André, se não vamos chegar atrasados e o Padre Alfredo vai reclamar....ahahahahahahah

- Você sempre faz piada sobre isso, venha cá, agora você corre né?!!!!

Você sempre brincava com tudo, sempre via tudo com esse seu olhar de menina, pelo menos até aquele dia...


Quando adentramos na pequena igreja, não foi impossível prever a cara do padre a nos ver entrando, atrasados e juntos. Quer dizer, todos na nossa comunidade sempre nos viam juntos, e isso não era estranho, e sempre às missas estávamos atrasados, e isso também não era estranho. Sim, nossos pais estavam lá, e  para avariar sentados juntos na mesma fileira. Minha irmã caçula, e seu irmão um ao lado do outro.

- Deus, meus filhos, tem sempre um motivo maior nas suas ações, e precisamos aceitar isso

Nunca lembrei de uma só pregação do padre Alfredo, mas essa não me deixa um dia sequer....

Incrível como nosso primeiro beijo aconteceu. Nunca, eu acho, você poderia esperar aquela atitude minha, pois, como certa vez tinha me revelado, sempre me via como o amigo que desde nossos 8 anos de idade convivíamos juntos. Para mim era natural. Inclusive desde os 15 anos eu já percebia você diferente para mim. Você, é claro, sempre brincalhona, não percebia meus olhares e as muitas vezes que ao tocar sua mão, já era com outra conotação. Eu não tinha coragem, pois tinha medo da sua reação. Apesar de frequentarmos a mesma escola da comunidade, ficávamos mais "livres" de tarde, após as tarefas. Quando nos encontrávamos debaixo da mesma árvore na subida do morro, a esquerda da sua casa. De lá, víamos e escutávamos todos. As casas, as pessoas, as conversas. Lembro que adorávamos fingir conversas entre as pessoas, e como isso nos divertia. Foi numa oportunidade dessa, quando falávamos nos fazendo ser pelo Senhor Albert e a senhora Luíza, que te beijei, eu nunca esqueço.

- Ali André. O Senhor Albert de novo esta levando flores para Dona Luíza. Vai, começa vai...
- Tá, tá....." hummm, será que dessa vez ela vai gostar dessas flores, da ultima ela passou mal com o cheiro...deixa eu apressar o passo....."
- Ele vai chamar ela lá fora André, vai vai....
- Tá bemmm....." hummm Luizinhaaaa, minha flor vem aqui fora ver uma coisa" - Sua vez, a Dona Luíza vai sair....
- Tá, sou eu.... " Oi Albertinho, você já chegou. O que foi?"Você André..
- Sim..." Luizinha, olha aqui o que eu trouxe pra você !
- O que foi dessa vez Albertinho? Ahhhhh que lindas, são margaridas, EU AMO MARGARIDAS!!! me dá uma bitoca Albertinho...Vai André ...
- hum?...

Quando te vi olhando para o casal e esticando os lábios pra mim não pude deixar, ou apenas me fiz de bobo. A questão é que a reação a isso foi explosiva. Acho que por um minuto você achava ou ficou pensando se eu estaria no "papel". A questão é, que quando se deu conta que eu nem mais me importava com o Casal lá embaixo, sua reação foi de surpresa e espanto.
- Você tá doido???? por que?André?


Vi você se afastando de forma tão assustada que vários medos me tomaram naquele dia......



Fiquei alí, olhando para você se afastar. Depois me perdi olhando o horizonte. Dialogava comigo mesmo me perguntando se tinha feito o certo. Prometi que não tentaria nunca mais te beijar sem que percebesse que você realmente queria. Olhei o por do Sol como fazíamos, eu nunca deixei de fazer isso....

No dia seguinte, eu acordei, e me perguntei se era verdade ou se eu teria sonhado com aquilo. Fiquei por um momento confuso. Já era hora da escola então em apressei. Lembro de que ao não te ver na escola meus medos foram aumentados. Quase não prestei atenção nas aulas.
O Dia passou de forma lenta e preguiçosa. Eu aguardava loucamente a hora de ir para a árvore.  O caminho da minha casa até lá não passava perto da sua casa, e  só conseguia ver a árvore no alto do morro quando já estava perto. Quando meus olhos começaram a ver a pedra que sentávamos vazia, meu coração doeu. Me aproximei com passos pesados e muito cabisbaixo. Acho que por isso não percebi nada. Sentei de costas para sua casa, olhando para o horizonte contrário, vendo a árvore a minha direita e o resto do vilarejo.

- André?

Aquela voz suave, e com um tom medroso, me tirou do desânimo.  Quando virei meus olhos, te vi levantando-se de "trás" da pedra. Não tinha te visto ali.

- Oi, Oi Ana. Você estava aí? Eu não te vi.
- Sim, na hora de sempre né?
- É...na hora de sempre, Ana...deixa eu te falar...
- André....

Engraçado na hora não percebi. Mas você estava diferente. Mais Séria. Você me olhava diferente.

- oi Ana. o que foi?
- Eu não entendi aquilo
- Aquilo?
- Sim o beijo
- Ana, se você não entendeu algo tão fácil de entender, o que eu poderia explicar?
- Mas André....

Lembro que você parecia confusa...

- André preciso entender isso. Vim aqui pra te dizer isso. Assim que eu entender eu te procuro...

Você, nos momentos mais difíceis sempre pedia um tempo para pensar. E seus olhos mostravam o quanto estava confusa....


Sabe, agora, aqui percebo uma ironia nisso tudo. Que muitos momentos foram especiais, quando estava aflito por você não estar presente de verdade, mas por sua companhia estar comigo independente de estar fisicamente. Acho que essa ideia me conforta.

Acho que isso é amar. Isso é o que o amor significa de verdade.

Bem, foram alguns dias estando só. No inicio era estranho, mas depois passei a acostumar. Ia todos os dias até a "nossa" árvore e sentava na mesma pedra, como fazíamos. Não deixei o ritual. Até que um dia, ao subir vi sua silhueta sentada na pedra. Me aproximei com passos vagarosos mas com o coração acelerado. Em mim uma certeza. Era hora de resolver tudo. Forjei, nos passos que restavam falas e palavras elaboradas para qualquer situação que fosse acontecer. Estava preparado. Pronto. Era agora. Chega de esperar. As pernas tremeram quando estava atras de você. Quero voltar. Não vou conseguir. Sentei ao seu lado. Você já tinha me visto. Silêncio. Olhos no horizonte. Você vidrada no horizonte. Eu nervoso. Olhando e fingindo calma. Afinal, que isso? Porque desse silencio? Será que é algo bom? Ou não? Vou falar. Não vou esperar. Ela tem que ter o espaço dela. Tudo bem. Mas e eu?
Mas, e se, será?

- Ana, queria ....

Não foi preciso terminar a frase. Você se virou e me beijou. Simples como o momento pedia, perfeito como hoje penso ter sido, normal para quem não viveu o momento.

- Ana....
- André é o natural a acontecer. Eu estava confusa e não via. Mas depois percebi que é você e sempre foi......
Desde esse dia, os 4 anos seguintes foram de sonhos, brigas, algumas, e muito companheirismo. Claro, quando conversamos com os nossos pais, houve um temor inicial, mas depois eles se acostumaram com a ideia. Inclusive com o passar dos anos, até começaram a planejar o que seria nosso casamento. Você se lembra desse dia? Como eu poderia esquecer. Lembra quando comunicamos nossos pais que sentíamos que era a hora? Até porque tínhamos planejado apenas termos algo mais sério, intimamente, depois do casamento. Eles começaram a planejar, onde seria a cerimônia, falaram dos detalhes, e nós impomos uma condição. teria que ser lá, no alto, na subida, na nossa árvore, ao lado da pedra. Local o qual fazia parte da nossa história.
Aquele dia foi realmente diferente. Primeiro porque tudo estava tão perfeito. Nossa família, nosso lugar, você vestida de branco, com uma tiara branca na cabeça. Seu sorriso fazia tudo ficar mágico. Escolhemos o por do sol.E foi lindo.

- André aceita Ana Clara como sua esposa....
- Aceito!
Ana Clara, aceita André como seu esposo....
- Desde sempre!

Nunca esquecerei sua resposta!

Vivemos sonhos, sorrisos, dividimos responsabilidades, brigamos, choramos e depois de 5 anos, você pediu para te encontrar no alto do morro, no nosso lugar, que era também o quintal da casa que nossos pais construíram para nós. Não entendi bem, mas fui lá, no fim da tarde.

- Clara, não entendi bem? Não poderíamos nos encontrar lá em casa?
- André, tudo de especial vivemos aqui, não foi?
- Sim, mas...
- Então, porque eu iria te contar que não seremos mais só eu e você em outro lugar?
- Hum? Eu?Você?...
- Sim André, somos eu, você e nosso bebê, estou grávida!
- Sério? Meu Deus, sim, sim, não poderia ser em outro lugar....

Aquele dia talvez tenha sido o dia mais feliz, depois do nosso casamento. ainda ficamos ali, sonhando, planejando e vivendo....


Foram 8 meses, quase 8 meses desse sonho. Engraçado, lembrando agora, lembro de você cada vez mais cansada e com mais vontade de estar deitada ou sentada. Eu achava isso normal. Até que você sentiu um forte dor no pé da barriga. Já tinham se passados quase o tempo para o nascimento. Você se contorcia e pedia para chamar sua mãe. Eu corri e chamei....Deus, como sair e te deixar caída na sala se contorcendo de dor? Quando eu e sua mãe chegamos, pediu que eu chamasse o Dr. Antônio e a parteira Ana. Fui o mais rápido que podia. Na volta, minha mãe ajudava a sua, já com você no nosso quarto. Meu Pai e o seu pai do lado de fora da casa, com olhares preocupados e sorrisos amarelos, tentando espantar o que os olhos mostravam. Não me deixaram entrar com o Dr. nem com dona Ana. Seus gritos não diminuíram. Seus gritos não diminuíam.  Minha angústia só aumentava. Nem sei ao certo quanto tempo passou. Até que um silêncio mórbido se instalou. Eu entrei, sem saber ao certo, sem ser chamado, entrei. Nossas mãe se abraçavam e choravam. Nossa menina, na mão da dona Ana, sem vida, e você, ainda, com a vida escapando, olhou para mim, e disse:

- André, me perdoe....

E foi assim, que por breves momentos vivi, respirei e sonhei você...