sexta-feira, 29 de abril de 2011

17 anos atrás

Há exatamente 17 anos atrás minha vida começa a tomar o rumo para os lados que hoje eu estou. Lembro bem quando no dia 29 de abril de 1994, uma sexta-feira, também, aproximadamente às 21 horas o telefone toca na casa de minha avó (que eu me lembre ainda morávamos com eles, e o telefone era aquele de disco) e eu atendo:
- Aloooooo. vou dizendo!
- Tô ligando só pra dizer que seu filho nasceu!
- Creuza? Ahmmmm?? Como assim? Nasceu?
- Sim!
- Ehhh....mas...é pra eu ir para ai agora?(eu tinha, 17 anos, menino de tudo)
- Não. Pode vir amanhã!
- Ahhh tá....amanhã tô ai.....tchauuuuu!
- tuutututututututututut. já tinha desligado.
No dia seguinte, cedo, fui, à pé até uma floricultura (minha mãe me deu o dinheiro e o vale transporte), na quadra oito e comprei um buquet de rosas (mistas, de várias cores, eu acho) e escrevi um bilhete(não me lembro bem, mas algo como que agradecendo à Deus o presente que ele nos enviou e à Patty também e pedindo ajuda para ser um pai exemplar). Fui para a parada de ônibus na quadra 8  e entrei num 512 (número do ônibus) durante o trajeto ia me preparando para o clima péssimo que iria encontrar e as caras feias. Ensaiava  o futuro tentando prever como seria dali a alguns anos. Se estaria ainda junto à mãe desse rapazinho, que corajosamente vinha no seio de tantas brigas pela sua geração e pelo nascimento. Não nego que me preocupei e senti um grande aperto no peito (tinha 17 anos apenas, era um menino ainda).
Ao chegar ao hospital da Unimed, no fim da W3 sul, fui à portaria e disse o numero do quarto. Que ia fazer uma visita.
- E você? quem é?
- Sou....o .....pai....(encabulado, sem graça e ao pronunciar aquelas palavras e sentindo um peso caindo nas minhas costas). A mulher me olhou de cima em baixo e indicou a direção.
Ao chegar no quarto, como havia previsto o clima não era de nascimento mas sim de enterro (uma pena pois este serzinho que acabara de chegar mudaria e me transformaria como ser humano). A cara de raiva, rancor e tristeza da avó era quase insuportável, mas eu tinha apenas 17 anos, era apenas um menino, e para mim, eu era o responsável pela aquela tristeza toda! (tristeza? é nem sempre entendemos e aceitamos os presentes que Deus nos envia, daí, como as coisas não acontecem como queremos e achamos ser certo, ficamos assim, rancorosos, triste, e temos que culpar alguém). Me revestir de uma capa(invisível) liguei meu piloto automático e deixei acontecer, tinha quer ser o homem que não existia em mim. Patty estava tomando banho, com a ajuda da Tia dela, e em meio as palavras ríspidas e grosseiras de sua mãe. Esta tinha que dificultar ao máximo tudo, claro, pois a maior tristeza da vida dela tinha sido feita por aqueles dois irresponsáveis. O clima era péssimo, e sei o quanto foi necessário por parte da Patty se calar e aguentar tudo, mas, poxa, ela só tinha 16  anos era uma menina ainda!
Ela até então não tinha visto o próprio filho, pois o Lipe nascido de oito meses, as pressas  numa consulta de rotina com a médica, constatou-se a necessidade urgente do parto, prematuro pois ele corria o risco de morte.
Fomos os dois juntos conhecer àquele que chegara para mudar nosso mundo. Ele estava numa incubadora, pequenino, frágil, quietinho, como sempre, não querendo atrapalhar. Meu Deus, este serzinho vai depender de mim? E de quem eu vou depender? Um medo me tomou, a cada minuto a nova realidade se apresentava e me fazia descer do conto de fadas que eu vivia.
Toquei de leve na sua perninha, no seu pezinho. A Patty, sem palavras só sorria e tocava nele também. Nos abraçamos e por um minutinho fomos felizes no meio de reclamações, caras feias e tristezas.
No dia seguinte, fui novamente visitar, e nos seguintes. Até que ele pudesse enfim ir para casa.
17 anos atrás meu caminho começava a se tornar visível. Não me arrependo em nada das decisões que tomei, nenhuma delas. O que sou hoje é responsabilidade desta decisões, mas também, culpa daquele rapazinho que bem calmamente veio fazer parte da minha história nesta encarnação.
Filho, tenho muito orgulho de poder dividir esta vida com você. O papel que me cabe hoje frente à você é devido a muitas coisas minhas e suas que precisamos viver, mas que certamente são em sua maioria vindas de nossa semelhança. Hoje, depois daqueles dias, muitos dias, olho para trás com uma saudade infantil, daquele menino que eu era e que se foi, e que hoje o homem o quer de volta para ajudá-lo a passar por dificuldades menores do que ele passou lá atrás!

Parabéns!






Até.....

terça-feira, 19 de abril de 2011

Saudade

Lembro que quando os meus "problemas" começaram a terem importância, nos meus 15, 16 e 17 anos e eu ficava triste, depressivo, minha avó sempre vinha, colocava minha cabeça em seu colo, passava suas mãos pelo meu cabelo e conversava muito comigo. Sabe, aqueles momentos de convívio com a senhora foram muito importantes para mim, e hoje as lágrimas que surgem em mim ao lembrá-los trazem junto a lembrança de suas palavras. Apesar de lembrar sempre com muita alegria de tudo que pude desfrutar, naqueles dias, anos, sinto falta das suas palavras. Não quero parecer bobo mas sempre que tais sentimentos de tristeza voltam eu reluto, tento me mostrar bem. Na verdade "vó", devo confessar que nunca consigo de verdade, pois o menino aqui dentro ainda se sente do mesmo jeito de antes, perdido e sem saída, só que agora sem suas palavras para me ajudarem. Sua filha  é excelente e me ajuda demais, mas suas palavras "vó" me fazem falta! As vezes, preciso demonstrar força, serenidade, leveza, para ajudar os outros e para isso me lembro das manhãs em que a senhora sempre cantando fazia o almoço. As lembranças daquele tempo sempre que preciso esquecer meus problemas e me parecer ótimo para os outros, me ajudam! Mas suas palavras fazem falta!
Minha vida sempre foi rica, minha lembrança hoje, de tudo que ficou para trás é um lugar que sempre vou em busca de minha essência. Mas aqueles anos, felizes, em que convivi com a senhora e com meu avô são incomparáveis. Nunca tive a chance de agradece-la por tudo que tive da senhora, mesmo as broncas, e hoje, em meio à volta de sentimentos que me deixam tristes e "pra baixo", é que me lembro disso tudo. Não é justo, mas minhas lágrimas que hoje saem e que tento conter, apenas refletem o menino assustado e precisando de seu colo.
Obrigado minha querida avó por sempre ter uma palavra sábia e por continuar a me acalentar, mesmo que minha memória consciente não lembre, meu coração e meus olhos denunciam isso.

Do seu neto
"Dani"