CONTINUANDO...." A ponta da flecha penetrou meu plótus - como chamávamos a parte do peitoral,espécie de armadura, que havia o símbolo de César em detalhes dourados - numa velocidade e precisão que ao tocar minha carne, dilacerando os tecidos à medida que penetrava em meu peito, a sensação foi de uma picada, leve, rápida, mas muito dolorida. Na verdade o momento em que a flecha penetra não é percebido pela dor mas sim pelo impacto que o corpo sente. Um baque que faz seu tronco ser jogado para trás. Como estava segurando as rédeas não fui, imediatamente, ao chão.
Depois vem o pior. Sua mente assimila o golpe e o corpo todo reclama o objeto estranho invadindo seu espaço. A sensação de incômodo era horrível.
Eu ia cair, eu sabia. Meu cavalo era treinado, como da maioria dos cavalos dos generais, para quando sentisse a lâmina do gladio batendo eu seu dorso corresse em disparada. Fiz um esforço maior que minhas forças aguentariam para me segurar enquanto o cavalo cumpria sua missão.
É incrível como eles sentem o perigo, a adrenalina dos seus de quem os guia.
Os cavalos de guerra de Roma eram realmente animais estupendos. Sempre adorei estas espécimes.
É incrível como eles sentem o perigo, a adrenalina dos seus de quem os guia.
Os cavalos de guerra de Roma eram realmente animais estupendos. Sempre adorei estas espécimes.
Durante, eu acho, algumas horas me mantive inclinado pressionando entre meus dedos a flecha, com uma parte atolada no meu peito, tentando diminuir o fluxo de sangue que teimava em deixar meu corpo.
Lapsos de consciência me tomavam. Eu estava fraquejando. Minhas mãos estavam dormentes com as rédeas sendo apertadas. Meu ombro direito estava sem força. Eu sentia as consequências do ferimento.
Em Roma desde os soldados até os generais éramos treinamentos sobre a fisiologia e morfologia do corpo humano. Estudávamos com cadáveres, que ainda, como chamávamos, estavam frescos para perceber como o corpo reagia a um ataque com todo tipo de armas. Sabíamos onde atacar para provocar a queda do oponente. Assim, também sabíamos o que aconteceria conosco quando éramos feridos.
Eu estava a um passo para desmaiar. Ia cair, era fato. A questão era se estava distante suficiente dos meus inimigos. Não saberia, como não sabia.
A queda, inevitável, aconteceu. Senti o gosto da terra na boca. A dor aumentou com o pancada. Eu precisava quebrar a flecha. Nunca retirá-la. Isso poderia causar um estrago, à nível interno maior. Entrar é uma coisa, sair, arrancada é outra. O sangue em volta estaria coagulando. Se puxasse seria desastroso. Juntei todas as minhas forças para quebrar a flecha num ponto que me permitisse maior mobilidade.
Indescritível a sensação. Doí retirar uma simples lasca de madeira que entra na sua pele? Então multiplique em 1000 vezes a sensação.
Juntei minha forças. Gritei! Não tinha como evitar. O resto de consciência em mim foi-se com aquele esforço. Mas eu a quebrei!
Imagens começaram a surgir na minha mente. De minha época de menino. Minha casa. Os escravos, que eram tratados muito bem, do rosto de Lia, minha mãe, as brincadeiras com os gladios de madeira. Sempre sonhei em ser um soldado de Roma.
A visão que tinha da planície da minha casa. As tardes no jardim. Os escravos, o rosto de Lia....os escravos que me acompanhavam.....meu pai....a ida à roma, de meu pai, atendendo ao chamado do imperador. A despedida. O aperto no peito. O adeus. Meu pai, meu símbolo, meu ícone.
Derrepente vozes ao fundo me despertam.....tinha que levantar......não conseguia.....me forçei...as vozes se aproximavam......desmaiei."