Não sabemos ao certo onde nossas
escolhas nos levam, antes de tomá-las. Mas isso não pode ser motivo para
permanecermos na inércia. Estamos sempre, quando encarnados, principalmente,
sujeitos a escolhas, decisões que nos definirão no futuro. Aonde iremos, ou
melhor, onde nossas escolhas nos levarão é sempre motivo de receio para uns e
de estímulo para outros. Assim, de escolhas em escolhas vamos colhendo os
resultados que nos fazem crescer, amadurecer e na maioria das vezes regados a
sofrimento e lágrimas, pela nossa natureza imperfeita.
Os caminhos tomados, muitas vezes não são os certos, mas
também não são os errados, pois na estrada do aprendizado tudo que precisamos
acontece, todas as pedras, tropeços, caídas, tudo, tudo sempre nos leva à luz.
Dessa forma, imagens, cenas,
diálogos, culpas, responsabilidades, tudo, resumido à escolhas formam o enredo
de vidas e vidas que vamos tendo, onde os principais atores estão, vez por
outra sob o manto de personagens, nas encarnações, que tem como único objetivo
a felicidade.
O que se desenrolará à seguir
neste cenário que está prestes a entrar, não é nada demais quando comparado às
lições que tivemos decorrentes das escolhas que tomamos.
Algumas lembranças são tão vivas
em mim que quase posso tocá-las, como se fossem algo palpável. Os sentimentos,
invariavelmente, que vem junto a tais lembranças, são as únicas coisas que
tento amenizar, mas como um passageiro que assiste a tudo sem ter como
modificar o caminho que já foi percorrido, volto a senti-los, condenado por
tudo que fui responsável. Às vezes o que mais me atormenta são as cenas dos
momentos decisivos, marcantes, sofridos, onde ao revê-los busco alternativas
para que minha consciência me poupe. Não há. Já foi. Porém, incríveis são os
momentos de calma e tranqüilidade vividos, são os que mais me dão força para me
reerguer e ir à frente, pois tenho a certeza que reencontrarei a todos, de uma
forma ou de outra.
Eu estava com aproximadamente 10 anos quando comecei a perceber aquela vontade de encontrar, de tentar acalmar aquele vazio. Éramos todos, uma grande família. Nós, os GITANOS (ciganos) éramos chamados de povo feliz, por uns e de malandros pela maioria.
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O grupo era muito coeso e unido,
sendo isso uma raridade para aquela época. Muitos grupos já haviam sido
desmembrados por conta da briga de poder que sempre existia. No nosso isso não
ocorria. Todos respeitavam a "descendência" que era fator importante
para se tornar líder, além da postura correta. Assim, por este critério eu
seria o próximo a liderar aquela gente e seria responsável por manter a
prosperidade de todos. Isso sempre me foi alertado e desde muito cedo fui
criado para que um dia isso acontecesse. Apesar deste meu futuro certo, eu tive
uma infância normal, para crianças ciganas. Acompanhava, quando muito jovem, as
mulheres às idas às cidades para a leitura de mãos. Quando fiquei mais velho um
pouquinho, algo em torno de 7 anos de idade, comecei a estar ao lado dos homens
para aprender alguma atividade. Muitos foram meus professores, aprendia,
diversas artes, danças, produzíamos artesanatos ciganos para o comércio, e
aprendi a pastorar algumas cabras que possuíamos. Sempre me dei melhor com a
arte e o manuseio da madeira. Adorava processar, manualmente aquelas tábuas,
antes, árvores frondosas depois cadeiras, mesas, brinquedos.
Pela minha descendência, pelas
características dos meus pais, sempre fui muito bonito. Meu cabelo um misto de
ondulado e liso de um negro só comparável à de minha mãe. Meus olhos refletiam
minha alma selvagem, de uma cor clara, que não se aproximava nem do mel (de meu
pai) nem do verde ( de minha mãe). Minha mãe costumava dizer que meus olhos
eram a minha grande arma na lida com as mulheres. Mas meus olhos não eram as
únicas "armas" que eu dispunha. Desde muito cedo, tinha uma propensão
em saber lidar com a alma feminina. Era algo natural. Sabia como encantá-las, entende-las,
tê-las.
E assim minha adolescência
iniciou-se. Haviam muitos jovens, o futuro daquele clã, daquele grupo.
Convivíamos todos, de forma a criamos laços fortes. Neste ambiente eu acabei me
ligando de forma especial à Carla. Ela era viva, vibrante, me fazia sempre
sorrir, e me encantava com seus cabelos loiros, e seu jeito moleque de ver a
vida. Estávamos sempre próximos.
Estávamos, quase todos, com 15 anos. Está é uma idade onde
alguns caminhos já são traçados para os jovens verdugos ciganos. Carla tinha
uma irmã, mais nova, a bela Andressa. Ela era 3 anos mais nova que Carla. Mas
ao contrário desta, Andressa era petulante, metida, sempre com aquele nariz
empinado. Tratava a quase todos de forma indiferente, quase todos, porque
sempre que eu estava por perto ela mudava, como que por encantamento. Havia um
amigo, Pablo, era com quem eu costumava passar as horas do dia quando não
estava com Carla. Era um bom e fiel amigo. Minha adolescência passou tranqüila
de certa forma. Quando não estava junto com os adultos, me preparando para
minha ascendência à liderança daquele grupo, estava com meus amigos.
Certo dia, quando estava com meus
16 para 17 anos, meu pai me avisou da viagem que deveria fazer. Meu pai sempre
muito preocupado com as experiências que eu deveria ter, planejou uma viagem
para que eu conhecesse outros clãs, grupos de ciganos, para, como meu pai
falava: - Para se tornar merecedor de ser um Barô deve conhecer a realidade de
muitos outros do nosso povo, só assim entenderá como agir"
Eu deveria ficar fora por 5 anos,
aproximadamente. Na noite anterior, foi realizada uma grande festa para minha
despedida. Todos estavam lá. Mas Carla ainda não havia chegado. Eu a procurava
mas nada dela.
Encontrei Andressa, questionei
sobre a presença da irmã.
-
Andressa onde está Carla?
-
Ruan....ela não virá. Não está se
sentindo bem. Acho até melhor, é uma fraca, por qualquer coisa fica lá dentro
da sua tenda. Mas eu estou aqui...vem vamos nos divertir....
-
Não Andressa, quero falar com ela.
-
Mas para que? Vem olha para mim, já estou com quase
14 anos, e sabes que com 15 já posso me casar. Isso não te interessa???
falou me puxando para perto dela.
-
Andressa...me larga...deixa eu ir ver como está tua
irmã....retirei as mãos dela e segui para a tenda de Carla.
-
Esse é outro fraco, mas será meu, nada
vai tirar você de mim, vou te fazer
forte pode deixar meu amor! os olhos de Andressa brilhavam.
Ao chegar à tenda de Carla percebi ela a olhar para a lua
por uma fresta. Estava radiante, com sempre, e iluminada por aquela luz
prateada seu rosto era inspirador. Me arrepiei quando vi aquela cena.
-
Carla, porque ainda estás aqui? Não vai
à festa?
-
Não me sinto bem, não tenho ânimo para
comemorar.....afinal é uma despedida porque me alegraria com isto?
-
Carla, já falamos sobre isto. Não me
alegro também em partir mas preciso aprender outras culturas, conhecer outros
povos.
-
Mas tenho medo....de que me esqueças. Carla
olhou diretamente para mim quando pronunciou aquelas palavras.
Estremeci novamente. Peguei em suas mãos e percebi o quanto
estavam nervosas, pois tremiam.
-
Carla não fique assim, estou aqui e não te
esquecerei....senti aqueles lábios, doces e delicados de encontro aos
meus.
Ficamos abraçados, mais ainda unidos e planejando quando
eu voltasse, porém tudo em segredo, ainda....No dia seguinte parti para a tão
esperada jornada que me faria o homem e líder daquele clã. O que eu não
esperava que tudo a partir dali seria completamente diferente do que havia sido
até então.
---------------------------------------------------------
Fim da primeira parte----------------------------------------------------
A viagem iniciou com a ida ao primeiro dos clãs. Na saída,
todos estavam lá para se despedir. Não entendia bem o porque mas Andressa não
estava por perto no momento de minha saída, "melhor assim", pensei.
Me despedi de todos, inclusive Carla que estava mais animada depois do nosso
ultimo encontro. Eu e Igor, meu acompanhante, primo meu, que foi indicado a ir
depois que Pablo, de uma hora para outra desistira, sem uma explicação aparente.
Partimos e antes de perdermos de vista o acampamento, eis que surge,
coincidentemente á beira da estrada, Andressa.
-
Ruan, que bom que te encontrei...
-
O que faz aqui ANDRESSA?
-
Vou contigo....
-
O que???? como assim? que loucura é
essa Andressa?
-
Calma meu amor....não te preocupas não
te deixarei à sós....
-
Que conversa é essa Andressa?
-
Ruan, já vi o nosso futuro, ele é
junto, não há como fugir...
-
Que Futuro Andressa? Estás louca? Vai
anda, Igor irá te acompanhar....Como sabia que estávamos por esta estrada?
-
É o destino meu amor...não percebes....
-
Chega Andressa, vai Igor e não pára até
chegar ao acampamento...estarei a ir mais devagar a te esperar...
-
Sim primo, vamos Andressa.... Igor foi a
pegando pelo braço e levando até sua montaria. Já se afastavam de mim, indo na
direção do acampamento.
-
Igor não precisava me apertar daquele
jeito....seu animal....
-
Andressa, Ruan ia ficar desconfiado de
mim, ele já estava a questionar-se sobre sua aparição tão certa nesta estrada.
Não posso correr o risco de perder a confiança dele.
-
Como tu és....não pensa? Como poderei
colocar a minha ametista no bolso dele?
De acordo com a cultura daquele povo, quando uma jovem
cigana era prometida á um Jovem esta lhe entregava a sua pedra preciosa - pedra
esta que era passada de mãe para filha, primogênita - no caso da família de
Andressa a pedra de sua mãe era, preferencialmente de Carla o que deixava
Andressa com muita ira. As filhas que não fossem primogênitas tinham a escolha
de qualquer pedra que as representasse, mas isso não era algo bem visto pois
representaria uma linhagem mais alternativa e não a principal.
Assim, a utilização de pedras como sinal de compromisso da
mulher era uma forma que todos saberiam
que aqueles dois estariam comprometidos. Não haviam pedras repetidas, assim
quando uma pedra era vista com um jovem rapaz, todos já sabiam quem era a dona
daquela preciosidade e do coração de quem a portava. O jovem cigano entrega
como prova de comprometimento seu lenço preferido, onde é amarrado ao braço da
jovem comprometida com o dono do lenço.
-
Andressa, deixe isso comigo....eu farei
isso, mas como fará para pegar o lenço dele. Ele não desgruda deste nunca!?
-
Isto deixe comigo. Apenas faça por
enquanto sua parte! O trajeto da viagem continua o mesmo?
-
Sim Andressa, conforme me foi
passado....mas como fizeste para que Pablo desistisse de ir?
-
Pablo tens interesses em minha irmã,
assim foi fácil.....Prometi à ele que ele terá o que mais deseja...
-
Mas como fará isto? Ela ama Ruan....
-
Igor por isso tu acabará na
sarjeta...não entendes nada de energias, possibilidades de futuro.....tudo tem
possibilidade de acontecer, basta que sejam feitas na hora exata, e assim são
concretizadas. Minhas cartas já me mostraram o momento. Preciso apenas
aguardá-lo!
-
Andressa as vezes tu me assusta com esse seu
sorriso estranho e tuas palavras. Mas você é quem sabe, eu, recebendo minha
parte, tá tudo bem!
-
Você receberá o que merece, te garanto!
O sorriso no rosto de Andressa contrastava com os
pensamentos e as visões que vinham à sua mente. Sua satisfação com tais
possibilidades eram reais, e ela não mediria esforços para concretizar seu
desejo.
-----------------------------------------------------------Fim
da segunda parte--------------------------------------------------
As passagens pelos diversos clãs sempre me traziam novos
aprendizados e muitas histórias. Destas, prefiro não comentar nenhuma em particular. Apenas
que um homem acaba se sentindo só, com os dias, semanas, meses, anos, longe
daqueles que ama. Vez ou outra enviava Igor para nosso acampamento para levar
noticias e para trazê-las à mim. Entre idas e vindas, muitas passaram pela
minha tenda. Em cada acampamento, eram duas, três e até mais para tentar
abrandar as coisas dentro de mim. Sempre me envolvia muito com cada uma, olhava
em seus olhos, suas almas, compartilhava seus sonhos, as tinha em meus braços,
de verdade, mesmo que apenas por algumas horas, mas todas se sentiam amparadas,
seguras, ouvidas, entendidas. Certa vez, num certo clã, onde as mulheres eram
maioria, fui recebido com certa desconfiança, pois muitos homens ao estar lá só
abusaram e usaram de violência com aquelas mulheres. Foi complicado conseguir a
confiança e de entrar mais na vida daquelas ciganas. Após alguns dias naquele
acampamento, e já bem "intimo" de várias de lá, pude escutar uma
coisa que nunca mais me esqueci. Nahara, a líder daquela falange, após uma
noite ao meu lado, quando à luz da lua cheia, e deitados em sua carroça/tenda,
após alguns minutos de conversa, virou para mim, com seus cabelos negros, e olhos
azuis, olhando bem dentro de meus olhos e disse:
-
Ruan, é diferente de todos os homens
que já tive aqui em minha cama. Sabes como tocar a alma de uma mulher. Não és
egoísta, apenas pensando em ti. És lindo, cativante, paciente, carinhoso. Seria
um ótimo marido para quem quer que seja. Mas se sabe tão bem como encantar uma
mulher, tens um problema contigo. Não serás de ninguém, e isso não é uma praga
minha; é teu destino. Isso que tenta tanto acalentar dentro de ti, só será
feito quando resolveres teus próprios fantasmas. Uma pena pois muitas desejarão
isto que eu desejo agora, mas que nenhuma terá - Você por completo! És sem
dúvida um mago na arte de amar e tens uma capacidade única em atrair através de
seu maganetismo. Mas nada disso poderá diminuir o que sente dentro de ti.
Apesar de sua "figalguia" na arte de amar as mulheres, estás fadado a
não ter paz dentro de ti, pois tua busca está apenas começando...., meu caro
"Don", pois não é assim que os fidalgos são chamados? com este título
de nobreza? Então tua nobreza está na arte de seduzir, de fazer-se envolver, de
se fazer de todas e não ser de ninguém. Vais meu caro "Don", José
Ruan Carlos, meu amor, meu "Don" Ruan. Continua tua jornada em busca
de ti mesmo....
Sai aquele mesmo momento daquele acampamento, com aquelas
palavras, aquela sentença, aquele nome ressoando em minha mente. Busquei
novamente a estrada e fiquei a imaginar onde esta me levaria desta vez, quem
cruzaria meus caminhos, meus lençóis, quem me marcaria de uma vez por todas.
Lembrei do acampamento. De Carla, Andressa, Mercedes, meu Pai e minha Mãe, de
Pablo. Uma saudade me assolou a alma. E um aperto me doeu o peito. Igor não
percebeu, pois estava muito sonolento, mas meu ser já pressentia o que viria.
Ao longe via as luzes de uma cidadela que aportaríamos, por uns dois dias
apenas. Seria a primeira vez que ficaríamos numa pequena cidade, fora da rota
dos clãs. Algo me dizia que lá coisas aconteceriam que me marcariam a jornada.
-------------------------------------------------------Fim da
Terceira parte------------------------------------------------------
Paramos numa estalagem para viajantes comuns. Queria muito
aprender um pouco sobre os costumes do povo "normal". Tinha idéias
para aumentar nossas receitas no comércio com tais povos. Precisava conhecê-los
a fundo. Na entrada do estabelecimento havia um homem, um senhor que estava à
porta. Quando ia passando pela porta, junto a Igor, o homem, com seus cabelos
brancos e grandes bigodes, soltou um pedido quase que mudo.
-
Uma esmola para que eu compre algo para comer.
Estou muito faminto e fui assaltado por desordeiros ao vir para cidade. Bateram-me
e levaram meu cavalo. Preciso me reestabelecer para seguir de volta à minha
propriedade.
Quando olhei melhor para o
senhor, reparei que realmente seus trajes não poderiam ser de um simples
pedinte. Percebi que estava machucado e mal podia se erguer.
-
Mas porque não pediste ajuda antes meu senhor? Questionei
-
Apenas agora à pouco recobrei a
consciência meu amigo. Não consegui me levantar pois minhas pernas doem
muitíssimo. Sou conhecido na cidade, mas pela hora avançada ninguém se atreve a
olhar, imagina a ajudar um pedinte sujo e todo machucado. Acabaria apanhando
mais, por isso não bati à porta de lugar algum nesta cidade. Mas percebi que
chegavam dois estrangeiros por isso pedi à ti.
-
Ruan, cuidado pode ser um truque,
cuidado!
-
Calma Igor, não deixarei de ajudar por
causa de uma desconfiança. Vamos. Irei me instalar aqui neste lugar. Ajudarei a
te restabelecer. Vamos Igor, me ajude com este senhor, como se chamas moço?
-
Antônio.
Feito isso, após nos instalarmos e ajudarmos aquele
senhor, no dia seguinte, melhor e mais arrumado, este conseguiu ajuda de
conhecidos que ao conhecerem nosso ato frente a necessidade daquele senhor,
fomos muito bem recebidos pela cidade, de forma geral. Assim, fomos convidados
à uma festa tradicional daquele local, que seria realizada em frente a igreja.
Fomos apresentados à todos os moradores ilustres, o padre, o prefeito, entre
outros. Antônio, partiu, prometendo voltar mais tarde para a tal festa com a
família toda.
Pela noite, a área em torno
daquela antiga igreja estava toda enfeitada. Me vesti de forma mais
"normal", para não trazer desconfianças, pedi que Igor fizesse o
mesmo.
A festa foi transcorrendo de forma normal sem muito o que
chamasse a atenção. Muitas mulheres, jovens, ao perceberem dois novos rapazes
na cidade logo vinham conhecer-nos. Em um certo momento, sinto um toque nas
minhas costas:
-
Foi o Senhor que ajudou o Antônio???
Ao me virar me deparei com um senhor, deveria ter seus 60,
70 anos, mas muito forte e bem vestido. Tinha barba, bem feita, branca, e um
olhar que me penetrou a alma.
-
Sim sou eu! falei imaginando o que
aconteceria.
-
De onde vens, meu rapaz? Qual é teu
interesse aqui?
-
Bem, eu venho da região das
falácias....minha intenção aqui é......
-
Antenor, para já com isto, não vê que
está deixando o rapaz constrangido. Afinal de contas, ele ajudou teu irmão e
ainda desconfias dele? Olá me Chamo Joana, estas são minhas filhas, Natália e
Julia, e André nosso filho, sobrinhos de Antônio a quem tu ajudastes ontem.
Ao passar meus olhos pelas
pessoas fui percebendo então a situação. Joana, a matriarca, uma senhora bonita
e de porte e atitudes elegantes que transpareciam calma e sutileza. O
patriarca, Antenor, direto e sem rodeios em suas falas e atitudes; seu irmão
Antônio, ingênuo e pelo que pude perceber bem diferente do irmão. André, um
rapazinho, de uns 10 anos aproximadamente, Júlia uma jovem moça, de seus 14
anos, tímida e linda e Natália; acho que quando cruzei meus olhos aos dela,
sentimos tudo que aconteceria, desde então. Um lampejo forte nos arrebatou e
por um momento foi como se tudo ao redor parasse. Ela e eu percebemos um no
outro as reações descompassadas. Sorrimos juntos ao mesmo tempo e abaixamos a
cabeça da mesma forma. Aquela pele branca ressaltavam ainda mais seu rosto, os
contornos da sua boca, de seus olhos, negros. Seu cabelo, amarrado para trás,
de cor negra também, faziam um conjunto de chamar atenção de muitos ali. Ela
tinha 18 anos. Talvez por isso o Pai fez questão de se aproximar dela quando
nos encaramos, a primeira vez. Mas se todos ali imaginassem tudo que viria
daquele encontro, talvez prefeririam não terem se conhecido.
-----------------------------------------------------------Fim
da quarta Parte---------------------------------------------------------
Igor se aproximava do acampamento. Ele ia uma vez ou outra
para levar notícias e trazer saudades. Sempre que voltava eu o questionava
sobre noticias de Carla. Sempre enviava uma carta para ela. Mas nunca recebia
resposta alguma. Isso já me deixava triste pela ausência de palavras mais
direcionadas à mim, por ela. Dessa vez mandei junto da carta meu lenço, como um
sinal claro e direto de minhas intenções. Igor ficou surpreso e sem palavras
com minha atitude.
Sempre que ele chegava ao acampamento se dirigia antes à
tenda de Andressa. Dessa vez não era diferente.
-
Igor, já não era sem tempo. Porque
demorou tanto dessa vez?
-
Ruan não queria que eu viesse dessa
vez. Disse que não queria ficar esperando por noticias de Carla e não receber
nada.
-
hummm, então ele está começando a se
cansar dela....ahahahahah, sabia que se fizéssemos que as cartas dela não
chegassem até ele, uma hora ele cansaria. Logo, logo vai estar carente, aí
nesta hora eu apareço para acalentá-lo.
-
Sei não viu Andressa. Ele conheceu uma
moça da cidade e estão enamorados a alguns dias. Não se desgrudam hora alguma.
Íamos ficar apenas alguns poucos dias para reabastecimento, e já dura um mês.
-
O QUE???? QUEM É ESTA? QUEM É ESTA
VIGARISTA QUE ESTÁ QUERENDO ROUBAR ELE DE MIM??? CRETINA....mas eu irei acabar
com isto de uma vez por todas. As outras eu sempre soube, eram apenas
passageiras do meu amor, ele as usava para acalmar a falta que sente de mim....
Andressa se perdia na suas conjunturas. Igor ficava a
olhar tais loucuras e a imaginar o que mais ela seria capaz de fazer para obter
o que mais desejava. Se ela ao menos mudasse. Enxergasse que na verdade eu,
Ruan, nunca daria à ela o que ela mereceria. Mas ele poderia a fazer feliz,
pois ele seria capaz de mover tudo ao redor para vê-la feliz. Ela não o
percebia, mas nem por isso ele desanimava. Um dia ela iria enxergar tudo com
clareza, enquanto isso ele a ajudaria, ela com certeza iria perceber quem
realmente gostava dela.
-
Andressa, e as cartas que Carla me
entrega. O que devo fazer com todas?
-
Me entregue assim como as de Ruan
endereçadas à ela. Nenhum deles saberá notícias nem de um nem do outro. O que
mais ele enviou por ti?
-
Isto!! Igor retirou o lenço, símbolo de compromisso,
de caráter, de palavra de um homem cigano. Andressa foi ao êxtase ao pegar o
lenço em suas mãos.
-
Me dê! Hummm como é cheiroso. Tem o
cheiro do meu amor. Agora é só aguardar, que logo todos saberão que temos um
compromisso, logo, logo! Vai Igor, vai, me deixa aqui com o lenço do meu
amor!!! Depois passa aqui para acertarmos os detalhes da minha ida à esta
cidade para tirar essazinha de perto dele!!!
Igor foi ao encontro dos outros. Ele sempre se lamentava
de ver os olhos que vinham cheios de esperança, e pela mentira que ele portava
iam vazios e repletos de lágrimas. Todos já percebiam como Carla reagia a cada
ausência de noticias direcionadas para ela. Já haviam comentários sobre o fato.
Mercedes, percebendo, assim como todos, foi ao encontro de Carla.
-
Carla, Carla, espere. O que houve?
-
Olá Mercedes. Desculpe, mas não consigo
mais disfarçar. A falta de uma palavra de Ruan à mim, esse tempo todo me faz
pensar, se ele realmente ainda pensa em mim....
-
Carla, conheço bem Ruan. O amo mais do que tudo. Minha
ligação com ele é diferente de todos aqui. Não sei explicar bem porque.
Carla estranhou tal comentário, mas já havia notado a proximidade e intimidade
minha com Mercedes, fato este que provocava certo desconforto em Carla.
-
Apenas posso dizer que conheço bem meu
amado irmão e ele não é de ficar sem mandar noticias à alguém. A não ser que
exista algo que desconheçamos.....
-
Como assim?
-
Não sei ao certo mas isso não é do feitio de Ruan.
Porque não vai de encontro onde ele está?
-
Mas como?
-
Ué??, segue Igor. Ele é muito distraído
e pelo que entendi Ruan não está a mais de um dia de viagem daqui.
-
Sim, tens razão. O seguirei e
encontrarei Ruan.
Pela manhã Igor já se preparava para a partida. Passou antes
pela tenda de Andressa para combinar os detalhes que ela tanto queria fazer.
-
Andressa, estou indo. Então o que fará
com o lenço de Ruan?
-
Nada. leve-o de volta. Diga apenas que
Carla o rejeitou. Mais nada! Daqui à três dias estarei acampada a 3 quilômetros da
cidade, a sudoeste. Quero que vá me encontrar lá para tratarmos do restante.
-
Restante? o que pensa em fazer?
-
Não importa agora. Apenas vá e faça
como falei.
Igor saiu em disparada rumo à cidade onde estávamos já a
quase um mês. Carla o seguia a uma distância segura, perdendo-o de vista por
algumas vezes. No fim do dia, Igor se aproximava da entrada principal trazendo,
Carla à distancia. Igor sabia que eu estaria no comércio travando disputas e
tentando o melhor negócio para realizar, com os insumos produzidos pelo clã.
Àquela altura, eu e Natália já tínhamos uma rotina de encontros. Sempre ao pôr
do sol ia para uma região montanhosa, próxima à propriedade da família, e
ficávamos lá juntos. Aguardava a chegada de Igor para seguir, por mais um dia
para o lugar.
Igor se aproximava devagar, de onde eu me encontrava.
Percebi que a uma certa distancia outro cavalo vinha, porém mais rápido que
Igor.
-
Ruan, Ruan....olá....como vai???
-
Igor...como foi a viagem? E lá no
acampamento, o que traz de noticias para mim???
-
Ruan, foi tranqüila a viagem, mas.....Igor já
se preparava para iniciar com o que fora planejado com Andressa, quando
subitamente eu começei a olhar para a figura que se aproximava....
-
Carla?? Carla???
-
Carla... Ruan? como assim??? Hã?? Mas o
que ela faz aqui??? me seguiu....mas será...que....
-
Olá sumido, porque andas se escondendo de mim??? do
que teme? está com medo de mim? Disse Carla ao descer do cavalo
-
Carla, sua figura ilumina meus
caminhos, como posso sentir receio de tua presença.
-
Recebestes minha carta e meu lenço?
-
Não recebi nada, nem uma palavra sequer...
-
Igor o que aconteceu, porque não a
entregou o que deixei a teu encargo???
-
Ruan...é que....bem..... Igor começava a suar
frio, só de pensar que teria que contar tudo e que Andressa certamente o
esnobaria depois...
-
Vamos Igor, porque não me entregou o
que Ruan confiou à Ti???
-
Ruan...Carla, estou
envergonhado.....bem vou contar tudo....na ida, para o acampamento, estava
muito cansado na ida e resolvi parar por 2 horas a fim de descansar. Não
percebi que deixara meu cavalo sem amarras. Quando dei por mim, este começou a
ir pastar longe de onde estava. Só tive tempo de pegar o que estava próximo à
mim e sair correndo para recuperar o cavalo. Esqueci o embrulho, com a carta e
o lenço no chão. Na volta ainda passei no lugar novamente mais ainda não o encontrei.
Mas juro que não descansarei até o achar!
-
Igor, que coisa....logo meu lenço.
terei que pedir que minha mãe teça outro para mim.....mas tudo bem, vê se
aprende a prestar mais atenção à tudo que está responsável daqui para frente.
-
Mas então, porque veio até aqui?
aconteceu alguma coisa Carla?
-
Ruan estava aflita sem noticias suas,
pensei que havia me esquecido...queria vir saber o que acontece....
-
Perai Carla, deixa eu falar com Igor a
sós....
-
Igor...que papo é esse que ela não
recebeu noticias nenhuma minha? Já escrevi pelo menos três cartas....
-
Ruan, depois que vi você se envolvendo
com diversas mulheres acabei me confundindo se era para entregar ou não as
cartas. Elas estão comigo, se quiser as entrego agora, mas só queria te ajudar,
como vais fazer com Natália hoje?
-
Tá....esqueça as cartas, quero que vá
no local onde eu e Natália costumamos nos encontrar e diga que surgiu um
imprevisto, que tive que ir a uma região próxima e que só retornarei amanhã,
quando a procurarei.
-
Tá certo.
-
Olha fique na estalagem normalmente, eu
estarei com Carla. Amanhã nos falamos pois tenho instruções a lhe passar
-
Até amanhã Ruan!
Eu e Carla fomos para a saída oeste da cidade, distante de
tudo e de todos. Acampamos, à luz da lua, como todo cigano gosta de fazer. Só
que desta vez estávamos a sós, para enfim descobrirmos um no outro. Muito foi
dito, muito foi-se confessado. Mas nada foi comparado ao som feito quando as
palavras não foram entoadas. Os olhares, o suor, o toque na pele, o clímax e
por mim a sensação de paz, ao menos, por um momento, tivemos nossa merecida
paz, naquela existência. O que aconteceria dali para frente faria que nunca
mais tivéssemos momentos como aquele. Foi nosso encontro e nossa despedida ao
mesmo tempo.
Talvez por isso, no fim, quando
extasiados, ambos, se sentiram angustiados e Carla, delicadamente deixou que
lágrimas fossem o selo daquilo que tivemos. Hoje entendo o porque de tudo,
naquela noite, e que nada podia ser diferente do que viria a ser.
------------------------------------------------------------Fim
da quinta parte--------------------------------------------------------
Na manhã seguinte, refeitos da
maravilhosa experiência juntos, nos despedimos e acertei com ela que em até um
mês voltaria ao acampamento de uma vez por todas para ficarmos juntos para
sempre. Não soube dizer exatamente naquele momento mas ao vê-la ir meu coração
apertou de tal forma que por pouco não larguei tudo e fui com Carla. Talvez se
tivesse agido assim tudo seria diferente, mas não fui.
Estava indo na direção da
estalagem em que ficávamos quando ouvi uma voz. Era Natália. Ela vinha em minha
direção, com uma fisionomia que não demonstrava estar muito feliz.
-
Onde esteve ontem, hein, senhor CIGANO?
-
Natália...que saudade estava de tu!!! falei
isso já a pegando em meus braços e não dando espaço para mais perguntas.
-
Ruan, assim não há como ficar com raiva
de ti!!!
-
Mas és verdade...não sei como consegui
não largar os negócios ontem e vir correndo para ti!!!!
-
É... mas não fez....e eu fiquei
sentindo muito sua falta!!!!
-
Mas agora esquece o ontem, vem cá vem,
chega de saudade.....
Passamos o resto da manhã juntos
e após o almoço nos despedimos nos comprometendo de termos novo encontro na
tarde do dia seguinte.
Ao encontrar Igor dei as
orientações para que ele retornasse ao acampamento e prepara-se minha chegada,
inclusive avisando Carla que chegaria e haveria a tão esperada "festa
dos lenços”, onde o casal se compromete para o resto da vida. Pedi que
encomendasse outro lenço à minha mãe para isso. Determinei que preparasse tudo
para o evento e que no máximo em um mês eu estaria partindo para enfim receber
meu destino final, com a mulher que desejava e assumindo o posto frente ao
Povo. Eu já estava afastado do acampamento a 6 anos, já era tempo de retornar e
tomar meu destino de volta.
Antes de Igor ir ao acampamento, se dirigiu a sudoeste da
cidade, onde Andressa estava acampada, conforme havia combinado anteriormente
com ela.
-
Andressa, Andressa, vai acontecer, Ruan
estará de volta em um mês exatamente
para a festa dos lenços com Carla....
-
Como assim Igor? O que aconteceu? Falava
Andressa já mudando sua fisionomia.
Após Igor explicar o que aconteceu, da ida de Carla e a
noite que os dois passaram juntos, Andressa começou a pensar numa forma de
impedir que o evento ocorresse.
-
Preste atenção Igor. Faça como Ruan o
ordenou. Vá ao acampamento e faça os preparativos. Eu irei contactar uns amigos
meus, que me devem uns favores para raptar Ruan, quando ele estiver vindo na
estrada o seguraremos por uns dias até que a idiota da minha irmã esqueça ele e
case-se com Pablo...pode ir ...vai, vai, deixe o lenço dele comigo e sai daqu,
cumpra seu papel!!!!
Durante os dias que se sucederam,
antes da minha partida, comecei e finalizar todos os negócios que estavam sendo
tratado. Durante este período continuava a encontrar com Natália, mas por
algumas vezes a percebi diferente. Faltando uma semana para minha partida
Natália não foi ao meu encontro onde costumávamos estar juntos. No dia seguinte
veio até mim, por meio de sua irmã, uma carta de Natália me informando que teve
um leve mal estar no dia anterior e que por isto sua mãe a forçava a ficar de
repouso durante três dias. No penúltimo dia meu naquele lugar voltamos a nos
encontrar, mas Natália estava um tanto abatida.
-
Natália, o que houve?
Estou muito preocupado contigo!
-
Não fique meu
amor. Foi apenas um leve mal estar o qual fui forçada a estar de cama, mas já
estou me recuperando. Vamos nos concentrar em nós, em nossos planos para o
futuro...
-
Natália....olha
preciso te falar algo....olhando diretamente para os olhos dela, pude
transmitir a seriedade do que precisa tratar
-
Ruan...o que foi?
Esta me assustando....me fale!!!
-
Olha, sabíamos
que nosso tempo juntos era, infelizmente, contado. Somos de mundos diferentes e
tenho uma responsabilidade com meu povo, que não pode ser mais adiada! Por
isso, amanhã, estarei voltando para meu povo...
-
Mas Ruan...e
quanto à nós? Eu o amo.....não quero ficar distante de você...
-
Natália...entenda....sua
família nunca irá aceitar nossa relação...e não há meios de você ir embora
comigo....fora que seu pai me cassaria se isso acontecesse....
-
Porque se preocupa tanto com meu pai....olhe
para mim...pense em mim...preocupe-se comigo!!!! Eu quero estar contigo,
enfrento qualquer coisa por você!!!
-
Natália...eu queria
tanto isso também, mas a vida é mais complicada do que você a entende.....
-
Sim Ruan, já
entendi.....minha inocência em não entender a vida é porque acredito no que
sinto por ti.....e imaginava que sentias o mesmo por mim.....mas não vou ficar
aqui tentando convencer-te do que deverias ser você a me propor......ADEUS!!!!!
Ao perceber minha insistência
ela, de um salto pegou suas coisas, montou em seu cavalo e partiu. Achei que
tinha resolvido, mas meu coração me alertava que não. Não sabia, mas seu pai, á
muito desconfiava das atitudes da filha, e ao ver a filha chegar desolada, não
teve dificuldades em extrair toda a verdade. Sua ira era conhecida e seus
brandos de raiva invadiram a rica casa na propriedade. Natália sabia que seu
pai não deixaria as coisas daquele jeito
e no fundo era o que ela queria, pois acreditava que ele forçaria Ruan a ficar
com ela.
Antenor ao tomar ciência que sua filha havia sido desonrada
e por um sangue impuro (cigano), não teve dúvidas, iria à caça deste
"mulambo"! Após reunir todo seus comandados, seus capangas, deu a
ordem:
-
Quero este imundo vivo, não precisa ser
em sua melhor forma mas quero que ele olhe nos meus olhos e assim ter a certeza
de que fui EU o responsável pela sua aniquilação, raça imunda!
Acham que podem vir e fazer o que quiserem e sair ilesos? Vão, busquem na
região da saída norte da cidade em direção à planície lancoste. O encontrarão
sozinho...será fácil. Os aguardo no celeiro, que é lugar mais afastado da minha
casa.
Assim todos os capangas de Antenor partiram em direção à
saída da cidade à minha procura. Neste mesmo instante uma comitiva já apontava
no horizonte próximo à entrada, ou dependendo do ponto de vista à saída, também
à minha procura, mas com outro "mandante". O grupo que Andressa havia
enviado eram de abastardos de ciganos, em sua maioria de arruaceiros e
realmente vagabundos, que por qualquer quantia de ouro faziam o que lhe era
determinado. Se alguém observasse à distancia veria uma cena um tanto quanto
pitoresca. De um lado e de outro grupos com a mesma finalidade, e ao centro,
eu, sem desconfiar de nada, apenas indo a passos calmos meu caminho, pensando,
com cabeça distante.
Numa olhada distraída que dei à
frente percebi o grupo, que vinha de forma rápida. Com minha arruada (uma
espécie de luneta, para ver à distancia), pude perceber do que se tratava. Eram
os minuad's, grupo do extremo norte da região, arruaceiros, sem
dúvida. Não sabia o motivo que vinha naquela direção, mas só fato de me
encontrarem proporcionaria coisas não muito agradáveis à quem estava em menor
número, no caso, eu! Olhei para trás e lembrei de uma mata, a um quilômetro e
meio atrás que poderia me esconder. Ali naquele descampado e plano não teria
chance, ainda mais com meu cavalo niegro tão carregado.
Fui, o mais rápido que pude na direção que havia traçado,
porém minha velocidade não estava sendo suficiente, e cada vez mais o grupo se
aproximava, à ponto de escutar eles falando:
-
ali, lá vai ele, vamos pegá-lo!!!
As esta altura já sabia que tinha o interesse direto em
mim, por isso tinha que a todo custo chegar à baixada para me esconder na mata.
A quase 200 metros
de distancia deles, consegui alcançar meu objetivo e me esconder. Os ouvi
passando à frente, mais devagar e falando muito.
-
Vamos, encontrem-no, precisamos achá-lo
pois só receberemos a quantia em ouro se o levarmos com vida.
-
Quantia em ouro? quem poderia está pagando pela
minha pessoa? pensei.
Assim que eles iam à frente se afastando eu ia, a passos
cuidadosos, andando de costas, olhando sempre na direção onde eles ainda
estavam. Acho que por isso não percebi a aproximação e o golpe na cabeça.
Apaguei. Escutei à longe algumas vozes:
-
aqui está o vagabundo, o chefe ficará
feliz...vamos rápido para o celeiro.......
--------------------------------------------------------Fim
da sexta parte-------------------------------------------------------------
Andressa ainda acampada à sudoeste da cidade aguardava o
grupo com o seu amado.
-
Andressa...Andressa.....
-
Olá Bastian...onde está Ruan? Vocês o
pegaram?
-
Andressa, chegamos tarde. Ele nos
percebeu longe e tentou fugir....
-
Tentou Bastian? como assim?
-
Tentou fugir, mas não conseguiu de um grupo de
capangas armados que o pegaram....
-
Vi quando carregaram ele para a
carroça....ainda peguei o lenço dele e alguns pertences que ficaram na
estrada....
-
Carregaram? Como assim? O que aconteceu
à Ruan????
-
Calma, Andressa, não acreditamos que
seja nada de ruim, apesar da situação, mas ele estava vivo isso tenho
certeza....mas o que quer que façamos agora? Deu tudo errado....
-
Errado....não. na verdade não......tudo
está muito é certo meu caro......preste atenção ao que vai fazer......Vamos de
volta ao acampamento, e expliquemos ao Igor a situação e vamos fazer o
seguinte...!
Bastian ia prestando atenção às recomendações de Andressa.
Ninguém poderia naquele momento imaginar o que aconteceria, nem mesmo eles. Os
fatos que se sucederiam a partir daquelas ações seriam determinantes para o fim
que se estava se aproximando de mim.
No acampamento Carla estava aflita. Algo em seu coração
não estava bem. Algo a incomodava. Ela sabia que sua gravidez não seria bem
vinda no grupo, pois pela tradição havia todo um ritual a ser seguido para que
só então depois a união pudesse ser consumada com um fruto, um filho. Sim ela estava grávida de seu amor, e tudo
aconteceu de forma mágica, naquela noite. Já haviam passado quase 40 dias desde
aquele encontro. Mas seu desconforto não
era sobre a gravidez. Por isso ela estava radiante desde que descobriu-se grávida
de Ruan. Não cabia em si de tanta felicidade. Tanto que Mercedes, sempre muito
atenta aos assuntos que me envolviam, logo notou algo de diferente em Carla.
-
Carla, pode me contar o motivo de tanta
felicidade?
-
Como assim Mercedes? Não te entendo?
-
Carla notei que desde que voltou do
encontro que teve com Ruan estás diferente. Mas viva, alegre....radiante.....o
que aconteceu, não vai me falar?
-
Mercedes, não posso esconder mesmo nada
de ti.....mas como foste por ti que fui encontrar Ruan naquele dia, e que ele
mesmo me disse que deveria confiar apenas em ti e mais ninguém......espero que
não se assuste, mas descobrir que estou a esperar um filho de Ruan.....
-
O QUE????? COMO ASSIM????
-
Mercedes por favor, fale baixo.....
-
Sim, mas Carla....como pode?
como???..........naquele dia??? claro.......perai....já são mais de 4
semanas.....
-
Sim....não é maravilhoso....só temo
pela reação de Ruan.....não sei o que ele vai pensar....
-
Não se preocupe....sei que ela vai
amar...pois terá um filho da pessoa que ele tanto ama...não se preocupe....Por
isso está preparando estes lenços? Vai realizar a festa dos lenços com Ruan???
-
Sim.....ele me pediu que adiantasse
tudo....Igor me avisou....mas estou aflita pois já era para ele estar de volta!
-
Não se preocupe ele estará aqui....sabe
como é meu irmão em relação a negócios....
Mas as coisas não estavam como deveriam estar e isso Carla
pressentia. E tudo começou a ser esclarecido com a chegada daqueles andarilhos,
com Bastian e Igor à frente. O povo estava em volta dos dois e o Burburinho foi
alto. Até que minha mãe, amparada por Mercedes caiu em prantos. Mercedes
com um breve olhar passou toda a situação à distancia à Carla, que notando a
urgência, se aproximou de Igor.
-
Igor, o que aconteceu? Onde estás
Ruan???? Porque ele ainda não voltou?
-
Carla.....ele foi assaltado no caminho....por
uns desordeiros de alguma cidade. Estava voltando com as provisões e com
dinheiro dos negócios que Ruan fez. Foi tudo muito rápido.....eles tentaram
tirar o dinheiro e Ruan retrucou.....
-
SIM IGOR, MAS E RUAN, FALE LOGO???
-
Carla....Ruan está.....ele está
morto.....Bastian chegou depois que tudo aconteceu, os desordeiros ainda
levaram o corpo para a queima como fazem sempre ao capturar um Gintano...apenas
nos restou a blusa que ele vestia e o lenço dele...manchados de
sangue.......Carla....Carla.....
Neste momento Carla não escutava mais nada. Foi-se
perdendo do mundo consciente, real ou imaginário, seria um pesadelo??? foi indo
deixando-se perder no meio das vozes, dos olhares e de lágrimas. Ninguém
reparou bem, apenas quando seu corpo bateu no chão. Todos tentaram a ajudar.
Levando-a para dentro de uma das tendas para que se recompor. Ao longe,
Andressa já estava levando seu planejamento à frente.
-
Pablo....olá.....porque estás tão
aflito???
-
Não ouvistes a notícia, Andressa? Ruan
foi morto...
-
Pablo, sei bem que estás preocupado com
Carla.....vejo em seus olhos e já vi em teu caminho....
-
Que isso Andressa....Ruan a ama e tua
sabes disso.....
-
Mas agora...ele não está mas aqui.....
-
Andressa para com isso...sabes muito
bem que Carla nunca me escolheria...ela ama Ruan....
-
Sim... tens razão...ela nunca te
escolheria, mas diante dos fatos....com o pai do filho dela morto, não achas
que teu caminho à ela estás facilitado.............bastas reconhecer o filho
que ela carrega como teu!
-
O QUE ESTÁ ME DIZENDO????????
............................................................................Fim
da sétima
parte.......................................................................
-
ACORDA......ANDA!!!!
O contato da água fria com o corpo sempre produz uma descarga
elétrica, nos fazendo ficar atentos, alerta...voltar a consciência. Não me lembrava bem o que acontecera, onde eu
estava....e o que estava acontecendo naqueles momentos. Senti um gosto forte de
sangue na boca. Ao tentar abrir os olhos, apenas o direito se abria com alguma
dificuldade. Meu olho esquerdo estava apertado....sentia a pele inchada.
-
Acorda seu
vagabundo....aquelas palavras sempre vinham seguidas de um soco.
Agora eu me lembrava do que
estava acontecendo. Se me recordava bem, ao tentar fugir de uns desordeiros,
fui pego facilmente por aqueles capangas. Perdi a noção de tempo, desde que
cheguei onde estava, apenas me lembrava de apanhar e de dormir exausto. Algumas
vezes me traziam uma sopa, insossa, mas que com o tempo passou a ter muito
gosto, pois era o que eu tinha afinal. A refeição não tinha uma periodicidade
para me ser servida, isso eu havia percebido, e a intenção era de me fazer
perder a noção de tempo. Estava dando certo.
Na outra construção daquela
propriedade as coisas não estavam tão melhores.
-
Mamãe, o que meu
pai fez? Ele achou Ruan? Ele o pegou??
-
Natália, não sei
minha filha. Seu pai não comenta dessas coisas comigo.
-
Mas mãe, eu
preciso saber. Será que meu pai o matou mãe? Isso não por favor, eu o amo mãe,
só de pensar nisso começo a ficar zonza.... falando isso Natália começou a
não sentir mais as pernas e foi ao chão. Sua mãe desesperada pedia auxilio aos
empregados da casa para que a levassem para seu quarto.
-
Carlos, vá à
cidade e chame o doutor, preciso de ajuda com Natália .
Joana dava as ordens para o
empregado ir com urgência à cidade e trazer o médico para que averiguasse o
caso de Natália. Ela já suspeitava do que seria, mas queria um diagnóstico do
médico. Caso se confirmasse o que ela temia, as coisas piorariam de vez ali.
Dentro de aproximadamente duas horas Carlos retorna com o
doutor Henrique à porta. Jovem moço, que escolhera as cidades do interior da
região para exercer suas funções e assim aprender mais ainda. Chegou àquela
cidadezinha, por indicação de seu Tio, que durante muito tempo teve comércios
por aquela região. Assim como muitos, logo percebeu Natália. Porém esta nunca
dera espaço a ele. Por isso, qualquer
noticia de uma necessidade de Natália era fato para que o Doutor Henrique
largasse qualquer coisa para ir atende-la.
-
Doutor Henrique,
que bom que pode vir de imediato!
-
Claro Dona Joana,
fiquei preocupado quando Carlos me disse que Natália não estava bem. Mas me
conte a quanto tempo ela vem apresentando o quadro....
Joana foi detalhando o que observara, desde quando
percebeu os desmaios e enjôos diários. Não quis ir mais à diante esperando uma
análise do Médico.
Henrique ficou por quase 20
minutos com Natália. Seu semblante
mudou, de quando entrara e a viu
deitava. Seu sorriso e satisfação de estar ajudando quem ele tanto se importava
foi-se alterando para um misto de frustração e tristeza. Ao sair não sabia como
reagir. Teve que voltar de onde estava pois Dona Joana o esperava aflita, à
saída do quarto.
-
E ai doutor? O
que Natália tem? Ela vai se recuperar?
-
Dona Joana...não
sei como dizer, mas Natália não tem nada grave....
-
Mas então como
isso é explicado? Estas tonteiras, desmaios, sempre que fica mais nervosa e esses enjôos?
-
Dona Joana,
Natália está Grávida!!!!!!!!!!
----------------------------------------------------------Fim da
oitava parte-----------------------------------------------------
-
O QUE ESTÁ
DIZENDO ANDRESSA? REPITA!!!! Pablo pegou Andressa pelo braço, de forma
bruta a levando para atrás de uma das tendas para que ninguém os escutasse.
-
Que Carla está
Grávida!!
-
Como sabes? De quem és o filho?
-
Ora Pablo não és
tão ingênuo assim. De quem mais pode ser???
-
RUAN.....
-
Sim, de seu
amigo, RUAN......
-
Então não tenho
mais nada para ofertar à Carla. Ela já selou seu caminho....
-
Pablo...me
escute...Ruan e Carla iam se aceitar, um ao outro, na festa dos lenços que
estava programada.....mas RUAN está morto...sabes qual será o destino de Carla
estando Grávida sem seu Barô?
-
Será banida do
clã....deixada à própria sorte
-
SIM...o que acha
que acontecerá com ela.....sabes bem como ela é frágil.....
-
Certamente não
suportará tudo isto......
-
Então
Pablo...pense....
-
Mas
Andressa...não posso fazer isto à memória de Ruan!!
-
Pablo quem mais
Ruan confiaria para cuidar da mulher que ele amava e do filho se ele não
pudesse mais voltar?? Quem PABLO? É claro que Ruan gostaria que quem estivesse
ao lado de Carla fosse alguém da sua confiança e que a amasse, claro! Quem é
este?
-
Sou eu! Eu a amo
mais do que tudo.....e sempre confiamos muito um no outro, eu e Ruan sempre
fomos assim!!!
-
EXATO!!!
-
Mas Carla não
aceitará isso....
-
Calma Pablo...a
dor e a solidão mudam uma mulher grávida!!!! Olhe se me escutar tudo acontecerá
como deve acontecer, apenas confie em mim!!!! Preste atenção o que deve
fazer.....
Andressa explicava à Pablo como ele deveria agir dali para
frente com Carla, a ajudando, estando próximo, sendo sempre alguém à vista
dela. Nunca disputando com Ruan, sempre respeitando o sentimento que ela tinha
por ele, pois no mais tardar em mais 3 meses ela teria que se decidir pois não
poderia mais esconder de todos a barriga. E se tudo acontecesse como ela
planejava, em 95 dias no máximo ela tiraria Carla de vez de seu amado Ruan.
Assim Pablo começou a seguir as instruções de Andressa, se aproximando e se
tornando cada vez mais próximo de Carla, inicialmente compartilhando a dor que
ambos tinham pela morte de Ruan. Ao se passarem 70 dias exatos, Carla confessou
algo a Pablo.
-
Carla, o que faz
aqui debaixo desta árvore que tantas vezes brincávamos??
-
Tentando matar um
pouco a falta que ele me faz Pablo....
-
Eu sei Carla, mas
precisa ir em frente.
Ruan sempre nos ensinou que antes das emoções precisávamos
pensar e ai depois sim deixar as emoções aflorarem....
-
É...ele sempre
dizia isso, mas.....
-
O que foi Carla?
-
Mas Pablo....carrego
dentro de mim a essência de Ruan...um filho que cresce à medida que apenas a
lembrança dele permanece em mim.....
-
Você está grávida
de Ruan???
-
Sim...por
favor....não me recrimine.....
-
NUNCA! Tens meu
apoio incondicional.....
-
Te ajudarei com ele....
-
Acho que não será
preciso, pois assim que souberem da minha gravidez serei banida.....
-
Não eu não
permitirei isto de forma alguma
-
Ohhhh Pablo que
gentil da sua parte, mas é algo já certo em meu caminho....
-
Não Carla, olhe,
me escute por favor, e pense um pouco. Se outro assumir este filho como dele e
você aceitar o lenço deste e dar sua pedra à ele, numa festa de lenços, você
não precisará partir e com o tempo poderá ficar em paz com seu filho.
-
Mas quem
aceitaria isso de tão bom grado???
-
EU!!! Ao falar Pablo se dirigiu ao encontro de Carla
que muda aceitou o beijo de Pablo, mas ao lembrar de Ruan o afastou
subitamente!
-
Desculpe Carla.
Eu te amo!! Não posso mais esconder isto de você. Amo-a tanto que aceito este
filho como um presente, da mulher que amo e do homem que mais confiava e sentia
como a um irmão. Não aceite o que o destino tem para ti...a solidão, tu não
mereces! Permita-me fazê-la feliz......
-
Pablo....eu.......eu
não sei o que dizer.......eu....
-
Não digas nada
ainda! Apenas pense, com calma. Amanhã, neste mesmo horário e lugar você
responde. Fique tranqüila, e apenas pense!
Pablo estrategicamente se retirou deixando Carla
estupefata e ao mesmo tempo desarmada com tais atitudes. Não poderia imaginar que Pablo nutrisse algo
por ela.
No dia seguinte, no mesmo horário e no mesmo lugar, Pablo
chegou, já encontrando uma Carla agitada e aflita.
-
Carla?
olá.....como está?
-
Muito
aflita.....não conseguir pensar em mais nada desde ontem!
-
Que bom, então já
tem uma resposta para me dar?
-
Pablo, olha, sabes
que não amo você...sabes que ainda amo Ruan?!
-
Sim, Carla sei
perfeitamente disso!
-
Então? Como podes
querer ainda assumir um filho que não és teu e ainda se comprometer com quem
não te amas?
-
Carla, não posso,
ainda mudar o que sentes, por enquanto sei que terei que ter paciência. Eu a
amo, e posso muito bem amar esta criança que esta dentro de você!!!
-
Mas Pablo....
-
Não Carla, não há
tempo para mais nem para menos. Nada pode nos garantir acertar nas nossas
escolhas, mas sei bem que se não fizer isto por ti e deixá-la à própria sorte,
não estarei sendo fiel ao que sinto e nutro por ti, e serei infeliz por isso!
-
Tens razão....mas
precisara ter calma comigo.....
-
Não se preocupe,
tive ate hoje não foi?
Pablo se aproximou de Carla e com um beijo selou seu acordo.
Marcaram a festa dos lenços para dali a 15 dias, onde finalmente ela seria
definitivamente sua.
Andressa ao saber de tudo, por Pablo, conteve-se à
principio e desejou apenas felicidades, com a desculpa que só queria que a
irmão fosse feliz. Depois estando sozinha, ela se alegrou, tendo a certeza que
agora não haveria mais barreiras entre ela e eu.
--------------------------------------------------------------Fim
da nona parte--------------------------------------------------------
Eu já não fazia idéia de quanto
tempo já havia se passado desde que eu
estava ali naquelas condições. Na verdade, chega um momento em que
perdemos qualquer noção de realidade. Nas muitas vezes que fiquei inconsciente
lembro-me vagando, por uma planície, cheia de flores. Estava sol, mas não era
quente, pelo contrário, era extremamente agradável. Eu, mesmo sem saber que
lugar era aquele, me sentia tranqüilo, sereno. Lembro bem de uma árvore
frondosa que encontrava no meu caminho. A sombra existente era convidativa. Me
lembro de estar sentado e perceber vindo em minha direção uma moça. Era tão
linda, com olhar tão sereno e calmo que não me senti ameaçado nem
desconfortável. Era como se já a conhecesse. Seus passos eram firmes e ao mesmo tempo transmitiam
leveza.
-
Olá Ruan, como se
sente?
-
Como sabes meu
nome? Quem és?
-
Me chamo Andreia.
-
Olá Andreia, onde
estou?
-
Ruan, onde
estamos não é importante agora, mas sim o que vou lhe mostrar.
Falando isto Andreia tocou levemente minha testa, entre
minhas sobrancelhas. De imediato, imagens apareceram à minha frente numa
velocidade incrível. Eu não podia explicar o que era aquilo, apenas perceber as
imagens, cenas que se formavam e incrivelmente sentimentos vinham à tona.
Percebi um homem, muito bem
vestido, com roupas de um fidalgo, porém mais antigas. Parecia até um Rei de
tanta pompa e luxo que ele possuía. Era uma sociedade onde haviam muitos luxos
e pessoas importantes. Vi uma festa acontecer. Algumas pessoas se destacavam
nela. Este homem, o dono do local. Dois amigos inseparáveis dele, também muito
pomposos. Estes sempre ao lado do homem, conversando coisas e
planejando...alguma coisa. Sorriam fugazmente a cada palavra entoada. O homem,
ao meio, apenas sorria, concordando com as futilidades que eram colocadas. Seu
olhar ia distante. Ele percebia as mulheres que estavam no local. Separava
mentalmente aquelas que ele já havia “conhecido” das que ainda não. Das que ela
já conhecera, uma sempre estava ao seu redor. Grande, bonita e até
extravagante, a mulher não poupava atitudes para ter a atenção daquele homem.
Ele muito a contragosto, enquanto não percebia outra mais interessante, se
distraia com ela. Os tais amigos deste homem não se intimidavam com o
oferecimento desta senhora ao homem. Eles participavam do cortejo. De repente
os olhos do homem brilharam ao perceber uma desconhecida, naquele ambiente. Era
ela, realmente quem ele mais aguardava a chegada. A muito tempo ele estava à
cortejar, de forma mais respeitosa possível, aquela desconhecida. Fora um
batalha conseguir sua confiança à ponto de levá-la ate aquele evento. Sua
família, também, nova na cidade não dava espaço à qualquer homem que se
aproximava da jovem moça. Para isso ele teve que fazer-se interessado em
negócios com o patriarca daquela família e ate perder algum dinheiro para enfim
conquistar a confiança de todos. Mas nada disso mais importava. Ela estava ali.
E agora era colocar o plano em
ação. Ao recebê-la na
entrada, fez questão de deixar que todos ali percebessem a sua preferência.
Durante alguns minutos desfilou com seu bibelô pelo salão, embriagando-se com
os olhares de inveja e desejo que tanto homens quanto mulheres direcionavam à
eles.
A outra, a mulher mais despojada,
sentiu-se dispensada, como um nada. Mais isso parecia não importar pois ela
conhecia bem aquele homem, do que ele gostava e como ele agia. Muitas já haviam
sido feitas de bibelô como aquela e no fim eram simplesmente largadas como um
brinquedo velho deixado após o tédio. Outras não conseguiram agüentar tudo que
acontecia no calar da noite e partiam chocadas. Ela era a única que depois de
ter sido “provada” e cuspida, mostrou-se sem limites o que a deixou em posição
de poder estar sempre por perto dele.
Além disso ela sabia de muitos
segredos dele, como ele agia, seduzia, conseguindo o que quisesse, de quem quer
que fosse.
No meio do salão, após uma dança
típica, ele, o Homem, olha para seus amigos e com um balançar de cabeça dá a
senha para o inicio da parte particular da festa. A jovem moça não desconfia,
mas já bebeu algo que propositadamente foi colocado em sua bebida para que ela
ficasse mais “aberta” à nova etapa que aconteceria.
Os amigos e alguns convidados,
escolhidos à dedo sobem para a parte “reservada” da festa. Depois de uns minutos, o Homem com sua
convidada especial sobe atrás. No corredor que os leva á sala principal daquela
festa reservada, a visão é indescritível. Um ambiente de luxuria que nunca
havia visto antes. O cheiro que exala daquele corredor parece preparar quem
passa por lá para o que está preste à vir. No caminho, mulheres nuas se
entrelaçam, quase formando um ser apenas, gemidos, gritos e sussurros. Aqueles
que ainda não estão nus são atacados pelos outros, numa fúria sedenta de
prazer, roupas são arrancadas, rasgadas. Urros são escutados vindos de todos os
cômodos existentes ao longo do corredor. Homens com mulheres, com homens,
mulheres com mulheres, com dois homens. Sons de tapas, de gritos, de choro,
alguns têm lágrimas nos olhos, mas tudo reflete apenas a loucura pelo prazer
descompassado.
À medida que o homem passa, aqueles
que estão pelo caminho param e admiram. As mulheres tentam, sem sucesso com
suas performances chamar atenção dele e até alguns homens também. A certa
altura um homem e uma mulher vão na direção da jovem moça, que apenas sorri
muito a cada cena que percebe, lançam-se para tentar rasgar todo o vestido que
ela ainda esta vestida. A atitude faz com que a moça fique apenas com os seios
à mostra, pois o Homem num gesto rápido empurra a mulher e com um soco
desacorda o homem. Por incrível que
pareça a cena de violência deixa os outros mais vorazes de sexo, provocando que
os urros aumentem sensivelmente. O Homem repara aqueles seios tão bem formados,
de tamanhos médios, brancos como a luz da lua com auréolas e bicos levemente
rosados. Mas a moça não está mais a sorrir apenas se cobre envergonhada. Ele
retira seu paletó, de um azul forte, chamado à época de Encharpam e cobre a moça
semi nua. Ao fim do corredor, na sala principal, os dois amigos estão a se
lançar sobre uma outra moça que atônita apenas cede aos avanços dos senhores. A
mulher, despojada como sempre, está totalmente nua, apenas com umas sandálias,
um lenço no pescoço e uma taça de vinho. Está sentada em frente ao corredor
apenas a espera do seu senhor, como ela o chama naquele ambiente. Ela como uma
cadela no cio, vai em direção ao Homem e à jovem moça e começa a ronda-los como
a sondar o brinquedo que será ofertado. Passa de leve a mão sobre os braços
cruzados da jovem moça, que de cabeça baixa, não ousa levantar os olhos. A
Mulher está à espera de um gesto de seu
senhor, para então agir. O Homem observa o ambiente a cena da mulher envolta da moça. Ele se
delicia com o momento precedente ao que iria acontecer, ao seu controle, é
claro. Com um olhar ele autoriza a mulher a agir. Ela com delicadeza, fala umas
palavras ao ouvido da moça que fica rubra e solta um sorriso descompassado. Seu
coração a denuncia, assim como os bicos do seios, levemente endurecidos. A
mulher então com o braço envolta da cintura da jovem a conduz para o quarto
principal, no lado oposto desta sala. Todos naquele ambiente acompanham a cena
com os olhos. À medida que a mulher vai conduzindo à jovem ao quarto, vai
despindo-a, peça por peça, como se fosse um ritual, extasiando o Homem que à
distancia controla tudo com seu olhar. A alguns passos de entrar no quarto, a
jovem toda nua, já exprime, pela sua respiração ofegante e descompassada seu
medo e êxtase descontrolado pelo que a aguarda. As duas param antes de
atravessar o portal. A mulher, como que por instinto, ficando ombro a ombro com
a jovem, porém, se postando de frente à esta, inclina o pescoço para o lado,
para observar o Homem, postado exatamente atrás, à distancia das duas. O Homem
com olhar fixo com um leve balançar de cabeça autoriza as ações seguintes. Ele
estica os braços, perpendicular ao seu tórax.
Todos no recinto avançam em sua direção, menos as duas, que permanecem
onde estão. A ansiedade demostrada nas ações daqueles que estão na sala é digna
de animais. Uma avalanche avança em direção ao Homem que à distancia, ainda
guarda o olhar fixo no corpo da jovem, de costas, nua, e no olhar da mulher que
parecem-se desafiar um ao outro. Ela treme ao ver a aproximação dos outros em
direção à ele, e ele, ele fecha os olhos
e inclina a cabeça para cima. Suas roupas são arrancadas, rasgadas, num
frenesi, de mãos, bocas, dentes, línguas, e unhas. Após estar nu, ele emite um
som, alto e reconhecível de repugnância, pois não agüentava mais ter seu corpo
tocado daquela forma. Desta forma afasta todos com um movimento dos braços;
forma-se um semi circulo com ele, nu, ao centro, olhando fixamente para o corpo
nu da jovem moça. Sua respiração está ofegante, sua saliva escore no canto de
sua boca, como um predador saboreando sua presa antes da atacá-la. Seu corpo é
definido e bem moldado. Ele começa a se mover, passo a passo. A mulher fala
novamente no ouvido da jovem moça. De imediato ela reage descompassadamente
suspirando e solando pequenos sons, como gemidos. A mulher, ainda olhando para
o homem, de frente para a jovem moça começa a passar a língua pelos ombros da
jovem.
Há um som no ambiente, vindo dos
outros. “uh uh uh uh uh uh uh”,
ditando os passos do homem. Os outros, que já ficaram para trás, como se
iniciassem um ritual de vida, de acasalamento, de morte, mantém-se com o som,
aumentando a cada passo dado pelo homem, e ao mesmo tempo vidrados com a cena.
A mulher, lambe a pele da jovem como a preparar para o seu dono, dando-lhe um
banho de língua. A jovem já não controla suas ações, seus pensamentos estão
confusos, ela treme, mais quer continuar com o que acontece; sente um
magnetismo àquele homem como a nenhum outro. Ele é seu dono e ela é sua em
todos os aspectos. Ela percebe a aproximação do seu senhor. É como se pudesse
já sentir os pelos do corpo dele a encostar no seu, mesmo ele distante, como se
sentisse o calor que emana do corpo dele a envolver e dominá-la. Ela virgem,
pura, agora pronta para ser “selada” pelo seu dono, seu homem, seu macho.
De repente os outros silenciam. A
sala cala-se próximo do encontro dos corpos. Apenas houve-se um
turu...turu...turu, são os batimentos cardíacos dos dois em harmonia. Pronto ,
a união já está próxima, os sons em ritmo do músculo cardíaco demonstra que a
alma de um já entrou no compasso da outra; da fêmea à espera do macho, do polo
positivo ao seu negativo, de receber seu outro, de aceitar e envolvê-lo com
todos seus músculos, pele, suor, olhar, gemidos, salivas e lágrimas. Ele se
delicia com este momento precedente. Não tem pressa, apesar de seu apetite
voraz. A dois passos de estar nela, ele olha para a Mulher e com um simples
olhar ordena que pare. Ela, sempre atenta, para e com dois passos para trás,
submissa, se coloca em sua posição. O que se seguia a seguir surpreendeu todos
no local, inclusive a mulher. O Homem, após tocar o corpo da jovem com o seu,
encaixando-se, e beijando sua nuca, passando suas mão pelo contorno, seios,
anca, colo, pernas, a pega pelos braços e a leva para o interior do quarto
fechando as portas, grande, a sólidas, para que ninguém participasse. Isto era
incomum, todos argumentaram, pois era comum ele a desflorar ali, na frente de
todos, entre beijos, tapas e sua força bruta. A mulher preocupou-se. Todos se
acotovelaram à porta para ouvir, Não havia sons de tapas, choros, dor, êxtase.
Ao contrário, silêncio, beijos, gemidos e satisfação. O interesse dos outros
perdeu-se com os minutos, mas não da mulher. Ela estava transtornada em ficar
de fora e de não entender o que ocorrera. Lágrimas brotaram de seu olhos
verdes. Sua maquiavam desmanchou-se. Transformou-se numa colombina triste.
Deixou-se cair encostada à porta; adormeceu. Acordou com um supetão ao ouvir a
porta se abrir. Era ele, imponente como sempre, a olhar na sua direção. Ela
esperava um gesto, algum dele para ela. Talvez convidando-a a fazer parte. Ele olha para dentro
novamente. Ele já está vestido impecavelmente de novo. Ao retornar o olhar para
ela, seus olhos estão amedrontados, frágeis, juvenis. Ele olha para dentro de
seu carpejan. Retira algo. É um
envelope selado com seu brasão. Ele continua com o ritual, mesmo estando
diferente. Se ela não se engana há dentro do envelope uma frase. Única. Capaz
de acabar com as esperanças de quem é endereçada. “ O ontem já se foi...o amanhã ainda será...o hoje....só posso
agradecer pelo ofertado”. Se alguma tinha a pretensão de insistir, nunca
mais o veriam ou o teriam.
Ele entrega e pede que a mulher
coloque na jovem quando a deixa-la à porta de casa, ainda naquela madrugada.
Com um gesto ordena que todos se retirem, inclusive a mulher.
As cenas que se seguem são
dolorosas e incompreensíveis. A jovem sendo descoberta pelo pai., desespero
dela, dele, da mãe, dos irmãos. O
envelope, ainda lacrado e notas de dinheiro junto ao envelope. Dor, frustração,
angustia a dominam. Ela guarda dentro de si as palavras dadas por ele naquele
leito, quando estavam à sós. Lembra dos olhos dele no momento em que ela era
“descoberta” por ele, das lágrimas e do beijo. Não era possível que fora o
mesmo homem que fizera aquilo. O pai a toma pelos braços e a leva,
violentamente àquela propriedade para cobrar explicações. Encontram o Homem no jardim, com a Mulher, agora com o porte
de uma dama e seus dois amigos, dois verdadeiros cavalheiros. O pai esbaforido,
com a filha nas mãos cobra uma explicação para o fato, sacudindo o maço de notas
que estava junto com o envelope, este de posse agora da Jovem sem que o pai
saiba. O Homem escuta o que o senhor grita e ao ver as notas leva os olhos à
mulher que com um leve sorriso demonstra ser sua obra.
Ao final, percebendo que o senhor
parara de gritar, talvez para pegar ar, o Homem se levanta e sem demonstrar
alteração, vai na direção dos dois. O senhor aguarda. O Homem dirige-se à
jovem. O Senhor tenta afasta-la. Não consegue. Ela o quer, e desvencilhando-se
do pai fica livre para a aproximação. O Homem fica à frente da jovem e balbucia
uma pergunta: “Diga-me milaide, foi
forçada a alguma coisa que não quisesse enquanto esteve em minha propriedade?” Sua voz grossa e marcante quase a deixava sem
ar. Ela deliciava-se ao ouvi-la novamente em sua direção. “ Então minha cara, tudo que aconteceu aqui foi sem seu
consentimento?”, o Homem volta a
insistir, chegando mais perto da boca da jovem, deixando-a em frenesi. Ela ,
inteiramente dominada pelo seu senhor, que era facilmente reconhecido à sua
frente, só conseguiu gemer uma palavra: “não...”.
A mulher e os dois amigos novamente estão em estado de êxtase, com suas
respirações ofegantes. O Pai, desesperado com a cena, puxa a jovem de volta
para perto dele e vendo que era inútil a tentativa, arranca em direção à saída
com a filha. A jovem, não consegue tirar os olhos do seu senhor, e num
movimento súbito se solta de seu pai e volta caindo aos pés do Homem. Pronto,
estava feito. Ele tem um sorriso no canto da boca. “Meu senhor sou tua, não me deixes sem teu cheiro, teu olhar, tua
saliva, teu hálito, teu suor....me faz tua escrava....” A sentença estava
dada. Os convidados do Homem, já se acariciando contemplavam a cena. O Pai,
vendo a subjugação da filha, parte de volta e a arranca dos pés do homem, levando-a
a tapas e pontapés de volta à sua casa. O Homem dando de ombros, volta a
sentar-se com os convidados, mas algo está diferente nele, pois ele volta a
cabeça para trás a olhar para a cena do pai carregando a jovem para fora de sua
propriedade.
Os dias se passam, semanas, e o homem não tem mais o
mesmo ímpeto para as orgias sempre bem vindas naquele lugar. Ele não sai do
parapeito de seu quarto a contemplar a lua, todos as noites. Seu peito está apertado e ele não se reconhece.
Num dia de manhã, recebe novamente
seus comparsas para uma chá, no jardim. Futilidades são faladas. Ele esta
tentando ser natural. De repente um grito. Vem do seu aposento. Ele corre
naquela direção. Uma de suas empregadas sai apavorada do quarto. Ele entra.
Apenas percebe um lençol amarrado as grades do parapeito. Aquele mesmo que
antes envolvera o corpo daquela que o havia tocado de um jeito diferente,
agora, estava em volta do pescoço da jovem moça, sustentando seu corpo, já sem
vida, para fora da janela do quarto. Ele a puxa de volta, acreditando ainda
poder salvá-la, salvar-se a si mesmo. Era tarde. Sua condenação veio da mesma
forma que sua salvação. Ela de corpo semi nu, já pálida, demonstrava a sentença
que era dada ao coração do Homem.
Amarrado ao seu pulso, o bilhete
que ele endereçava naquele envelope, com aquelas palavras: “ O ontem já se foi, o amanhã ainda virá, mas
o hoje estará para sempre guardado dentro de mim pois encontrei você!”. Ele a abraça e chora compulsivamente,
deixando-se ser quem ninguém nunca conhecera, grita, implora, mas nada pode
mudar o que estava frio e sem vida em seus braços.
As cenas aceleram, solidão,
abandono, loucura é o que resta naquela propriedade. O Homem se isola de tudo e
todos, vendo, ouvindo, interagindo a cada minuto com ela, que insiste em estar
ali, como ele mesmo diz. Está irreconhecível, barba e cabelos grandes, roupas
mal trapilhas. O lugar também deixado por todos reflete a energia que vem do
dono.
As cenas vão sumindo aos poucos,
enquanto o vejo deitado próximo ao para peito de sempre.
A voz de Andreia também vai
sumindo.....
-
Lembre-se...
recebes exatamente o que plantas, na medida do necessário e oportuno. És o leme
que traz os resultados que hoje colhes......e que ainda colherás
-
ANDA
ACORDA!!!!!!!
O contato da água fria com o corpo sempre produz uma
descarga elétrica, nos fazendo...voltar a consciência.
--------------------------------------------------------Fim
da décima parte-----------------------------------------------------------
-
Grávida Doutor
Henrique......Que Deus nos ajude....Antenor vai fazer uma besteira.
-
Como assim Dona
Joana? Teme pela vida de sua filha?
-
Não, não por ela,
mas pela vida do pai desta criança?
-
Ma quem é este?
-
Aquela Gadjo que
andava na cidade
-
Aquele que ajudou
seu Antônio?
-
Sim exatamente!
Ele é um cigano pelo que sei
-
Um Cigano.....mas
seu Antenor tem verdadeira ojeriza por este tipo de pessoa...
-
Pois é.....não
sei o que fazer.....
-
Olha Dona Joana
sem querer me intrometer, mas acho que posso ajudá-la.....preste atenção.....
Henrique percebia oportunidades quando as via. E
geralmente não as perdia. Assim ele foi explicando tudo à Joana.
Dois dias depois, Natália estava
melhor e já se preocupava em ter noticias.
Joana foi ao quarto para ter uma conversa definitiva com ela.
-
Minha filha, como
estás?
-
Ótima mãe, deve
ter sido só a tensão...preciso levantar e descobrir noticias de Ruan!
-
Espere precisamos
conversar....Eu sei onde ele está...
-
Onde mãe, me
conte!
-
Natália, antes,
preciso te explicar algo! Teu pai irá com certeza matá-lo!
-
Como assim? Ele
disse isso?
-
Não!
-
Mas como sabes
então?
-
Minha filha como
acha que seu pai reagirá quando souber que a filha dele espera um filho de um
vagabundo, de um cigano?
-
O que? Como
sabes?
-
Doutor Henrique
veio aqui enquanto estava desacordada....
-
Mas....como.....
-
Preste atenção!
Posso ajudá-la, mas precisamos agir rapidamente. Já preparei uma carroça onde
Carlos o levará para onde quiseres. Seu tio Antônio o ajudará, mas...
-
Mas o que mãe?
-
Você terá que
desistir dele e se casar com Henrique!
-
COMO ASSIM????
-
Depois que conseguirmos
tirar este cigano daqui e dar um sumiço nele, quando seu pai descobrir que está
gravida, vai enlouquecer, por isso, deves casar com o Doutor, que está muito feliz em ajudá-la.
-
Mas ele? Eu
não.....nunca...nunca mamãe.....
-
Minha filha pense
um pouco...prefere ver o pai do seu filho morto, e ter que conviver com isso e
com seu filho, ou prefere ter a certeza que ele está vivo e criar seu filho com
uma boa educação e bem?
-
Mamãe eu amo
RUAN........eu não conseguirei Falando isso, caiu na cama com as mãos nos
olhos chorando. Só de imaginar-se longe de mim e convivendo que aquele médico,
se desesperava.
-
Se o Ama
mesmo.....fará o que disse! Mas precisa se decidir hoje ainda pois está tudo
preparado para esta noite, não pode passar desta noite. Voltarei aqui mais
tarde para saber tua resposta!
Natália não sabia o que fazer.
Debilitada como estava, sabia que precisava se cuidar para a gravidez, isso a
impedia que agir por conta própria. Pensou em mim, nos momentos que passamos
juntos. Traçou um plano. Iria aceitar a oferta de sua mãe, mas, assim que eu
estivesse livre ia de encontro ao meu encontro, e assim ao contar sobre a
gravidez, poderíamos viver juntos, longe dali, claro.
-
Então minha
filha, já tens uma resposta?
-
Sim minha mãe!
Concordo com tudo que me pedires, só peço que ao resgatá-lo levem-no, para que
restabeleça, pois deve estar muito mal, para aquela caverna que eu brincava
quando era pequena, na região das falácias.
-
Isto não será
problema. Darei as recomendações a Carlos. Fique aqui, para que seu Pai não
desconfies. Pela manhã ele estará salvo!
Joana foi na
direção de Carlos, seu empregado de confiança.
-
Carlos, está tudo
pronto com Antônio?
-
Sim Dona Joana,
ele está no celeiro só aguardando a mudança de vigias. Assim que acontecer vai
agir e eu estarei esperando por ele com a carroça.
-
Ótimo, peça à seu
filho Sebastião que vá no acampamento daquele povo, e entregue esta carta à
qualquer um lá! Peça que ele vá o mais rápido que puder!
-
Sim, farei isso
agora!
Carlos despachou seu filho que rumou para área indicada
por Joana. Sebastião era um hábito cavaleiro e ida até o local foi na metade do
tempo que os outros levavam. Ao chegar à
entrada do clã, avistou a primeira tenda e percebeu uma moça do lado de fora a
contemplar a Lua. Era Andressa. Ao perceber um vulto se aproximando, pegou seu
punhal e se preparou!
-
Moça? Podes me
ajudar?
-
Quem é? O que
queres? Não sabes o perigo que corres?
-
Sim sei, mas sou
um mensageiro. Trago uma mensagem, uma carta.
-
Deixe-me ver.....à medida que ia lendo seu rosto se iluminava.....
“ a quem posso interessar. A vida do Cigano chamado RUAN corre perigo.
Estaremos deixando-o para que seja resgatado na caverna que existe no monte
Antor, na região das Falácias. Venham rapidamente!”
De um salto Andressa, pegou umas provisões e montou em seu
cavalo. Era excelente Amazona e não tardaria a chega ao local indicado.
Carlos já aguardava Antônio que com muita dificuldade me
arrastava até o local planejado. Depois de me colocarem na carroça rumaram para
o lugar combinado. Após se instalarem no local, tratarem meus ferimentos,
Antônio se despediu e voltou para a fazenda, para não levantar suspeitas.
Carlos, então estava a me velar quando percebeu um movimento fora da caverna.
Eu muito debilitado nem conseguia ergue meus olhos para ver algo.
-
Quem se
aproxima??
-
Eu vim à procura
de Ruan, conforme esta carta que me foi entregue!
-
Sim, sim....mas o
que és dele?
-
Sou sua mulher.
Somos um do outro. Onde ele está quero vê-lo!
-
Ali. Apontou
Carlos. Andressa foi na minha direção.
-
Ruan meu amor.
Que saudades. Meu Deus como estás abatido. Vou cuidar de ti!! Andressa falou isso colocando minha cabeça em
seu colo.
-
Carla és tú?
Devido ao estado de inchaço dos meus olhos não conseguia abri-los. Mau
conseguia falar.
-
Sim meu amor...estou
aqui, acalma-te
-
Bem já que a
senhora agora esta aqui, voltarei para a fazenda. Daqui para frente é com a
senhora!
-
Obrigada, muito
obrigada meu senhor!
Carlos já estava na sadia da caverna quando ouviu um
chamado, baixo.
- Carlos, Carlos, aqui...
-
Dona Natália, o
que fazes aqui?
-
Vim ....bem não
importas mais. Me diga como ele está?
-
Olha, não sei
dizer ao certo, mas se sobreviver será milagre.....ele tá lá...com....
-
Eu sei! Eu
escutei. Sei quem é! Torço para que sejam felizes então! Vamos embora daqui! Com
a voz embargada Natália se despediu de mim, ao olhar para a luz que saía da
caverna. Estava selado o destino.
Após 2 dias, e de uma mudança de lugar a fim de
preservar-nos eu já estava melhor e pelo menos já enxergava novamente com um
dos olhos. O Outro improvisei um tapa olho a fim de ajudar na recuperação pois
a luminosidade me incomodava muito.
-
Andressa o que
aconteceu? Pouco me recordo....
-
Ruan, não sei
muito mas o que sei te explicarei....Andressa começou a contar os fatos,
pela sua visão para que Ruan se inteirasse, como ela queria. Explicou o
ocorrido sobre como ficou durante quase 80 dias sumido. Sobre a noticia de sua
morte, o desespero de todos e sobre Carla. As lágrimas saiam de meus olhos
neste momento. Saber que Carla nem esperava para confirmar minha Morte me
abalou muito, ainda mais depois que soube que se unira a Pablo e já estava
grávida.
-
O QUE??? Como
pode??? Vamos, quero ver isto tudo de perto...vamos voltar!!!
-
Ruan, não
podemos. Acabou, vamos seguir daqui!!!
-
Nunca! Vou Voltar
-
Ruan cuidado
então. Pablo é outro desde que se uniu a minha irmã. Temo pela sua vida. Minhas
cartas me alertaram sobre o sangue que correrá do encontro de vocês, cuidado
por favor. Se vai voltar, tudo bem, irei contigo, mas fique com meu punhal só
por garantia, por favor, te imploro!!
-
Não acredito
nisso, mas me dê aqui este punhal.....vamos não percamos tempo!!!!
A lua ao alto iluminava o nosso caminho em direção ao clã.
Porém não tínhamos a idéia aonde os acontecimentos nos levariam. Aproximação dos cavalos ao acampamento
me faz relembrar as inúmeras vezes que, distante, sonhava no
dia que retornaria. Nunca imaginava que seria com aquilo dentro do peito.
----------------------------------------------------Fim da
décima primeira parte--------------------------------------------------
Uma movimentação atípica chamou atenção de Mercedes. Minha
irmã estava sem conseguir dormir depois de tantos acontecimentos. Desde de
minha saída do clã, tudo se modificou. Com a morte acidental de meu pai, fato
este que ocorrera a apenas 3 semanas atrás, ela teve que ajudar que minha mãe
mantivesse o clã unido visto que com a noticia de minha morte o desespero
tomaria conta de todos, e naturalmente cada um tentaria manter-se por si. Mas
pelo menos Carla teria um filho, meu filho, herdeiro direto e com sangue que
poderia assumir a liderança do clã, logo que estivesse pronto. Ao perceber
aqueles dois se aproximando do clã temeu o que ainda poderia acontecer. A
velocidade, àquela hora, no amanhecer, dos cavalos, indicava que a situação era
urgente.
-
Ruan? Ruan? MEU
DEUS RUAN é você???? Que Santa Sara me ajude......RUAN!!!!
-
Mercedes, que
bom!! Como estás minha irmã?
-
Bem, Bem, mas
achamos que estava morto Ruan, como podes?
-
E.... quase minha
irmã, quase, mas deixemos isto para lá! Onde está Papa e mamãe?
-
Ruan Papa, teve
um acidente com o cavalo, quando tentava consertar a barragem......ele não
resistiu!
-
Como? Papa
morreu? E eu onde estava Deus meu???? Minhas lágrimas já tão represadas por
tudo que acontecera não suportou mais aquilo. Abraçado à Mercedes, não tive com
as segurar. Andressa, que vinha logo atrás estava a alguns passos percebendo
tudo. Quando minha mãe me encontrou, nos abraçamos,
eu, ela e Mercedes nos abraçamos e deixamos a emoção transbordar. A
movimentação ia aumentando à medida que todos iam se apercebendo do que
ocorrerá. À longe um casal vinha de mãos dadas. Engraçado como nesta horas
percebo o destino agindo. De um vez, os três, o casal e eu cruzamos os olhares.
Era Pablo de mãos dadas à Carla, que tinha o lenço dele amarrado ao seu braço.
Apesar de estarmos um pouco distantes um do outro, aproximadamente uns 100 metros , ela percebeu
meus olhos olhando para o lenço em seu braço, amarrado. Como que
automaticamente, Carla ao perceber meus olhos colocou sua mão direita em cima
do lenço, que estava amarrado em seu braço esquerdo. Estremeceu, todos nós
estremecemos.
-
MEU DEUS....É
RUAN!!!!! ELE ESTÀ VIVO!!!! COMO??????
-
Carla, calma,
calma, tudo tem uma explicação......
-
PABLO??? NÃO
PERCEBES??? RUAN ESTÁ AQUI, DE VOLTA, COMO PROMETIDO.......
-
Carla...sim...mas
olha.....vamos primeiro saber o que aconteceu....
-
O QUE
ACONTECEU??? É QUE ELE ESTA AQUI, VIVO E EU...............MORTA!!!!!! Carla fora muito dura ao fazer o comentário e
Pablo sentiu o golpe, tanto que largou sua mão. Ela ao se tomar pela a emoção
começou a imaginar como reagiria em
frente à Ruan, sendo ela agora de Pablo. E aquela barriga, não tinha como
escondê-la, e todos ali já sabiam que, pelo que ela contou e Pablo confirmou
era filho deles. Se desesperou e ao perceber a atitude de Pablo virou-se e saiu
correndo em disparada na direção de onde se encontravam os cavalos. Eu percebi
tudo e ao ver Carla saindo em disparada não agüentei e gritei pelo seu nome.
-
CARLA!!!!!!!!!!
-
Ruan, espere.
Carla é de Pablo hoje. Eles terão um filho, além do que o lenço já está no
braço dela!!!
-
Mercedes.....como
assim Grávida? Não pode.... isto é loucura!
-
Ruan escute sua
irmã, Carla, esta hoje com outra vida. Não vale a pena ir atrás do passado. Andressa
falou isso passando as mãos pelo meu ombro.
-
ANDRESSA....passado
só se eu deixar que fique onde está....se eu for atrás será meu futuro!!!!
-
POR FAVOR
AJUDEM!!!!! Antônio chegava da mesma
direção que Carla fora, afoito e preocupado. Ele parou exatamente entre o grupo
que me rodeava e Pablo.
-
O que foi Antonio???
-
Carla, apareceu
do nada e pegou a carroça que Antônio Rodrigues se acidentou...eu ainda não
havia fixado a roda que poderá se soltar a qualquer momento.
-
Em que direção
ela foi Antonio?
-
Pablo.....ela foi
na direção sul, onde há....os.....
-
Penhascos
“gandis”!!! respondeu Pablo que imediatamente foi naquela direção. EU percebendo a movimentação dele,
voltei para pegar meu cavalo. Sabia de um atalho por trás da grande parede que
me colocaria em vantagem à ele. Andressa percebendo tudo veio em minha direção.
-
RUAN o que pensas
em fazer?
-
Salvá-la,
CLARO!!!!
-
Preste atenção
Ruan ela é de Pablo não podes fazer mais nada!!!
Ao Falar isto pegou em meu braço e o sacudiu. Eu de
imediato a peguei de uma forma rápida e até estúpida, com minhas mãos em seus
ombros e a sacudi trazendo para próximo de mim e sussurrando perto de seu
ouvido:
-
Posso até não
poder fazer nada em relação à isto, mas prefiro-a viva aqui, vendo-a todos os
dias, mesmo sabendo que ela é de outro do que nunca mais vê-la!
-
PRESTE
ATENÇÃO....seu idiota....se queres perder teu tempo nisso, vai...mas fica
atento à Pablo! Ele não me inspira confiança e já vi nas minhas cartas sangue
no teu reencontro com ele! Temo pela tua segurança. Lembre-se do meu punhal que
estás contigo!!
-
Besteira
Andressa.....agora sai....estou com pressa.
De um pulo montei em niegro
e partir pela estreita passagem da grande parede. Em poucos minutos tudo
estaria decidido e traçado. Nada poderia ser alterado.
----------------------------------------Fim da décima
segunda parte----------------------------------------------------------------
Ao Sair pela fenda que me levou à frente de Pablo percebi
pela poeira que Carla estava um pouco à frente. Num impulso coloquei niegro em disparada na direção da carroça. Era uma
briga contra o destino. Meu coração batia tão alto que mal conseguia ouvir o
trotar, rápido de meu cavalo. À medida que me aproximava, meu nervosismo
aumentava. Atrás, Pablo já apontava e vislumbrava a cena, eu me aproximando de
Carla. Ele, ao mesmo tempo aliviava-se e preocupava-se.
Eu à medida que o espaço entre eu e a carroça acabava
imaginava o que diria à Carla. Olhei para a roda da carroça que estava a alguns
centimetros de se soltar.
-
CARLA!!!!!!!!!
Gritei para que ela percebesse. Ela virou a cabeça em minha
direção. O tempo parou. Os olhos de Carla transmitiram tudo, numa fração de
segundos. Tudo que queríamos dizer um para o outro foi dito em apenas um olhar.
Estendi a mão para que ela se aproximasse, para que eu a pegasse. Ela sorriu, e
um momento de alívio transcorreu. Ela sentindo que eu não a condenaria e eu ao
perceber que ela não me esquecera. Ela por ocasião veio se sentando mais
próximo do lado que eu estava. Fez menção de puxar o arreio para diminuir a
velocidade do cavalo, só que havia um obstáculo no caminho. Nos momentos que
nos distraímos pela presença de um e de outro a carroça começou a margear a
encosta, cheia de pedras. Num determinado ponto, uma grande pedra chocou-se com
a roda da carroça fazendo, com o solavanco o cavalo disparar com o susto e
Carla cais para parte de trás da carroça. Preocupado avancei com niegro e voltei a emparelhar. Carla pela
situação da gravidez não conseguir se colocar em pé. Pensei comigo: “preciso ir para dentro da carroça”. Me aproximei mais ainda da lateral e fiquei de
joelhos na cela. Quando me preparava para realizar o movimento vi, após a
baixada da estrada uma nova pedra no caminho, maior, olhei de volta à Carla que
percebeu minha angustia e me disse pelos olhos:
-
“Nunca me
esquecerei de você meu amor!”
-
CARLAAAAAAAAAAAAAAA!!!
Foi a única coisa
que conseguir fazer. A carroça bateu com força na pedra que fez com que a roda
se soltasse e jogando de lado, foi-se caindo desfiladeiro àbaixo. O desespero
me emudeceu à medida que via a carroça sumir, caindo. Fiquei fora da realidade,
e como que por reação não parei o cavalo, me joguei ao chão. Bati com a cabeça
no chão e não sei quanto tempo fiquei desacordado. Revi muitas cenas em que
estive com Carla. Quando éramos jovens, nosso primeiro beijo, seu olhar meigo,
de menina. Suas lágrimas quando ia partir para iniciar minha jornada, seu
abraço, colocando seu rosto abaixo do meu queixo. O gosto de sangue me fez vir à tona. Quando
me lembrei do ocorrido corri na direção que a carroça despencara-se. Minha
respiração acelerou. Senti minha perna muito dolorida, mas mesmo mancando não
podia deixar de ir ao local.
Ao ver de cima me desesperei. A carroça já não mais
existia. Estava um amontoado de paus e alguns ferros. O cavalo mais à esquerda
já estava agonizando seus últimos suspiros. Carla estava no meio, como se
estivesse deitada, descansando. Procurei uma parte que pudesse descer. Comecei
e a cada passo pedia que Carla estivesse ainda com vida, implorando à Deus que
me permitisse encontra-la de uma vez por todas. Não sei quanto tempo demorei na
descida. Quando cheguei lá, pelo lado que o cavalo estava percebi que o pobre
animal não respirava mais. Fui, arrastando a perna e me aproximando Carla. Me ajoelhei a poucos passos dela. Minhas
lágrimas já corriam sem controle. Ela estava lá deitada, de vestido branco com
detalhes amarelos. Com uma tiara de
flores silvestres na cabeça, e sangue envolta de seu corpo. Meu desespero era
total.
Peguei sua cabeça com todo cuidado. Sua nuca estava suja
de sangue. Apoiei sua cabeça no meu colo. Passei a mão pelo seus cabelos. Sua
respiração estava muito leve, seu pulso quase imperceptível.
-
Ruan.....você
voltou?
-
Sim meu
amor....voltei por você. Não disse que voltaria?
-
Achei que
estivesse morto....
-
Não sem antes ver
este olhos lindos de novo....
-
E agora eu é que
estou assim.....desculpe...
-
Não se
desculpe...ainda iremos nos divertir muito disso tudo....
-
Não Ruan, dessa
vez não. Olha não culpe e nem fique magoado com Pablo. Ele me ajudou e me
protegeu. Pensávamos que você estava morto.
-
Carla não se
preocupe. Eu sei disso tudo, eu e Pablo nos entenderemos.
-
Posso te pedi uma
coisa?
-
Sim o que foi meu
amor?
Carla retirando o
lenço de Pablo que estava amarrado em seu braço me entregou. Pegando o meu
braço retirou meu lenço e com um gesto pediu que eu amarrasse em seu braço.
-
Ruan por favor,
quero ser enterrada com seu lenço, pois é a quem eu pertenço!
Meu choro aumentou, e não consegui disfarçar dela. Minhas
lágrimas caiam em seu colo.
-
Meu amor, não
chores. Estarei sempre contigo!!! Vamos me leva até a nossa arvore quero estar
lá para sempre!
Não conseguia mais
falar uma palavra sequer. Chorava muito à ponto de me amaldiçoar pelas minhas
atitudes. Peguei Carla pelos braços, e mesmo sentindo muita dor me pus a subir
de volta para realizar seu desejo. No caminho,
as suas ultimas palavras me deixaram
mais ainda desconcertado e desesperado.
-
Carla, sei que
não seria momento para isso, mas e este filho?
-
Este é outro
assunto que tanto me aflige, agora. Apesar de saber que neste ponto não há como
voltar atrás....
-
Não precisa
explicar meu amor, só queria entender quando aconteceu....
-
Quando? Numa
noite linda de lua cheia, quando tuas lágrimas tocaram meu corpo, naquele
momento nosso filho foi concebido
-
Meu filho?
-
E achavas que era
de quem mais? De Pablo? Seu tolo....eu nunca poderia.......eu nunca amaria
ninguém mais....só poderia ser seu!
Minhas pernas fraquejaram. Tremi por completo e novamente
meu pranto tomou conta do silencio que queria fazer para esconder meu
arrependimento de todas minhas atitudes que me levaram onde estava. Chorei por
muito tempo, trazendo o corpo de Carla de encontro ao meu peito. Ela não mais
falava nada. Seu cansaço estava a consumindo, e minhas palavras eram de
vergonha.
Quando rompi a subida e cheguei à estrada avistei meu
cavalo. Carla já não mais respirava. Meu lenço estava amarrado ao seu braço,
sua pela branca estava suja da terra. Seu semblante era sereno afinal!
A recostei numa arvore próxima e fui preparar meu cavalo
para o irmos ao leito que colocaria Àquela quem sempre me esperou o retorno
estava ali imóvel e eu agora desejava nunca ter voltado.
Estava de costas e percebi pelo trotar a aproximação de
uma cavalo. Não me virei. Meu coração acelerou novamente. “O que ainda faltava acontecer?”, eu pensava.
------------------------------------------------------------Fim
da décima terceira parte--------------------------------------------
Pablo observava tudo de longe. Percebeu os acontecimentos.
A minha aproximação em velocidade, meu braço sendo oferecido à Carla. Depois, a
estrada tinha uma baixada e não pode acompanhar mais nada. Baixou a cabeça se
sentindo derrotado. Sabia que não tinha como competir pelo amor de Carla, eu
estando vivo. De repente escuta um grito:
-
CARLAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
De súbito apressa seu cavalo para ir naquela direção. Seu
coração acelera. Ao chegar à baixada me
percebe no chão, como meu cavalo parado distante. Uma poeira subia do fundo do
abismo. Temeu o pior. Diminuiu a velocidade de seu cavalo. Mudou de direção
indo na direção da borda do precipício, desceu do cavalo. Via ainda a carroça
se espatifar contra as rochas e Carla sendo jogada de um lado para o outro até
parar inerte no fundo. Suas pernas tremeram, bambalearam e ele caiu de joelhos
com as mãos apoiando a cabeça. Abaixou a
cabeça, ajoelhado, encostando a testa no chão e gemendo de desespero. Soltou
gritos a fim de amenizar a dor que sentia ao ver àquela imagem. Socou por
diversas vezes o chão.
-
Deus....por
quê???? POR QUÊEEEEEEEEEEEEE, MEU DEUS....POR FAVOR...TUDO MENOS ISSO!
Depois de ficar por alguns minutos na sua dor, levantou a
cabeça e percebeu eu descendo na direção de onde Carla estava caída. Passou os
braços pelo rosto, afim de enxugar as lágrimas e acompanhou, com os olhos minha
luta para descer até Carla. Percebeu meu desespero ao encontrá-la e meu cuidado
ao posiciona-la em meu colo. Acompanhou angustiado minha luta a fim de leva-la
nos braços até o cume. Ao perceber minha atitude de apoia-la numa árvore e
vendo minha lentidão em ir procurar ajuda, supôs que Carla estaria morta.
Decidiu então fazer o que lhe cabia ainda, e assim foi na minha direção.
Eu estava de costas para sua chegada.
Senti os passos se aproximando. Minha alma gelou. Pedi,
mentalmente, que não se aproximasse mais. Eu estava apreensivo, nervoso,
ansioso. Suava e minhas mãos tremiam. Percebi, à minha frente, onde o corpo de
Carla estava, a chegada de Andressa, se comovendo ao ver a irmã inerte, sem
vida. Andressa levantou o olhar e percebeu a cena que se passava à frente dela.
Andressa, me viu sair do acampamento em disparada indo na
direção da brecha na grande parede. Falou uns palavrões e montou em seu cavalo.
Pensou: “tenho que acompanhar Ruan,
idiota, ainda vai fazer alguma burrada”.
Pensou ainda: Ruan
vai pela brecha na grande parede....então vou contornar por cima dela....e
sairei à frente deles”
E assim fez. Demorou mais que todos mais saiu conforme
queria, è frente de todos. Quando estava no ápice da estrada, após a baixada,
viu algumas cenas que não entendeu bem. Eu, distante alguns metros arrumando
meu cavalo. Nenhum sinal de sua irmã, Carla, nem do cavalo nem da carroça, “menos mal”, pensou, “Ruan não deve ter alcançado e Carla deve
estar longe agora!”. Desceu do cavalo, e pôs-se a subir um pequeno e
íngreme levantar de terra, onde à cima desta havia uma árvore. Foi se chegando
por trás desta, e à medida que a circundava percebia um tipo de tecido a se
movimentar com o vento, que àquela altura era forte. A subida foi lenta e
devagar pois ela se intrigou sobre aquele tecido que se movimentava. Seu
coração acelerou, e uma pontada veio logo em seguida. Parou por
um instante. Voltou a olhar para o tecido e percebeu um pé descalço. Reconheceu
aquele enfeite que circundava aquele tornozelo, era Carla sem dúvida. Andressa
acelerou os passos para se postar à frente dela, mas à medida que caminhava
percebeu a cena por completo. Carla, inerte, já pálida, com a pele levemente
suja pela poeira, era a imagem do ocorrido sem que ninguém precisasse explicar.
Um grito mudo e seco saiu da garganta de Andressa.
-
NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
CARLAAAAAAAAA!
Caiu de joelhos ao lado do corpo. Suas mãos tremiam e suas
lágrimas corriam livremente pelo seu rosto ate tocar seu queijo e se atirarem
na terra seca. Passou delicadamente seus dedos pelo contorno do rosto da irmã,
como se tivesse medo de machucá-la. Sentou ao lado do corpo inerte, como faziam
quando eram garotinhas a brincar. Pegou a mão esquerda da irmã e entre laçou os
dedos. Encostou sua cabeça no ombro da irmã morta. Quis muito retornar o tempo e
mudar aquilo. Era impossível, sabia, mas queria muito tal intuito. Percebeu de longe a imagem que estava a
transcorrer à frente a alguns minutos sem que se percebesse. Pablo, sim Pablo,
se aproximava por trás de mim. Agoniou-se novamente. Movimentou seus lábios a
fim de gritar.....
Pablo próximo à mim parou seu caminhar e esticou o braço,
que lentamente seguiu o trajeto estipulado por seu dono......
Eu, de costas e percebendo a reação de Andressa, me
preocupei quando não mais ouvi os passos. Fechei meus olhos por um segundo.
- RUANNNN CUIDADOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!! A
voz de Andressa foi imediatamente sentida por nossos corações, ao mesmo tempo
em que a mão direita de Pablo tocava meu ombro. Gelei e como que por um passe
de mágica sai da minha hipnose, e num movimento sem pensar peguei o punhal, me
virei e cravei-o no peito de Pablo que sem entender, com a sua mão esquerda me
ofertava a pedra preciosa de Carla que estava sob sua guarda.
Com a voz tremendo disse:
-
Achei que
gos...gostaria de fiiicaar com ela!? Caindo ao chão.
-
PABLO....O QUE FIZ????
-
Ruan
des.....desculpe......não consegui aju...ajudar Carla! Ela a amava muito. Fique
com a pedra dela que dev....deveria ser sua!
-
Amigo....PABLO...me
perdoe.....Retirei o punhal que estava fixado em seu peito e o atirei
longe.
Nenhuma resposta a mais iria ser dada. Pablo estava morto
em meus braços. Seu sangue estava em minhas mãos, se misturando aos de Carla.
Era tudo minha responsabilidade. Minha cabeça estava à mil. Não conseguia
pensar direito. Olhava para Pablo, ali inerte, para Carla, fazia tempo que
minhas lágrimas não ficavam tão revoltas, libertas, sem controle algum.
Andressa estava chocada. Suas certezas já não a
satisfaziam mais. Ela percebeu o que queria dizer o sangue que viu, do encontro
meu com Carla e Pablo. Levantou-se ao perceber, longe, uma poeira vindo da
direção do acampamento. Ela tinha que me tirar dali, pois eu poderia ser
condenado caso o conselho do clã fosse convocado para apurar as duas mortes.
-
Ruan, levante-se
rápido.....vamos....há pessoas vindo nesta direção...vamos....
-
Andressa....não
posso....não tenho forças....olha o que fiz! Pablo....Carla...
-
Não fez nada,
apenas se defendeu, eu vi!
-
Me defendi? Mas
de que? Pablo nada fez....
-
PARE COM ISTO!!!
Não percebes seu idiota!!!! Você nunca poderia saber qual era a intenção de
Pablo.
-
Venha, apoie-se
em mim, levante-se.
Fui levantando e enxugando as lágrimas. Andressa ia me ditando o que fazer e eu como que dopado ia apenas executando
suas recomendações.
-
Preste atenção Ruan, vai na direção da caverna
“droli”, aquela que aportamos quando viajamos com seu Pai, quando tínhamos 7
anos....Vai para lá e não sai por nada. Em três dias estarei lá contigo levando
noticias de tudo.
-
Caverna droli,
lembro bem.....Eu, você, Mercedes, Pablo e Carla....Carla...Por Santa Sara o
que fui fazer???
-
Chega
Ruan...acalma-te. Olha vai logo, eu ficarei aqui pra providenciar o enterro de
Carla onde ela desejavas
-
Ao pé da
árvore....
-
Sim eu sei
Ruan.....vai...logo!!!
-
Mas e Pablo?
-
Cuidarei dele
também, mas anda te apressas....
-
Está bem....irei.
Parti deixando para trás toda minha vida. Estava zonzo
ainda pelos últimos acontecimentos. Montei em niegro e fui na direção combinada, mas era como se estivesse indo
para lugar algum, sem rumo. Olhei ainda para trás e percebei que dois
cavaleiros se aproximavam do local. Vi que Andressa permanecia ao lado do corpo
da irmã.
-------------------------------------------Fim da décima
quarta parte--------------------------------------------------------------
Andressa percebeu a aproximação daqueles homens. Eram
Carlos e Joaquim, responsáveis pela segurança do clã. Joaquim, seu tio, à muito
já havia levantado suspeitas sobre as atitudes da sobrinha. Um dia ficou
observando o movimento em sua tenda, e percebeu Igor saindo de lá. Ficou intrigado.
Porém, com a morte de Antônio Rodrigues, seu amigo, a situação teve que esperar
mais um pouco, porém com o meu reaparecimento e os acontecimento que se
sucederam ele tomou a frente para investigar. E precisava encontrar Carla e
Andressa para isso. Ao se aproximar, viu o cavalo de Pablo e ao lado, a uns 15 metros seu corpo
estendido ao chão. Estremeceu que coisas piores haviam acontecido. Pediu que
Carlos, que o acompanhava verificasse em área delimitada desde o cavalo para
ver se encontrava algo. Ajoelhou-se e percebeu que Pablo não tinha pulso e que
de seu peito uma ferida ainda expulsava
o sangue. Passou a mão pelos cabelos e pensou:
-
Meu Deus, o que
estes meninos fizeram?
Olhou na direção de Andressa e a percebeu escorada em alguém. Levantou-se
e foi em sua direção. Seu coração acelerava à medida que seus passos o levavam
próximo às duas. A imagem do corpo de Carla pálida, foi se fazendo nítida, e
seus passos acelerando no mesmo compasso do coração. Chegou próximo e não
acreditando no que viu:
-
Por Santa
Sara....Carla....o que aconteceu minha sobrinha?
Andressa abriu os
olhos e em prantos encarou o tio e disse:
-
Um acidente Tio.
Carla perdeu o controle de sua carroça e caiu no vale. Quando cheguei aqui só a
encontrei já sem vida no fundo do abismo!
-
Mas como isso
aconteceu?ANDRESSA O QUE REALMENTE ACONTECEU AQUI?
-
Tio já disse...um
trágico acidente.
-
E Ruan? Onde está
ele?
-
Ruan quando viu
que Carla esperava um filho de Pablo saiu em disparada para oeste, não quis
saber de ninguém mais.
-
E PABLO?
-
Pablo....Pablo...Tio....não
sei o que aconteceu. Provavelmente ele mesmo tenha tirado sua vida em desespero
ao ver Carla morta.
-
COMO ASSIM? Está
mês dizendo que Pablo se matou?
-
Só pode ser.....
-
JOAQUIM...JOAQUIM......
Gritava Carlos vindo em sua direção. Joaquim levantou-se
em foi em sua direção.
-
O que foi Carlos?
-
Olhe o que
encontrei!
-
Um
punhal....ainda sujo de sangue. Deixe me ver este punhal! Hummm estranho.
-
De quem será?
-
Isso é o que vou
descobri.
Joaquim voltou para onde estava Andressa. Assentou-se à frente
dela .
-
Andressa, então,
onde enterraremos Carla?
-
Tio, era desejo
dela ser enterrada à sombra daquela grande árvore que ela costumava brincar com
Ruan.
-
Hummm sei sim
qual é....Sobrinha me diz uma coisa, você ainda guarda aquele Punhal velho que
seu pai te deu?
-
Punhal....aquele
velho Tio?
-
Sim, aquele que
você tinha muito ciúmes dele. Não deixava ninguém encostar nele.
-
Eu o perdi. Não
sei onde foi...com esta confusão devo ter deixado cair em algum lugar.....
-
Mas você sempre
teve tanto apreço por ele...
-
Sim tio, tinha,
mas como ter cabeça para pensar nisso...neste momento?
-
É....verdade
mesmo! Mas olhe o que encontrei caido....
-
Tio...o senhor
achou o punhal?
-
Sim Andressa, eu
o achei, o que tens a me falar sobre isso?
-
Eu? Nada, porque
pergunta isto?
-
Andressa,
responda-me, anda!
-
Responder o que
tio? Não tenho nada a falar. Já disse eu
o perdi.
-
Ele foi
encontrado próximo de onde o corpo de Pablo estava...então?
-
Será que quem o
matou usou meu punhal?
-
Não sei, mas até
que eu descubra, você está sob nossa guarda e ficará aguardando mais
esclarecimentos, ficará sob nossa responsabilidade não poderá sair do
acampamento ate tudo estar esclarecido
-
Mas porque isso
tio? Eu não fiz isso com Pablo, eu Juro!
-
Minha sobrinha,
se você é inocente, não deves temer. O conselho estas reunido agora.
-
O conselho TIO?
Mas ele só se reúne em casos graves, que podem ameaçar o clã....
-
Sim....este
assunto merece o cuidado do conselho. Agora vamos Andressa! Levemos Carla para
que ela seja enterrada onde desejava!
Andressa foi levada até o clã para que pudesse ser
informada de tudo , os motivos de sua detenção no acampamento.
Chegando lá, Igor a fitou com os olhos e ela o indicou
para que ele a encontrasse em sua tenda.
-
Andressa...Andressa.....o
que você fez?
-
Como assim Igor?
-
Pablo....Carla.....e
Ruan onde ele está?
-
Achas que fui eu
quem os matou?
-
Se não....foi bem
propício, não Andressa?
-
SEU IDIOTA! Acha
mesmo isso.....
-
Andressa, só lhe
fiz uma pergunta
-
Pergunta? você
praticamente afirmou isso! Vai saia daqui!
-
E minhas coisas?
-
Que coisas Igor?Sabia
que só tinha vindo aqui por causa das jóias, pegue e suma daqui, vai saia da
minha frente!
-
Andressa não fala
assim.....desculpa! Não vim só por causa das jóias.....
-
Esquece
Igor...vai embora, e pode levar esta garrafa de vinho ai também, sei que gosta,
preparei ela especialmente para você!
-
Adeus
Andresaa...boa sorte!!
-
Boa sorte para
você Igor, vai precisar!
A distancia, Joaquim observava a movimentação na tenda de
Andressa. Percebeu a entrada de Igor, além de uma discussão acalorada entre os
dois. Ficou curioso com o que havia naquele baú que Igor saiu carregando.
Decidiu ir de encontro a Igor e tirar aquela história a limpo. Igor arrumava
seu cavalo, quando sem perceber Joaquim se posicionou do lado contrário o que
ele estava.
-
IGOR!
-
QUE ISSO JOAQUIM?
QUER ME MATAR DE SUSTO?
-
Desculpe-me. Mas
fiquei curioso porque esta arrumando suas coisas assim? Pensa em ir para algum
lugar?
-
Eu? É...eu ...eu
vou viajar um pouco. Tenho negócios a fazer!
-
Viajar? Mas não
acabou de retornar de uma longa e desgastaste viagem? Pelo menos foi isto que
Andressa me disse!
-
Andressa? O que
ela disse?
-
Nada demais,
apenas que tinha feito bons negócios por onde esteve, e que você a ajudou
muito!
-
Eu? Ajudei
Andressa?
-
Sim....me diz uma
coisa....o que acha que aconteceu com CARLA?
-
CARLA? Porque
pergunta para mim?
-
E COM PABLO,
SABES?
-
Eu.....porque eu
saberia?
Igor começava a suar e a indicar que havia algo a mais.
Joaquim percebeu o nervosismo dele ao tocar naquele assunto.
-
Igor calma....só
estou querendo saber se é verdade o que Andressa me disse...disso tudo e do seu
envolvimento nisso!
-
Envolvimento? Não
tenho nada a ver com isso. Tudo foi planejado por Andressa. Eu apenas executei
coisas sem importância
-
Quer dizer então
que realmente Andressa está metida nisso tudo?
-
Olha Joaquim, foi
ele quem planejou tudo. Ela foi quem arquitetou as coisas no mínimo detalhe
para no fim ficar com Ruan, e ele assumindo o Clã, ela seria a Najasta daqui
Najasta – aquela a quem todos querem bem; a mais bela, a
mais despojada, a mais faceira. Aquela que fosse unida a um Barô/Gagú, seria a
escolhida a ser sempre a melhor dentre todas. Era uma antiga tradição, mas que
na verdade significava muita responsabilidade pois uma Najasta é a responsável
pela harmonia e das tarefas das mulheres do clã. Porém Andressa via este
“título” como sendo seu por direito, além de que uniria isso a estar ao meu
lado.
-
Como assim Igor?
Mas Ruan so poderia assumir com a morte de Antônio Rodrigues....sim....e ele
está morto de certa forma não tão bem explicada...
-
Olha Joaquim não
disse nada disso. Não sei se ela teria coragem de fazer algo à Antônio Rodrigues....
-
Mas tudo se
encaixa....e o resto? Quero saber tudo!
Igor começou a relatar tudo que sabia. Joaquim à medida
que ia escutando mais se preocupava com o rumo que a sobrinha tomou e o que ela
fora capaz para realizar seus sonhos.
-
Igor tira teus
pertences do cavalo, que o levarei para a o curral....
-
Como assim
Joaquim, tenho que seguir viagem....
-
E irá, mas só
depois de falar ao conselho sobre tudo isso. Aguarde-me aqui, que irei pedir
audiência com os membros para que possa explicar tudo isto.
Igor, sem saber como proceder, obedeceu à Joaquim. Retirou
todos seus pertences e aguardou enquanto Joaquim ia até o conselho. Os minutos
se sucederam e mil e uma idéias afloraram em sua mente. Arrepende-se de ter
traído Andressa e lembrou o que poderia acontecer com ela caso o conselho
determinasse sua responsabilidade nos atos. ELA PODERIA SER MORTA! Passou a mão
pelos cabelos e desesperou-se. Olhou para a garrafa com vinho que Andressa o
presenteou e começou a beber. Nisso uma idéia o transpassou.
-
É claro! Pensou ele. Era só ele não estar presente ao
conselho que ela estaria salva. Ele precisava então partir para que nada de mal
a acontecesse. Enquanto sorria aliviado levava a garrafa mais uma vez à sua
boca e absorvia aquele vinho. Colocou tudo numa postarca, uma espécie de
bolsa grande e rumou em direção à leste. Sua intenção era chegar ate o vilarejo
e lá adquiria um cavalo e partiria para o oceano. Ficaria por lá alguns anos e
depois, bem depois retornaria. Porém, ao dar exatamente 10 passos à frente, na
direção do seu destino, um mal estar se apoderou de seu abdômen. Uma queimação surgia e
começava a deixá-lo zonzo. Seus passos foram diminuindo e ele já percebia suas
forças o deixando. Precisou se ajoelhar,
deixando cair a postarca que com o
movimento abriu-se a todos os objetos que estavam dentro ficaram esparramados.
Sua visão começava a embaçar e o organismo, como que por uma ação automática
começava a provocar vômitos tentando, em vão, retirar aquilo que o consumia
lentamente. Lembrou das palavras de Andressa: - “pode levar esta garrafa de vinho ai também, sei que gosta, preparei ela
especialmente para você! Ele não
podia acreditar no que ela fez. Mas ali já não havia mais o que fazer, seu
destino estava consumado, e ele com um ultimo suspiro, já com o tórax ao chão,
levantando a mão direita em direção ao clã, disse:
-
Por que Andressa?
Seu corpo já sem vida permanecia imóvel no solo. Joaquim,
voltando ao local que Igor deveria estar, preocupou-se a ver a alguns metros um
corpo no chão. Ao se aproximar e tocar e percebeu que Igor já sem vida era a
única testemunho do fato ocorrido à ele próprio. Ele, porém, percebeu ao lado
do corpo a garrafa de vinho já vazia, pois ao cair esta derramou todo o liquido
que ainda havia. Joaquim molhou seus dedos na ultima gota que ficara na garrafa
e cheirou. Podia ate haver vinho ali, mas com certeza outra coisa também
existia.
-
Igor.....
Joaquim chamou outros para ajudar a levar o corpo de Igor
para ser sepultado. Ao pegar as coisas que estavam n o chão reparou um pequeno
baú recheado de jóias. Juntou tudo e levou para o conselho para dar a noticia e
apresentar o que fora recolhido.
-
Cália, Igor está morto!
-
Morto? Como
assim?
-
Eu, depois de ter
conversado com ele e ter me revelado tudo que já contei à vocês, voltei ao
lugar marcado para trazê-lo e o encontrei caído com uma garrafa de, o que
parecia ser vinho, mas que em nada se aproximava de um vinho mesmo, disso tenho
certeza.
-
Então quer dizer
que ele foi envenenado?
-
Isso é quase
certo!
-
E quem suspeita
que foi o autor?
-
Bem....
-
Quem...anda
digas.....
-
Cália, não posso
afirmar, não há certeza...
-
Entendi! Suspeita
que tenha sido Andressa!
-
Não disse isso,
mas....
-
Mas tudo leva a
crer...
-
Sim...é verdade
-
Detenha Andressa
para que seja submetida ao conselho!
-
Mas Cália, isso
significa
-
Sim! Significa
que ela pode ser responsabilizada...
-
Mas se isso
acontecer...
-
JOAQUIM! Calma!
Primeiro vamos esclarecer tudo. Estamos passando por um momento delicado. Com a
morte de Antônio Rodrigues, o sumiço de Ruan,
estamos oficialmente sem uma liderança, dessa forma o conselho se torna
responsável por tudo aqui.
-
Eu entendo!
-
Não se preocupe.
Faremos tudo com maior rigor. Agora a traga!
-
Esta bem.
Àquela altura Igor já teria bebido tudo. Era o momento de
pegar de volta as jóias e partir para encontrar a mim e para viverem em paz, só
ela e eu. Andressa se preparava para partir quando ouviu uma voz a chamando!
-
ANDRESSA! PARA
AI!
-
Tio...o que foi?
-
ANDRESSA, EM NOME DO CONSELHO
EU A DETENHO PARA QUE SEJA SUBMETIDA AO CONSLEHO E ASSIM AVALIADA SUA
PARTICIPAÇÃO NAS MORTES DE CARLA, PABLO, IGO E ANTONIO RODRIGUES!
-
Como assim Tio?
Estás louco?
-
Infelizmente não.
AGORA Estenda suas mãos, preciso levá-la com o antaro!
ANTARO – uma corda
branca de um metro de comprimento com um pequeno laço em uma das extremidades,
onde era utilizado para levar suspeitos perigosos.
-
Mas Tio? Não
preciso ir amarrada com um antaro!
-
Desculpe
Andressa, essas são as ordens! Você está detida e será submetida ao conselho
para avaliar sua culpa nos fatos.
-----------------------------------------------------Fim
da décima quinta parte-------------------------------------------------
Eu já havia desacelerado desde que deixei Andressa com os
corpos de Carla e Pablo para trás. A imagem deles não saia da minha cabeça.
Carla....Pablo....e ANDRESSA. A deixei para ser responsabilizada em meu nome.
Não poderia permitir isso. Já passava e muito da hora que ela havia dito que
iria me encontrar. Algo aconteceu. E eu sabia muito bem o que seria. Eu
precisava voltar. Ela não poderia ser incriminada. Com a morte de meu pai eu
era o líder agora, esclareceria tudo e daria uma salvo à Andressa para que ela
não fosse responsabilizada por aquela tragédia. Montei em niegro e partir em direção
ao clã.
Ao chegar ao clã fui recebido por Joaquim.
-
Ruan...que bom
que retornou. Estávamos à sua espera.
-
Joaquim! Preciso
ver Andressa, falar com ela, você a viu?
-
Sim. Ela está
detida pelo conselho
-
Como assim?
Porque?
-
Cália determinou
porque as mortes que ocorreram precisam ser esclarecidas
-
Mas o que
Andressa tem a ver com tais mortes?
-
Pelo que Igor me
contou, muito.
-
O que Igor falou?
Quero falar com ele
-
Não pode!
-
Porque?
-
Ele também esta
morto, foi envenenado.
-
IGOR? MORTO?
-
Sim
-
Por Santa Sara...
-
Agora Ruan me
esclareça umas coisas....
Eu ia relatando o que me vinha na cabeça, apenas para
despistar Joaquim e para poder ir ver Mercedes e saber de Andressa.
-
Bem Joaquim, que
eu me lembre é isso!
-
Ruan, fique por
perto, comunicarei Cália e ela provavelmente vai querer falar com você!
-
Joaquim não tenho
nenhuma pretensão de sair, afinal, com a morte de meu Pai é meu dever assumir o
clã!
-
Sim Ruan, isso é
claro, mas em condições normais.
-
Como assim?
-
O fato é que
houve um lapso temporal, em que ficamos sem um líder. Entre a morte de seu pai
e os acontecimentos, não havia, formalmente ninguém responsável. Por isso
Cália, se viu obrigada a conclamar o
conselho e este, na ausência do Barô, é quem se responsabiliza por tudo aqui!
-
Eu sei disso, mas
eu estou aqui!
-
Mas Ruan, até que
tudo seja esclarecido, sabes bem, que não poderá haver a lhama!
Lhama – Festa de
proclamação do novo líder.
-
Eu sei...eu sei!
Está bem. Irei descansar e depois falarei com Cália!
-
Faça isso!
Fui em direção à tenda de minha irmã. Precisava de um
lugar onde pudesse colocar minha cabeça no lugar. Ao chegar à entrada Mercedes
não escondeu a preocupação. Veio ao meu encontro e como de costume me recebeu
com um abraço
-
Como temi por tua
vida meu irmão!
-
Mercedes, não se
preocupe, hoje isso é o que menos me importa. Estou angustiado com tudo que
aconteceu, preciso ouvir-te, preciso que me julgue e me condene pois não sou
mais digno de teu respeito e amor!
-
Meu irmão, quanto
ao respeito não te preocupes, isto é algo como um riacho perene. Quando os
motivos para enche-lo e dar-lhe vida existem, ele retorna vigoroso como sempre.
Porém quando surgem novamente razões que o secam, ele se vai, mas apenas por um
período. Mas quanto ao meu amor por ti, não podes querer nada porque nem eu
mesmo controlo. Desde o início, quando me dei por mim, ainda muito pequena o
tinha como modelo e protetor. Com o tempo crescendo ao teu lado e tu sempre
doce e dedicado aos meus desejos tive a certeza que sou uma privilegiada por
esta nesta vida ao lado teu como quem você mais confia.
-
Sim tens razão.
Apenas em ti me sinto leve, eu mesmo, sem amarras, sem máscaras. Preciso contar
para ti tudo que realmente aconteceu, desde minha partida, preciso que saibas
de tudo.
-
Venha, entre
Ruan, me conte.
Iniciei minha confissão a fim de receber minha condenação
e quem sabe cumprir a penitência que o destino estaria guardando para mim. Após
falar tudo que precisava aguardei as palavras de Mercedes.
-
Ruan, és sem
dúvida quem tem muito a responder por atitudes impensadas, imaturas. Não
poderia ter feito o que fez com Carla, ainda mais depois do que aconteceu entre
os dois. Não poderia nunca ter se
envolvido com uma
gadgés. Colocou nossa tradição e vida em risco com isso. Deixou-se
iludir pelo seu orgulho e vaidade, e não percebeu ate onde Andressa o
manipulava. Até mesmo Igor, como não
percebeu como ela agia por trás de ti? Foste muito ingênuo, enganado por
sua própria presunção. És responsável pelo que aconteceu à Pablo, mas teu
estado no momento do ocorrido justificam muito suas ações. Tinha acabado de
chegar de um cativeiro onde fora duramente torturado. Seu estado emocional
estava muito abalado, por isso digo que Andressa aproveitou-se diretamente
disso para ter domínio sobre ti. Ela foi ardilosa e premeditada. Nunca mediu as
conseqüências dos atos para ter o que queria. Quanto a Carla ela precipitou-se em não acreditar no
que você sentia. Desesperou-se sem ao menos dar u a oportunidade de que você se
pronunciasse. Agiu sem pensar. Foi uma fatalidade.
-
Minha irmã,
preciso consertar o que fiz, para que Andressa não seja responsabilizada pelo
ocorrido.
-
Ruan, a esta
altura não sei bem ate onde o que venha a revelar pode salvá-la.
-
Como assim? Ela
não foi a responsável pelas mortes!
-
Sim, mas o que
Igor revelou vai bem mais do que apenas as mortes. O envolvimento dela com
aqueles abastardos de ciganos que foram contratados para te seqüestrar, as
jóias roubadas sabe-se lá de onde, além da morte de Igor.
-
Isso tudo é
muito, agora para eu pensar, mas gostaria e ter com ela para tentar entender
tudo isso, podes me ajudar, falando com Cália que me autorize?
-
Está bem Ruan, se
desejar estar com ela antes de ir ser ouvido pelo conselho, arrumarei para que
isso aconteça.
Assim fui levado para onde Andressa estava. Ao chegar lá,
a percebi sentada num canto, na caverna andorra. O local era grande e um tanto
escuro, apesar das lamparinas à óleo de cabra que usávamos. Andressa não
percebeu quando entrei no lugar, apenas quando me coloquei à sua frente
-
Andressa?
-
Ruan? O que está
fazendo aqui?
-
Voltei para esclarecer
tudo Andressa. Não é justo você ser responsabilizada por coisas que fui eu quem
fez!
-
Como assim Ruan?
-
Andressa, Igor
contou tudo, tudo que havia sido planejado, arquitetado por você e ele.
-
TUDO?!! Como
tudo? Não entendo?
-
Andressa, pare
com este jogo. Eu já sei de tudo também. Que você arquitetou inclusive meu
sequestro, que acabou não dando certo.
-
Aquele idiota!
Sempre inventando coisas
-
Andressa, pare
com isso...Igor está morto!
-
Morto?! Que pena,
pois poderia esclarecer tudo! Agora estou aqui apenas por conta de devaneios
daquele pobre infeliz! Espero que esteja arrependido onde estiver!
-
Andressa porque
simplesmente não me conta tudo?
-
Se não acreditas em mim Ruan , não posso fazer
nada!
-
Andressa, não é
uma questão de acreditar ou não, agora isso não faz muito sentido. A questão é
que irei me reunir com o conselho e esclarecerei tudo!
-
Pare com isso
RUAN! Será que não pensa nem um pouco? Não quero sua pena...não quero que faça
algo por mim por estar com a consciência pesada.
-
Andressa não
deixarei você responder por algo de minha responsabilidade!
-
Como pode? Como
pode depois de tudo querer se comportar assim? Achas que tens sempre que agir
desta forma? O certinho? Não preciso de sua compaixão, isso eu não quero!
-
Isso você não tem
poder para decidir!
-
Escute-me, Ruan!
Se fizer isto nunca poderá assumir o que é seu por direito, será, no mínimo
banido do clã!
-
Não me importo!
-
Preste atenção
homem! Eles não tem provas quanto à minha participação nisso tudo, nada, apenas
o que um morto falou, e nem foi ao conselho foi a Joaquim que foi dito tudo. No
máximo, serei banida!
-
Mas não posso
deixar que seja responsabilizada por algo que eu fiz!
-
Seu tolo! Sendo
banida, assim que você assumir seu lugar de direito poderá me aceitar de volta
e tudo ficará bem!
-
Não sei Andressa.
Não me sinto bem com isto! Não ficarei tranqüilo
-
Pare com isto
Ruan! Já disse, não preciso de sua compaixão, mas se quiser ser um pouco
inteligente agirá como te disse!
-
Vou pensar em
como agirei!
Sai dando as costas para Andressa, que ficara muito decepcionada
com minha postura. Ela esperava que eu finalmente a pegasse em meus braços e
dissesse que faria de tudo para salvá-la. Como não o fiz, novamente ela tomou a
postura que costumava ter com todos, demonstrando que não precisava de ninguém,
e que era muito mais inteligente e esperta que os outros. Quando sai, ela ainda
aguardou alguns minutos na esperança de
que voltasse. Como não ficou refletindo no que havia me afirmado. Um frio na
barriga trouxe uma medo e uma angustia que ela nunca sentira. Temeu o pior.
Deitou-se num canto e tentou adormecer, esperando que tudo que preverá
acontecesse. Sai dali e fui descansar, pensando nas palavras de Andressa. No
fundo eu torcia para que aquilo realmente acontecesse pois aliviaria um pouco
minha consciência, principalmente perante Carla, pois sua irmã não seria
responsabilizada e eu ainda poderia aceita-la de volta.
-------------------------------------------------------------Fim
da décima sexta parte-------------------------------------------
Não consegui dormir depois de
tudo que havia acontecido. Depois de tudo que tinha passado e feito até ali.
Tantos passaram pela minha frente. Nada fora como eu havia pensado. Se pudesse
ao menos voltar, poderia mudar muitas coisas. Agora estava ali, a poucos
minutos de uma julgamento onde eu não poderia fazer nada para salva-la. Se
antes fiz tudo para fugir disso agora era refém deste sentimento que me
apertava o peito, estava sufocado. Sabia qual seria o desfecho.
-
Ruan, Cália chama para a reunião do conselho. É
chegada à hora. me alertou Joaquim.
-
Estou indo Joaquim!
Ao chegar à tenda do conselho,
todos os "anciões" que faziam
parte do conselho estavam lá. Cália á mais velha, Joaquim, Antonio,
Vinha e minha irmã Mercedes, quem era agora, após meu sumiço, a líder, temporária
daquele Clã, até meu irmão retornar de sua jornada, ou eu reassumir o posto.
Mercedes talvez tenha sido quem mais me apoiou depois que tudo foi descoberto.
Esteve ao meu lado e entendeu sobre meus sentimentos, porém nada revelou.
- Estamos aqui hoje reunidos
para tratar do futuro de um dos nossos membros - Andressa. É sabido o que
ocorreu, mas farei um breve relato. Descobrimos que a jovem foi a responsável
pelo assassinato direto de Igor, estefoi encontrado morto com as jóias que pelo
que sabemos são roubadas. Sabemos também, pelo relato de Igor que esta pode ter
provocado o acidente que vitimou sua irmã Carla e seu bebê. Encontramos Seu
punhal ao lado do copo de Pablo... - meu espírito gelou. Não temos
dúvida do que essa moça é capaz, mas o que
falta descobrir é o que a motivou, qual o objetivo dela nisso tudo, para
que então possamos determinar seu futuro. Por isso Ruan está aqui hoje. Ele é
quem mais teve contato com ela, dos que ainda estão vivos e poderá nos ajudar a
elucidar tais mistérios.Vamos agora escutar o que Ruan tem a dizer:
- Bem, o que posso dizer que
já não falei à vocês? Pablo, quando o encontrei estava caído numa poça de
sangue e aquele punhal ao lado. Estava indo em direção à estrada que leva às
"fals", e vi o cavalo dele parado à distancia, me aproximei e vi a
cena que já descrevi, de Carla....
- Logo depois o que você fez?
questionava Cália
- Depois? bem....ehhh...ahhhh
eu fui para leste pois procurava quem tinha feito tal coisa com Pablo.....
- e Andressa? Ela já estava
lá quando chegou?
- Não ela não estava lá, em
momento algum....
- Sim...sim, continue!
- Quanto à Carla, é tudo
muito confuso. Eu acabara de chegar ao clã depois que tinha sido dado como
morto. Ao perceber Carla com Pablo ela se desesperou e saiu em disparada com a
carroça. Fui na direção que me apontaram...
- Quem foi que lhe deu estas
informações?
- Antonio. Fui na direção que
ele me apontou, no caminho que leva à Creta. Quando me aproximei do penhasco,
via a carroça já despedaçada...lá me baixo. A cena voltava à minha mente.
Faltava me ar, minha cabeça girava. Era tudo minha culpa, era...tudo....Pablo,
Carla, Igor e meu Filho...sim meu único filho.....e agora seria Andressa, como
poderia mudar o fim desta história? como?
- Ruan...Ruan? Você está bem?
Mercedes vinha me socorrer. Não percebem o quanto isso é desgastaste? Já
perguntaram tudo isso antes...porque tudo de novo? Não percebem que ele não tem
mais nada à acrescentar?
- Sim Mercedes mas há ainda
coisas a serem esclarecidas, precisamos de mais detalhes...insistia Cália
- Por favor, vamos terminar
logo com isto!!! Ele já não agüenta mais lembrar de tudo novamente.
- Está certo Mercedes, o
conselho então vai se reunir para determinar sobre o futuro de Andressa, saiam
por favor.
O conselho era o órgão máximo de
aplicação das regras de um clã. Ficavam, em casos como este reunidos por quase
um dia. Após a decisão um lenço era fixado do lado de fora da tenda, e pela cor
era determinado o futuro daquele que era julgado. Branco, absolvição; Amarelo,
expulsão e negro, morte. Nunca houve até então um caso de lenço negro. Mas meu
coração estava angustiado. Precisava ver Andressa novamente. Não podia esperar
mais. Andressa estava aprisionada na caverna andorra, próxima ao nosso
acampamento. Tinha que ir lá e dar um jeito de vê-la. Estava me aproximando
quando vi dois irmãos ciganos à entrada vigiando. Isso não me conteria, fui
determinado ate que um braço me segurou. Era Mercedes.
- O que pretendes
fazer....está louco??
- Mercedes....não agüento
mais, preciso revê-la. Eu não sou tão santo assim e ela não é tão culpada
assim!
- Calas a boca!!!!! Já
percebi que estás enfeitiçado por ela, mas isso não a salvará. Sei
de tudo que aconteceu. Mais do que já te contei. Pablo antes de ir ao teu
encontro me contou. Ele descobriu que Carla estava Grávida de Ti....e me contou
tudo desde sua ida para a preparação para assumir o clã ate o planejamento dele
com Andressa para ele ter Carla. Não vê que essa daí planejou tudo? Tudo para
ficar contigo até o fim!!!!
- Mercedes, mas eu tenho
culpa, muita culpa. Meu ego me fez acreditar que tudo girava em torno de mim.
Todas as mulheres que tive e agora luto para salvar à única que nunca desistiu
de mim....
- E Carla? Esquece-se dela? e
de teu filho que nem havia nascido ainda???
- Sim mas não posso
voltar....e agora preciso revê-la e ajudá-la para que Carla fique em paz!
- Como? não tem como entrar
aí...
- Vai ver!
- Espera eu te ajudo....amo
você meu irmão, lembre-se disso!
- Obrigado Mercedes, também a
amo!
Mercedes chamou à atenção dos que
guardavam à entrada da caverna. Assim que estes se distanciaram um pouco
entrei.
- Andressa? Onde estás?
- Ruan é você?você voltou?
- Sim Andressa!
-.....estou com tanto medo
Ruan! Me ajude, me ajude, não posso ficar longe de ti, agora não.... Andressa
se atirava em meus braços se deixando cair. Eu ainda relutante com ela, apensar
de já me entregar no meu íntimo à única que ainda não havia me abandonado.
-
Andressa, levante-se.
Andressa estava marcada pelos
momentos até ali. Sua intocável pintura já não era a mesma, mas ainda sim seus
olhos azuis, refletiam todo a alma daquela mulher que naquele momento se
mostrava tão frágil, diferente de antes. Dessa forma a trouxe para perto do meu
peito a abracei com tanta força que ela perdeu o medo. Olhava-me atentamente
como que uma menina espera o conselho de um adulto. Ao olhar aquele semblante,
aqueles olhos, não agüentei e novamente senti aqueles lábios de encontro aos
meus. Seu beijo dessa vez era uma decisão que eu tinha querido ter. Ela estava
entregue, amena, apenas sentindo o que a tanto esperava, um beijo dado
realmente e querido por mim.
- Ahhh Ruan, quanto esperei
por isso, quanto tempo....meu amor
- Não fales Andressa, não
fales. Temos que pensar em como te tirar daqui! Estive com o conselho e não falei
nada, mas receio que eles te condenarão. Precisamos agir! Olha, estarei aqui
antes do amanhecer e darei um jeito de te tirar daqui. Assim que ouvir meu
assobio saia correndo que estarei a te esperar. Fugiremos daqui, te prometo!
- Sim esperarei então!
Assim, sai da caverna antes que
os vigias voltassem. Fui para o
acampamento preparar por tudo. Passei por Mercedes que veio me avisar.
- Ruan a sentença foi dada!
- Não me importa o que foi
decidido. Eu sei o que vou fazer!
- Ruan escuta-me, foi dado o lenço
negro!!
Nunca me esquecerei daquelas
palavras. Não sei bem como mostrei minha reação à Mercedes mas acho que nunca
poderia disfarçar.
- Como podem? Como podem
minha irmã? e a que horas irão terminar com isto?
- Quando o sol nascer!!!
- Minha irmã, escuta. Cuida
para que Carlitos assuma este clã e restabeleça a herança de nosso pai. Confio
em ti!
- Meu irmão, amo-te de todo
meu ser! por favor cuida-te!
Sabíamos que era a ultima vez que
estaríamos juntos. Nos abraçamos forte para nunca mais nos vermos novamente
daquela forma. Fui em direção ao estábulo. Aprontei meu cavalo, bagagens e
mantimentos. Fui em direção à caverna. Ao chegar lá a mesma cena. Os dois
estavam conversando num canto. Foi fácil ludibriá-los e deixa-los desacordados.
Assobiei para Andressa. Nada, Voltei a assobiar. Nada. Assobiei e chamei por
ela.
-
Andressa!!!
De repente, uma silueta. vem na
direção da saída. Era Cália.
- Muito bem Ruan, sabia que
havia mais coisas nesta história. Você sempre presente nas mortes, era mesmo
muito estranho.
-
Cália, o que??? o que está fazendo
aqui???
-
Deixei você com um vigia, sabia que
conseguiria algo à mais. Daí foi fácil prever seus passos! Vamos concluir a
sentença e depois cuidamos de você!
Ao nos dirigirmos para dentro da
caverna todos estavam lá, de forma já planejada por Cália. Andressa, estava em
pé, com as mãos amarradas para trás. Em sua frente uma mesa, onde havia três
objetos. Um cálice com vinho - provavelmente envenenado; uma corda onde seria
enforcada e uma venda, onde seria degolada. Todos estavam em volta de Andressa,
num grande círculo. Eu estava à frente dela, com o coração à boca. Cália, em
seu momento de triunfo, foi à frente de Andressa e começou a falar.
- Andressa Romã Cortes, o conselho declarou
que és responsável direta pelas mortes, porém descobrimos que Ruan sabia de
tudo e escondeu deste conselho tais informações. Assim como responsável por
este conselho determino que Jose Ruan Carlos deve ser sentenciado à exclusão do
clã e a vergonha das 7 navalhadas. Chamava-se 7 navalhadas mas consistia
em que todos os membros do clã fariam um corte com a mesma faca ao longo do
corpo do excluído.
-
Quanto à você Andressa, podes escolher o que vai
fazer! Disse Joaquim mostrando à ela os objetos sobre a mesa e soltando
suas mãos. Andressa assustada, ainda olhava tudo em volta, e não acreditando no
que via só procurava os meus olhos que neste momento estava recebendo os
abraços de Mercedes que muito aflita com a resolução do conselho só chorava.
-
Eu? disse Andressa olhando à todos em volta. Eu
escolho a vida. Pois a muito luto por algo que não me era permitido nesta vida.
Desde sempre amo a este HOMEM. Lutei contra tudo e contra todos, e faria
tudo novamente apenas para receber o que recebi hoje. Hoje ele me mostrou que
tudo que fiz valeu à pena. Sinto por vocês pobres de espirito que nunca vão ter
o que tenho...aahahahahahahaahahahahahahaahahah, coitados, coitados.
Andressa voltava e mostrar a
mesma força de antes. Encarava a todos sem medo e com ar de desafio. Era assim
que eu havia conhecido e não gostava dela desta forma. De uma vez ela tomou o
cálice fatal à mão.
-
É isto que desejam? Aqui esta minha
escolha, mas não para o deleite de vocês, pois estarei liberta pelo desejo de
vocês e mais próxima ao meu amor.....ahahahahaahahahahahahahaahahahahaha
Com a mesma força bebeu o liquido
mortal. Continuava a sorris alto, mas ia aos poucos cambaleando para trás
mostrando que o liquido já começava seu efeito sorrateiro. De um pulo, e com
lágrimas aos olhos me desvencilhei dos que me seguravam e amparei Andressa
antes que caísse ao chão.
- Ruan, sabias que não em
deixarias tombar, sempre soube. Desculpe por tudo que lhe causei, mas amo-te
mais do que a mim mesma. Apenas quis você para mim, e hoje tive isso.
- Andressa, não falas, por
favor...
- Logo meu amor estarei
liberta de tudo isto e ficarei ao teu lado mais ainda...ahhhhh ...como
doi...ahhhhhhh
- Andressa olhas para
mim......eu......eu...eu...!!!Não consegui pronunciar as palavras e se as
tivesse pronunciado não saberia se foram ouvidas por ela, pois quando terminei a frase seu corpo já
estava sem o brilho tão vivo que possuía nos olhos, estavam estáticos apenas.
- Idiotas!!!!!! Eu
gritava fazendo minhas palavras serem ecoadas na caverna.Mas ninguém se
importou. O corpo de Andressa foi tirado da caverna e eu fui levado e amarrado a uma árvore que havia na
entrada da caverna. Fui despido. E assim, amarrado, com os braços abertos em
forma de asas, eu estava à espera da minha sentença. Um por um, todos passavam
e faziam o mesmo, um corte pelo meu corpo. A primeira Cália ainda disse.
- És uma vergonha para nosso
clã. Seu pai estaria desgostoso. falou e me cortou o rosto, abaixo dos
olhos. Foi a primeira. Ao todo foram 35 cortes. O ultimo foi o de Mercedes. Eu
já todo ensangüentado, e ela a me olha com lágrimas nos olhos.
- Meu irmão, meu amore, sinto
tanto por isto. Tu sempre me ajudou e ensinou tanto. Desculpe não ter podido
ajudar mais. Escuta. Teu cavalo estarás a tua espera. Não olhes para trás pois
Cália não deixará isto barato. Fuja para onde possa e onde não tenhamos mais
informações tuas. Falando tais palavras em meus ouvidos, fez o ultimo
corte em minha palma da mão, como se um tratado estivesse sendo feito. Estava
fraco e desmaiei. Acordei com os homens me tirando as amarras e me colocando no
cavalo, com minhas roupas amontoadas na cela. senti o vento batendo em minhas
costas e o cavalo a galopar pelos campos. Ao poucos escutava o barulho da água
do riacho que passava perto. Instintivamente o cavalo parou para beber água.
Cai dentro dos rio e para minha sorte a água me ajudou a recobrar a
consciência. Me lavei o que podia. Me Vesti. Olhei novamente para a planície
que tantas vezes corri e sorri com meus amigos. Olhei na direção do
acampamento. Não era mais a mesma emoção. Olhei à Frente. Sentia que muito
ainda me aguardava. Deixei aquela região com o coração ainda apertado e com
a pele e a alma marcadas por tudo que
havia ocorrido.
-
Realmente, o
senhor prometeu uma história que prenderia nossa atenção e cumpriu o combinado!
Falou um dos jovens que me
interpelaram naquela cidade que eu estava passando. Já havia transcorrido 7 anos desde que tudo acontecera.
-
Conforme
combinamos aqui está as moedas que prometemos!!
O mesmo jovem, estendeu a mão e ao meu movimento jogou as
moedas pelo chão. Eu, vestido com uma túnica que cobria minha cabeça, não
levantava os olhos para que eles não visem meu rosto marcado.
-
Vai, pode
pegar as moedas.....vai...ou não vai querer?
-
Meninos, não
quero problemas.....
-
Vai velhote pode
pegar....
Ao estender o braço e curvar meu corpo para pegar as
moedas senti um chute atrás de mim que
me fez ir ao chão. Ao olhar para cima, do chão os jovens perceberam meu rosto
todos cheio de cicatrizes e assustados correram. Cobri rapidamente novamente
minha cabeça e peguei as moedas. Ao
tentar me levantar novamente escutei uma passos. Pensei que mais uma vez os
problemas voltariam, quando ouvi um doce e meiga voz.
-
Aqui moço, pegue
esta moeda!
Quando levantei os olhos me
deparei com Uma criança, uma rapazinho que estendia sua mão me ofertando a
moeda.
-
Quanta bondade
sua....
Quando retirei a moeda percebi algo na mão do
menino que me deixou antônimo. As linhas das mãos daquele menino se
encontravam, formando uma estrela, como as que eu tinha. Olhei para ele,
indagando-o sobre aquilo, quando ele, muito espertamente respondeu:
-
É uma marca que
tenho de nascença. Minha mãe disse que é muito especial pois mostra quem eu
sou!
-
Como se chamas
garoto?
-
JUAN CARLOS
Tremi. Retirei minha luva e
mostrei a ele a mesma marca, na minha mão.
-
que bom moço,
também tem uma marca igual. Assim o senhor nunca se esquecerá de quem és, não
é?
-
É verdade garoto,
é verdade.....
-
JUANITO! ANDA,
vamos temos que voltar!
Uma voz, muito familiar o chamava de volta. Levantei os
olhos e a vi, novamente, de pé, de frente a carruagem, num lindo vestido azul
claro, e um chapéu de igual cor, com detalhes brancos. Estava exuberante.
-
Tenho que ir,
minha mãe me chama, boa sorte moço!
-
Adeus pequeninõ,
que Santa Sara esteja sempre contigo!
E assim ele foi. Sem saber o que tinha feito, mas me dando
uma nova chance de olhar para frente e esquecer o passado. Ainda fiquei olhando
para Natália, enquanto meu filho voltava apressadamente para ela.
-
quem era o seu
amigo, meu filho?
-
Mamãe não sei, só
sei que ele tinha uma marca na mão como a minha!
-
Como assim
Juanito? Sua estrela, na mão esquerda?
-
Sim, exatamente
igual...
-
Ruan.....
-
Quem mamãe?
-
O que o moço
disse para você meu filho?
-
Hummm...perguntou
meu nome, e disse assim: “que santa Sara esteja contigo”
-
RUAN!!!!!!
Quando Natália olhou para o lado que eu estava não
encontrou mais nada, apenas a rua vazia. Seu coração acelerou. Aos poucos foi
se acalmando feliz por saber que eu conhecera meu filho. Deu um sorriso e
voltou, junto a Juan Carlos para a carruagem. Eu, continuei minha jornada em
busca daquilo que não encontrara. Minhas esperanças estavam renovadas por algo
que não entendia, apenas me alegrava o fato de que teria a chance de encontrar
o que tanto me fazia falta....