Mais uma vez, as portas se abrem....
Eu era um menino encabulado, tímido mesmo.....Desde pequeno precisei trabalhar com meu pai na fazenda dos Ucchi.
Família Rica, detentores de alqueires de plantações de uva.
Katarinne.
A primeira vez que a vi, me escondi, e ela para variar, veio e me achou. Sim, ela me achou, de novo, e de novo, e de novo. Tínhamos quase 5 anos.
Cresci Com aqueles olhos verdes e cabelos loiros cacheados correndo comigo.
A adolescência veio com momentos de solidão, porque Katarinne estudava em outra cidade, e vinha apenas passar férias. Eu aguardava aqueles momentos, como os mais preciosos que eu pudesse tê-los na minha vida.
Coração palpitava. Pulava quando a via chegando. A casa, a propriedade enchia-se de vida. Sempre a mesma coisa. Ela chegava, gritando pela casa, e depois saia correndo para a vida, para mim. Eu me completava.
Já estava com meus 15 anos e Katarinne com seus 14 e meio, como ela gostava de falar.
-
Pedro, sabe que um dia eu não vou voltar mais né. Perguntava, afirmando, para, como sempre ver minha reação.
-
Sei. Eu sei. Eu sempre respondia desviando meus olhos dos dela. Não queria que ela visse minha tristeza.
Mas dessa vez ela se postou a minha frente, eu estava sentado ao lado dela, e aguachada , pegou meu rosto e levantou delicadamente.
-
Porque não me olha nos olhos quando responde a essa minha pergunta. Perguntou ela com uma voz suave.
-
Não gosto de pensar nisso. Respondi.
-
Por que Pedro? Olha pra mim!!
Levantei os olhos e algo me tomou. Ela também percebeu que algo havia nos invadido. Nossos olhos ficaram juntos. Nossos lábios se procuraram. Meu coração parecia que ia sair pela boca. O medo que me tomava estava ali, eu o sentia. Medo de sua mãe, tão rígida, aparecer.
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Mas quando beijei seus lábios, meu medo sumiu. Era como se tudo fizesse sentido.
Como se a espera não existisse mais. Como se o ontem fosse realmente passado e o hoje o futuro por mim tão aguardado. Ninguém mais importava. Um jeito diferente de estar em paz. Calmo. Meu corpo respondia como se tivesse sido decifrado. Era você afinal que tinha a chave. Que trazia o que faltava para me preencher. Que vinha e não ia mais. Eu e Você. O beijo durou alguns segundos, mas foi um tempo que ninguém entenderia.
Quando abri meus olhos, eu chorava e não sabia como e nem porque. Mas você também estava chorando. As lágrimas escorriam. E nós só conseguíamos ficar a meio milímetro, um da boca do outro.
Eu um menino pobre, tímido, e você, rica, desinibida e linda. Nada disso fazia sentido, nem contava.
De repente. Uma voz. Conhecida. Autoritária. Bradava como sempre.
De repente o mundo voltou a girar.
De repente a magia foi-se cessando
Era quem dava as ordens e comandava a vida dela. Mas ela era minha. Isso não estava certo....
Ela se afastou, distanciou-se. Foi-se. Aquela fora nossa primeira vez. A vez que nós reencontramos. A vez que reconhecemos um no outro.
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pode-se achar que uma linda história não acontece a não ser que estejamos lendo um livro. Não estamos atentos de verdade. Vivemos isso várias vezes numa mesma vida. Preste atenção.
Sim, depois de algumas dúvidas e um gosto amargo de saudade, ela estava de volta, Mais velha. Eu também. Ela com 18 anos e eu com meus 19 anos. Eu mudei. Estava mais sério. Olhar penetrante. Ela mais linda, feliz. Nos encontrávamos sempre na volta. Eu ficava inseguro, claro. Ela "só" era minha na volta à fazenda, nas férias dela. Chegamos uma vez a discutir isso, e foi horrível. Até que ela veio e me disse aquilo.
-
Pedro. Não quero brigar com você. Com você não. Não aceito! Todas as outras pessoas são iguais, mas você não é!
- Mas Katy, você só vem para cá nas férias. Enquanto isso...
- Mas venho Pedro, eu ainda venho...porque se preocupa com algo que não deveria se preocupar?
- Eu só sou suas férias...só isso
- Você é meu descanso, meu lugar de me refazer, onde eu escolho esta e não onde sou obrigada a estar...
- Tenho medo quando você se cansar de vir...
- Tenho medo de você não me esperar mais Pedro...
- Mas eu sempre te esperei...
- E eu sempre vim...
Nos beijamos. Forte. Não queria deixa-la mais. Precisava ser eu nela e ela em mim. Meu suor se misturou ao dela. Minha saliva, meu eu. Não podia mais segurar nosso amor. Assim foi. Fomos. Viramos amor, amor. Vivemos. Sentimos. Sempre olhando um dentro dos olhos do outro, sempre. Assim descobrimos nosso amor, de novo, juntos, um no outro.
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Ela se foi. Não consigo acreditar. Tudo tão rápido. Tudo tão sem propósito. Minha cabeça gira. Minha cabeça dói.
De novo as imagens vêm a minha mente.
Eu tocando seu corpo novamente. Eu, ela, nus. Novamente. Era a nossa despedida daquelas férias. Foi nossa despedida das nossas vidas.
De repente, ela entra. o Celeiro que parecia intransponível ficou desguarnecido. Puxando Katerinne pelos cabelos.
-
Como pôde? Com esse aí? Eu não lhe dei do melhor para isso. Sua mãe gritava.
Ela se foi, arrastada, seminua aos gritos, humilhada. Ela se foi. Minha. Ela se foi.
Fui chamado pelo Pai de Katerinne. Ativo. Senhor de si e bondoso. Mas manipulado pela sua Senhora. Esta má, esnobadora.
Eu envergonhado pela situação que coloquei minha família.
Meu pai curvado se desculpava por mim. Minha cabeça rodava. As vozes naquela sala nada diziam. A voz de Katerinne havia sido emudecida. Ela não estava mais na casa. Foi levada de volta ao colégio.
-
Carlos retire sua família de minha propriedade imediatamente. É uma pena mas nada pode ser feito.
- Sim senhor!
- NÃO! Gritei e levantei a voz a todos ali. pena que aquela mulher louca não estava mais ali para me escutar. Pena não poder pegar minha Katerinne.
-
O que é isso meu filho, olha o respeito. Falou meu pai, ainda mais preocupado.
-
Não é falta de respeito pai, e ter voz, coisa que nunca tivemos. Sr. Antonni, me perdoe, mas nada de ruim foi feito aqui. Eu amo sua filha. Ela me ama. O que vivemos foi a expressão disso. Não fiz mal algum a ela. O que aconteceu foi o que ambos desejamos. Sou de família humilde sim, mas nada disso me impede de ter uma vida de respeito e dedicação à sua filha...
- Chega! Cale a sua boca moleque...e saia já daqui!!!
- Sim senhor Antonni, vamos sair! Falou meu pai.
-
Não! Não vão. Se alguém vai sair sou eu. Eles não sabiam de nada Senhor Antonni. Eu vou embora. Meu pai não sabe fazer outra coisa do que viver para esta propriedade. Eu vou, eles ficam. Não volto aqui.
- Então que seja. Vá embora!
- Sim, eu vou, mas prometo-o que um dia voltarei não como o filho do empregado mas como o dono disso tudo!
Virei-me. Sai como estava. Despedi de meus pais e pedi que continuassem ali, pois eu iria voltar e comprar aquela propriedade para eles. Não apenas para eles, mas para mim também. Ali fui feliz como nunca. Ali um pedaço meu estava, porque lembrava de Katerinne.
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Meu cavalo atravessou aquela entrada como se ali fosse seu território. Quando chegava a casa principal, minhas memórias traziam de volta aquelas crianças correndo, brincando, aqueles jovem juntos, aqueles adolescentes se amando. Via ela correndo em volta do meu cavalo, seu sorriso, seu olhar, como a me dizer..
-
você voltou como havia prometido....
- Meu filho....meu filho.
- Mãe, que saudades.
- A muito tempo esperava por esta chance mãe, pena que papai não está mais aqui.
- Mas ele está filho, Sr Antonni deixou que enterrássemos ele aqui. Sr. Antonni nunca mais foi o mesmo depois que a esposa suicidou. Por isso e depois que aqui ficou só resolveu colocar a propriedade a venda. Ele partiu ontem, levando apenas algumas roupas. Ele disse que não queria mas nada daqui. Acho que depois que ele soube que você comprou a propriedade, ele teve certeza que perdeu tudo que tinha de mais precioso naquele dia quando expulsou você e deu ouvidos a esposa mandando a filha para a escola interna.
- Imagino...Mãe e Katerinne?. Falava abraçado a ela indo em direção A casa principal. Paramos em frente as escada que levava as portas, grandes, de madeira maciça, da entrada. Quantas vezes brinquei com ela ali.
-
Katerinne? Você nunca a esqueceu não é?
- Não mãe, nunca!
- Depois daquele dia, passou muito tempo, para ela voltar aqui. veio algumas vezes, e em uma delas, apesar de não me perguntar eu a via aqui por perto, rondando nossa casa, talvez na esperança de saber noticiais suas. Ela também não te esqueceu. Depois que a mãe se matou, nunca mais voltou e conversava com o pai por cartas. Numa delas ele chorou muito. Eu peguei a carta meu filho. Ela comunicava ao pai que havia se casado e estava grávida.
- Grávida? Baixei meus olhos.
-
Sim grávida, ela sabia que seria um menino e avisava ao pai que o filho se chamaria, PEDRO!
- hum?
- Ela nunca te esqueceu meu filho...
Meus olhos se encheram de lágrimas. Olhei para minha mãe sem pronunciar uma palavra. Deixei ela no pé da escada e fui subindo, degrau a degrau. Minhas botas, meus pés, meus passos me levavam de volta àquela porta. Empurrei aquelas velhas e pesadas portas. As portas se abrem....
-
Katerinne......